“A tensão continua com as criações de grandes figuras da arte portuguesa - várias delas contam com apresentações quase monográficas, o que permite uma compreensão alargada do seu trabalho.”
Art Newspaper, junho 2022
A exposição itinerante Tudo o que eu quero. Artistas portuguesas de 1900 a 2020, que teve lugar na Fundação Gulbenkian entre 2 de junho e 23 de agosto de 2021, viajou até ao Centre de Création Contemporaine Olivier Debré, em Tours, onde estará disponível até 4 de setembro de 2022. A exposição insere-se na Temporada Portugal-França 2022 e é uma iniciativa do Ministério da Cultura.
Com curadoria de Helena de Freitas (CAM) e Bruno Marchand (Culturgest), a exposição leva à cidade francesa cerca de 200 obras da autoria de 40 artistas mulheres portuguesas, realizadas entre 1900 e 2020. O título da exposição – em francês «tout ce que je veux» – inspira-se em Lou Andreas-Salomé, uma autora que desenvolveu uma das mais marcantes reflexões sobre o papel da mulher no espaço social, intelectual, sexual e amoroso.
Tal como aconteceu na edição de Lisboa, que foi considerada uma das melhores exposições de 2021 por vários críticos, o Centro de Arte Moderna estará presente em Tours através da cedência de mais de 50 obras da sua coleção, de várias tipologias, diferentes estilos e materiais diversos.
Curadoria: Helena Freitas (CAM) e Bruno Marchand (Culturgest)
Esta exposição reúne cerca de duas centenas de obras de quarenta artistas portuguesas. O seu objetivo primordial é contribuir para a reparação do sistemático apagamento a que o trabalho destas artistas — como tantas outras, noutras geografias — foi desde sempre votado. Debruçando-se sobre a produção ocorrida entre 1900 e 2020, "Tudo o que eu quero" segue um conjunto de eixos que revelam uma clara vontade de afirmação das artistas perante os sistemas de consagração dominantes: o olhar, o corpo (o seu corpo, o corpo dos outros, o corpo político), o espaço e o modo como o ocupam (a casa, a natureza, o atelier), a forma como cruzam fronteiras disciplinares (a pintura e a escultura, naturalmente, mas também o vídeo, a performance, o som) ou a determinação com que avançam na utopia de uma construção transformadora, de si mesmas e daquilo que as rodeia.
Esses temas surgem com clareza ao longo do percurso, mas escapam à rigidez de uma narrativa fechada. Não foi um guião prévio que determinou a seleção de obras. Foram as obras escolhidas que comandaram o fluxo da exposição, que nos conduziram aos temas, que sugeriram diálogos entre artistas de diferentes gerações e que descobriram as suas mais produtivas ligações. "Tudo o que eu quero" é um corpo orgânico atravessado por correntes, tensões, deslizamentos semânticos e formais — são eles que nos conduzem ao longo das 16 salas e que permitem que a exposição se expanda e ative no espaço e no tempo.
Estas artistas conquistaram o seu lugar, contra todos os obstáculos, pela força da qualidade das suas propostas. Celebrar esta conquista exige resistir à abordagem ilustrativa que uma representação genérica (mulheres artistas) e nacional (portuguesas) sugere. Mas obriga também a que não esqueçamos que, em pleno século xxi, nada está consolidado no que à igualdade de género diz respeito, que estas obras são instâncias de um longo esforço coletivo pelo direito à existência artística plena, e que este esforço deposita no espectador uma esperança e uma responsabilidade acrescidas.
Artistas: Aurélia de Sousa, Mily Possoz, Rosa Ramalho, Maria Lamas, Sarah Affonso, Ofélia Marques, Maria Helena Vieira da Silva, Maria Keil, Salette Tavares, Menez, Ana Hatherly, Lourdes Castro, Helena Almeida, Paula Rego, Maria Antónia Siza, Ana Vieira, Maria José Oliveira, Clara Menéres, Graça Morais, Maria José Aguiar, Luísa Cunha, Rosa Carvalho, Ana Léon, Ângela Ferreira, Joana Rosa, Ana Vidigal, Armanda Duarte, Fernanda Fragateiro, Patrícia Garrido, Gabriela Albergaria, Susanne Themlitz, Grada Kilomba, Maria Capelo, Patrícia Almeida, Joana Vasconcelos, Carla Filipe, Filipa César, Inês Botelho, Isabel Carvalho, Sónia Almeida.
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