Querubim Lapa

Portimão, 1925

De seu nome completo Querubim Lapa de Almeida, nasceu em Portimão. Em 1940, a visita à Exposição do Mundo Português marca-o pelo confronto com expressões artísticas pluridisciplinares. Com formação em escultura e em pintura, a diversidade será a marca da sua obra, em que se destaca a criação na cerâmica, com soluções plástica e tecnicamente inovadoras, além de um aturado interesse pelo desenho, pintura, tapeçaria e gravura.

Inicia a sua formação plástica, em 1941, com o pintor Trindade Chagas. Matricula-se, no ano seguinte, na Escola de Artes Decorativas António Arroio, formação que complementa com a que recebe na Escola Industrial Afonso Domingues. Nesse mesmo ano, expõe com Pedro Oom e Júlio Gil, no Instituto de Cultura Italiano (Lisboa), na que seria a primeira de inúmeras colectivas que integra, em Portugal e no estrangeiro (em 1953, três anos depois de iniciar a sua participação nas Gerais de Artes Plásticas, é um dos artistas escolhidos para representar Portugal na Bienal de S. Paulo). Entre 1947 e 1950 frequenta o curso de escultura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, sendo aluno de Leopoldo de Almeida. Em 1950, muda-se para o Porto, passando a estudar na Escola Superior de Belas Artes desta cidade, estudando com Barata Feyo. Concluirá o curso de Escultura em 1953 (em 1978, finalizará o de Pintura), na ESBAL, iniciando então carreira docente.

 

Os anos de estudo revelam já na sua obra uma clara marca autoral no gosto do traço límpido e do trabalho lumínico, da escolha maioritária das mulheres do povo como figuras centrais. O neorrealismo dos anos 45 e 46, com a sua série de mendigos, corrobora o seu interesse por temas ligados ao quotidiano, seja na série inspirada no Circo, em 1948, ou em obras como a pintura As Costureiras, de 1949.

 

Em 1954, começa a sua colaboração com a fábrica de cerâmica Viúva Lamego, onde lhe é cedido um atelier. Nesse mesmo ano, realiza o painel de azulejos de padrão para a fachada das galerias do Centro Comercial do Restelo. Seguem-se-lhe inúmeros trabalhos ao longo das décadas, estabelecendo parcerias com diversos arquitetos e criando painéis para edifícios públicos e privados. Dessa obra, destacamos o painel concebido para a Reitoria da Universidade de Lisboa (1961), o da Avenida 24 de Julho, Lisboa, (1994) e o da estação Bela Vista, do Metropolitano de Lisboa (1998).

 

Em 1955, começa a exercer a docência na Escola de Artes Decorativas António Arroio, introduzindo métodos pedagógicos e técnicas inovadoras. Envolvido desde o início no projeto da Gravura — Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses (criada em 1956), é na sua sede que realiza em 1960 a primeira exposição individual, expondo pintura, gravura e cerâmica.

 

Nos anos 60, abandona a pintura, a que regressa nos meados da década de 70, quando opera, por sua vez, um interregno na criação cerâmica — área em que tinha, entretanto, desenvolvido uma aturada experimentação técnica e formal, com vasto relevo nacional e internacional, levando mais longe as pesquisas abstracionistas que iniciara em pintura no final da década anterior. Então, em entrevista a Rocha de Sousa, explicará as opções de seguir uma arte ou outra por necessidades geradas pelo próprio processo criativo. Com efeito, se entre 1956 e 1973, a cerâmica o absorve quase em exclusividade, nos anos 70, uma viagem pelos museus e ateliês de artistas na Europa, fá-lo retomar a vontade de pintar, afirmando então que a cerâmica lhe parecia, ao tempo, limitada. Depois de, em 1974, ter criado uma série de pinturas de homenagem aos Nenúfares, de Monet, uma nova fase muito politizada surge nos últimos anos da década (1974-78), mostrando um “pintor de intervenção” — como se define.

 

Nas séries “Massacres”, “Assaltos” e “Conferências de Imprensa”, Querubim reage à avalanche de notícias violentas apresentada ao tempo na imprensa nacional e internacional. Figuras de rostos cobertos, corpos como destroços, devolvem-nos imagens perturbadoras. Servidas por uma paleta de francos contrastes, nascidas de um gesto mais voluptuoso, estas figuras angustiantes abandonam a estilização passando a ostentar uma dramática expressividade.

 

Nas últimas três décadas, a sua produção retomou uma via mais claramente dedicada à cerâmica que tem sido objecto de vários estudos e exposições. Encontra-se representado no Museu de Arte Moderna de Tóquio, no Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado, Museu Nacional de Soares dos Reis, Museu Nacional do Azulejo e Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

 

Emília Ferreira

Junho de 2013

Atualização em 10 março 2016

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