Conservação e acondicionamento customizado
O princípio basilar da conservação de uma coleção de arte, esteja em reserva ou em exposição, é a sua manutenção em ambiente estável e seguro.
As reservas do Centro de Arte Moderna possuem condições específicas para a salvaguarda das obras, sendo a principal a segurança física do espaço e a sua acessibilidade limitada a pessoal autorizado. O controlo ambiental é monitorizado diariamente e mantido em intervalos admissíveis de temperatura e humidade relativa.
Após cada exposição, as obras são cuidadosamente limpas de poeiras superficiais e acondicionadas de forma a minimizar deteriorações provocadas por fatores extrínsecos, como pó, sujidade e humidade. Para evitar estes três agentes, a maioria das peças (pinturas e esculturas) são envolvidas em películas PET (polietileno tereftalato), um poliéster estável que protege a peça e permite também observá-la por ser um material transparente.
No caso de esculturas e de instalações com formatos complexos ou protuberantes, são elaboradas soluções mais personalizadas. Cada obra é acondicionada de forma a ser protegida contra eventuais impactos físicos e devidamente identificada. A equipa de museografia, juntamente com conservadores, preparam proteções para arestas e zonas mais frágeis, caixas à medida com travamentos no interior e bases com rodas.
A escultura UW84DC#14, de Richard Deacon, apresenta uma forma voluptuosa e complexa, comparável a uma apara de lápis. Trata-se de uma peça de grandes dimensões, em madeira contorcida e alumínio. Para evitar o seu manuseamento ao máximo construiu-se uma plataforma sobra rodas e protegeram-se todas as zonas de contato da peça com a base.
A obra em ferro Burning in A Forbidden Sea, de Rui Chafes, tem naturalmente um peso considerável e uma forma extremamente difícil de manusear. Neste caso, optámos por assentar a peça num pufe, sobre um plinto. Assim é possível movê-la facilmente das reservas para a galeria, posicioná-la no local e içá-la com cabos de aço, sem necessidade de a manusear diretamente.
Outra obra volumosa e de grande peso é a construção em ferro de Alfredo Queiroz Ribeiro O sr. e eu éramos grandes amigos, com seis pontos de contacto com o chão e uma forma bandeirante com várias arestas proeminentes. Deparámo-nos novamente com a complexidade do seu manuseamento, o que levou a estudar uma estrutura que facilitasse a sua deslocação e, ao mesmo tempo, que a protegesse de impactos. A equipa de museografia desenvolveu uma estrutura que, para além de a sustentar, ocupa menos espaço físico.
O acondicionamento customizado é um processo criativo e evolutivo adaptado a cada obra. Ponderam-se as melhores soluções para minimizar ao máximo o manuseamento direto, facilitar o acesso e evitar a necessidade de força humana na deslocação das peças.
Elizabeth Martins
Conservadora-restauradora