Fernando Lemos
Sem Título
Lisboa, Portugal, 1926 – São Paulo, Brasil, 2019
Filho de mãe rendeira e pai marceneiro-antiquário, Fernando Lemos sempre deu importância às mãos, tendo desde cedo despertado para o desenho, na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1938-1943), e para a pintura, ao frequentar o curso livre da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). No Brasil, na década de 50, foi na exploração do desenho e do grafismo que o artista concentrou a sua maior energia, fruto ainda da actividade profissional que tinha desenvolvido em Portugal como artista gráfico, desenhador e impressor de litografia industrial, para, no final da década seguinte, voltar à pintura, que já tinha experimentado nos anos quarenta, porém agora de um modo mais informado e emancipado.
A fotografia apareceu na carreira de Fernando Lemos como uma necessidade da criação de uma identidade, de uma imagem, que, na sua óptica, Portugal não tinha na altura. De facto, no fim da década de 40 e início de 50 a fotografia portuguesa dividia-se entre a foto-reportagem, o pitoresco, e a propaganda, patrocinada pelas publicações do Estado Novo, e a imagem veiculada pelos salões fotográficos, com preocupações de concurso, e que espelhavam a estética dos foto-clubes amadores, entretanto formados. Os artistas politicamente mais activos, organizados em torno do neo-realismo, não tinham na fotografia uma forma de expressão plástica consistente, e a presença desta nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (1946-1956), por eles organizadas, foi esparsa, não tendo constituído um vector importante de intervenção estética.
Fernando Lemos teve a intuição de perceber que havia laços fortes de companheirismo, criatividade, partilha e cumplicidade, entre um corpo de intelectuais, escritores, artistas e gente do teatro, alicerçado num mesmo sentimento de liberdade. Havia uma identidade nova que nascia como um «contra-poder» de um Estado Novo da censura, e que se opunha a esse «modo funcionário de viver», como dizia Alexandre O’Neill. Havia por isso necessidade de fazer o registo dessa geração não como simples retratos fotográficos de estúdio, mas com uma estética que se perfilasse com esse espírito de liberdade e aventura, valores que Fernando Lemos encontrou no Surrealismo. Foi o único a fazê-lo de uma forma consciente e consequente. Porém Lemos nunca se reviu como fotógrafo, antes considerando-se como um «primitivo da fotografia», e afirmando em entrevista: «[…] sou um poeta, artista plástico, responsável e irresponsável por imagens. Fui atrás da fotografia como poderia ter ido atrás da cerâmica […]» .
Essa faceta multidisciplinar ficou aliás bem patente logo na sua primeira exposição (1952), em parceria com Fernando Azevedo e Marcelino Vespeira , em que participou com 20 óleos, 22 guaches, 28 desenhos e 55 fotografias, apresentando-se no catálogo não com os seus dados biográficos, mas como uma poesia da sua autoria, vertente igualmente presente e importante na obra do artista. A polémica provocada por esta exposição (uma casa de móveis de luxo totalmente «remodelada» por um conjunto de artistas jovens, os abaixo assinados do comércio local para fechar a exposição, as filas dos curiosos à volta do quarteirão, os comentários jocosos dos artistas consagrados), levou a uma agitação fora do normal no âmbito da criação artística, tendo sido suficiente para provocar uma atenção redobrada da polícia política que passou a controlar os movimentos e encontros daqueles jovens.
Foi este mau estar e o sentir-se cerceado na sua liberdade, que levou Lemos a equacionar, no ano seguinte, a sua saída de Portugal, país ao qual regressaria de visita só depois do 25 de Abril de 1974. A sua ligação à distância a Portugal manteve-se entretanto através da sua intervenção no periódico Portugal Democrático (1956-1975), criado por exilados políticos portugueses no Brasil, e mais tarde como colaborador – de uma maneira irregular mas logo no seu primeiro número (Fevereiro de 1971) – da revista Colóquio/Artes (“Carta de São Paulo”). A sua expressão plástica também não passou despercebida em Portugal tendo exposto desenho na Galeria de Março em 1954. No ano seguinte voltou novamente ao desenho expondo com Vespeira e Cargaleiro na Galeria Pórtico, em 1959 participou na mostra 50 Artistas Independentes na SNBA, em 1961 integrou a II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1973 participou na Exposição Inaugural Colectiva da Galeria Quadrum e, no mesmo ano, expôs pintura na Galeria Dinastia.
Porém, aquelas imagens fotográficas de uma geração (alguns exilados por circunstâncias políticas) que resistiu como pôde à censura, e que constituía efectivamente uma expressão importante da vanguarda intelectual e artística portuguesa da altura, só puderam ser revistas depois do 25 de Abril de 1974. Foi pela mão do crítico Fernando Pernes que, ao organizar a exposição A Fotografia na Arte Moderna Portuguesa, em 1977, foram recuperados, dos anos cinquenta, as ocultações de Fernando Azevedo e as fotografias de Fernando Lemos. Mais tarde, em 1983, as suas imagens voltaram a Lisboa para integrarem a mostra Refotos – Anos 40, na SNBA. Mas a exposição de referência da sua obra fotográfica foi À Luz da Sombra, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1994, com a edição de um catálogo com grande parte da produção de Lemos e textos críticos. Mais recentemente, e no seguimento de uma retrospectiva da sua obra fotográfica na Pinacoteca de S. Paulo denominada À Sombra da Luz – À Luz da Sombra (2004), foi organizada em Sintra, no Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo, a exposição Fernando Lemos e o Surrealismo (2005), que integrou algumas peças do movimento surrealista português pertencentes à Fundação Cupertino de Miranda, obras de artistas internacionais ligados a este movimento pertencentes à Colecção Berardo, e uma mostra substantiva da obra fotográfica de Fernando Lemos.
De permeio ao seu labor artístico ficou a criação, ainda em Lisboa, da Galeria de Março (1952-1954), em parceria com José-Augusto França, as encomendas da decoração de pavilhões da representação brasileira em feiras internacionais (Nova Iorque – 1957, Tóquio – 1963), a actividade docente na Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de S. Paulo, a presidência da Associação Brasileira de Design Industrial, e a criação de uma editora de literatura infantil em 1963 (Giroflé), entre outras actividades. Em 2019 Fernando Lemos vivia em S. Paulo e continuava a sua actividade artística com o mesmo espírito multidisciplinar que sempre o orientou afirmando aos 82 anos, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo: «Escrevo como se fizesse fotografia, faço fotografia como se pintasse, pinto como se estivesse fazendo desenho […] As pessoas têm dificuldade de me encaixar em algo, não sabem onde me colocar.»
José Oliveira
Outubro de 2010
Sem Título
Quem me dera
Logotipo doméstica de Kioto
Bairro das lanternas em Kobe
Surpresa com o Palácio – Tokyo
Eli, brasileira de Tokyo
Massagistas de vacas
A procura de sombra antiga
Três acessos a Kioto
Sem trânsito
Convite a visitação – Tokyo
Design Final
Retrato da professora Cláudia Lemos
Criança aluna não vai sozinha
Todo fora Dentro
Silos particular
Dois repousos livres
Romeu Correia
Iluminação
Eu (Auto-retrato)
Augusto Figueiredo
Pôr do Sol (variante)
Coincidência
Arpad Szenes
Sofia de Mello Breyner
António Pedro
Espera
Cena Humana
José-Augusto França
S/ Título
Albertina Mântua
Coisas de Vidro
Apoio I
António Pedro
Meus Pais
Maria Emília Azevedo
Coincidência
Manuela Torres
António Pedro
Espera
Pedras
Jardim
Série Memórias n.º 11
S/ Título
Coisas do Vidro
Augusto Figueiredo
António Pedro
Alberto de Lacerda
Maria Emília Azevedo
Vespeira Figurativo
Arpad Szenes
Manuela Torres
António Pedro
Espera
Pedras
Jardim
Série Memórias n.º 10
Série 1 – n.º 8
Alice Gomes e o filho, João Paulo Monteiro
Movimento
Augusto Figueiredo
António Pedro
Alberto de Lacerda
Engenheiro Pilar
Vespeira Figurativo
Manuela Torres
Luz em Obras
Lucília Farinha
Julião Soares de Azevedo
Moledo do Minho
Série Memórias n.º 9
S/ Título
Alexandre O’Neill
Colagem
Jorge de Sena
Carlos Wallenstein
Engenheiro Pilar
Luz do Olhar
Maria Helena Vieira da Silva
Luz em Obras
Lucília Farinha
Julião Soares de Azevedo
Sara Valle
Série Memórias n.º 8
Vespeira Azevedo, Fernando Lemos, Manuel Correia e Carlos Ribeiro (com pintura do seu Auto-retrato)
Banho de Sol
Glicínia Quartim
Jorge de Sena
Adolfo Casais Monteiro
Costa Pinheiro
Luz do Olhar
Maria Helena Vieira da Silva
Sophia de Melllo Breyner
Cena Animal
Jorge de Sena
Julião Soares de Azevedo
Sara Valle
Série Memórias n.º 7
Hospital de Bonecas
Sophia de Mello Breyner
Luz Teimosa
Fernando de Azevedo
Costa Pinheiro
Luz do Olhar
Janela
Jorge de Sena
José Blanc de Portugal
Refotos (Anos 40)
Série Memórias n.º 6
Pintura
Augusto Figueiredo – A Recusa
Sophia de Mello Breyner
Cena Esfolada
Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva
Costa Pinheiro
Natal do Talho
Coincidência (Variante)
Sophia de Melllo Breyner
Fundo do Quintal
Mário Cesariny de Vasconcelos
José Blanc de Portugal
Série Memórias n.º 5
Ateliê Vespeira
Alexandre O’Neill
Roupa Lisboeta
Alexandre O’Neill
Pôr do Sol
Natal do Talho
Manequim de Exposição
Mario Cesariny de Vasconcelos
Moledo do Minho
Série Memórias n.º 4
Visita Estranha I
Auto-Retrato
Alexandre O’Neill
Hoje há Passarinhos
José Viana
Pôr do Sol
José Viana
Nora Mitrani
Manequim do Vespeira
Fernando de Azevedo, Vespeira e etc…
Mécia de Sena
Série Memórias n.º 3
Pedaço Minhoto
Adolfo Casais Monteiro
Intimidade dos Armazéns do Chiado
Maria Helena Vieira da Silva
A mão e a faca
O atelier de Saint – Jacques (Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, Fernanda França, José Augusto-França, Novais Teixeira, António Dacosta)
Manequim do Vespeira
Fernando de Azevedo, Vespeira e etc…
Roberto de Araújo
Série Memórias n.º 2
Luz Armada
Fernando de Azevedo, Vespeira, Adolfo Casais Monteiro
Vespeira, Nora Mitrani, Alexandre O’Neill
Rua do Sol ao Rato (A minha primeira fotografia)
Maria Helena Vieira da Silva
A mão e a faca
José Viana
Nora Mitrani
Nu de Ensaio
Memórias de Tecido
Roberto de Araújo
Série Memórias n.º 1
Os pais de Vespeira e amigos
Augusto Figueiredo
Jacinto Ramos
Sós em Moledo
Mécia de Sena
Carlos Ribeiro
O atelier de Saint-Jacques (Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, Fernanda França, José Augusto-França, Novais Teixeira, António Dacosta)
Teresa Corista
Espreitando o quadro de Moniz Pereira
Nu de Ensaio
Nudez Dança
Alice Gomes
Capa Desenhos “Memórias”
Carlos Ribeiro
Gesto emoldurado
Nu de Surpresa
Jacinto Ramos
Fernando de Azevedo, Pilar, Vespeira
Mécia de Sena
Carlos Ribeiro
Fundo da Horta (Variante)
Teresa Corista
Espreitando o quadro de Moniz Pereira
Nevoeiro de Moledo
Nudez Dança
Alice Gomes
Série Memórias n.º 14
Concerto dos Manequins
Gesto emoldurado
Relance
Auto-retrato de Manequim
Alberto de Lacerda
Alice Gomes
António Pedro
Fundo da Horta (Variante)
Glicínia em S. Pedro de Alcântara
Mão de Sombra
Visita Estranha II
Cena Humana
Alice Gomes
Série Memórias n.º 13
Nu Lento
Apoio II
Eu (Auto-retrato)
Alberto de Lacerda
Adolfo Casais Monteiro
José Cardoso Pires
Fundo da Horta (Variante)
Glicínia em S. Pedro de Alcântara
Mão de Sombra
Composição com Telas
Cena Humana
José-Augusto França
Série Memórias n.º 12
Romeu Correia