Révolutions Xenakis: Entrevista a Benjamin Weil
A exposição Revolutions Xenakis teve lugar na Philharmonie de Paris, no Musée de la Musique. Porquê trazer esta exposição para o CAM?
Iannis Xenakis era um homem extraordinário, uma espécie de homem renascentista. Formou-se como engenheiro e matemático. Trabalhou depois como arquiteto no ateliê de Le Corbusier, antes de abraçar uma carreira como compositor. As suas composições sonoras foram sempre influenciadas pela arquitetura e pela matemática, embora também estivesse interessado em sons provenientes de culturas não ocidentais e tivesse fortes ligações à Grécia antiga. A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) estabeleceu uma relação com Xenakis através do seu Departamento de Música nos anos de 1970 e encomendou-lhe numerosas obras. Muitas outras obras suas foram estreadas em Portugal na Fundação. Por ocasião do centenário do seu nascimento, parecia evidente a participação da Fundação na celebração da sua obra. O CAM colaborou com a Gulbenkian Música: os nossos colegas apresentaram uma série de concertos, enquanto nós escolhemos trazer esta grande exposição de Paris.
Porque não pode o público perder este encontro com a figura de Xenakis?
Com curadoria de Mâkhi Xenakis, a filha do artista – em colaboração com Thierry Maniguet, curador no Musée de la Musique em Paris –, a exposição conta a história do homem que revolucionou o campo da música e inventou a música eletrónica. É uma oportunidade única de se conhecer o homem e a sua obra. É realmente interessante ver, por exemplo, como inventou novos sistemas de notação, para além da partitura musical tradicional, enquanto tentava espacializar a experiência da música. O espaço foi uma componente essencial da sua investigação. Também criou instrumentos musicais e compôs peças que são executadas por músicos que tocam rodeados pelo público, proporcionando-lhe uma experiência única do som. A sua pesquisa sobre a espacialização da música começou com o Pavilhão Philips, concebido enquanto ainda trabalhava com Le Corbusier, em 1958. Foi apresentado na Expo ’58, em Bruxelas. Depois de ter deixado de trabalhar com o famoso arquiteto suíço, Xenakis prosseguiu com esta pesquisa e produziu uma série de Polítopos, experiências sonoras imersivas que incluíam também um espetáculo de luz. Um dos mais famosos foi o Polytope de Cluny, apresentado em Paris em 1972. Também produziu o Diatope (também conhecido como Polytope de Beaubourg), que foi apresentado em 1978 em frente ao Centre Pompidou (Paris).
O que pode o visitante encontrar na exposição? O que gostaria de destacar?
A exposição desdobra-se em capítulos que guiam os visitantes através da vida e da obra de Xenakis. Há algumas peças em vídeo que complementam uma grande seleção de documentos: partituras, notas, fotografias, maquetas, objetos pessoais, etc. Talvez a parte mais extraordinária da exposição seja quando, a cada 20 minutos, as luzes do espaço se apagam e uma peça de som e luz de c. 3 minutos é apresentada. Foi produzida por ExperienS, um estúdio francês de design e engenharia para a arte digital,e a banda sonora é um excerto do Diatope.
Para si qual o legado de Xenakis para a música contemporânea?
Numerosos músicos e artistas sonoros foram enormemente influenciados pelo trabalho de Xenakis, que também foi um pioneiro no campo da música eletrónica. Em 1966, fundou a EMAMu (Equipa de Matemática e Automatismo Musical), que depois foi conhecido como CEMAMu (Centro de Estudos de Matemática e Automatismo Musical). Em 1979, foi lançando o sistema informático UPIC, uma máquina de hibridizar desenho, síntese sonora e música que lhe permitia traduzir imagens gráficas em resultados musicais e aprofundar a sua pesquisa sobre as composições espaciais.
Os seus escritos são também essenciais. O CAM publicou um pequeno livro contendo textos essenciais de Xenakis e sobre a sua obra publicados pela primeira vez em português.
A 26 de Março, como finissage da exposição, o CAM irá apresentar «Arquitectura de sons», um evento que contará com a performance de uma obra inédita de Xenakis, juntamente com outras de Ângela Lopes e Diogo Alvim, dois jovens compositores portugueses, bem como uma de Cândido Lima, considerado um dos melhores especialistas da obra de Xenakis neste país.