Emmerico Nunes
Filles du Calvaire
Lisboa, Portugal, 1888 – Sines, Portugal, 1968
Um dos nomes próprios de Emmerico Nunes reside na maneira como conduz o traço contínuo, certeiro e perfeitamente dominado com que capta e transcreve os usos e costumes dos seus contemporâneos bávaros na revista alemã Meggendorfer Blätter (Munique, 1888-1944), de que foi colaborador principal entre 1911 e 1924. Semelhante maestria implica uma grande cumplicidade entre o artista, as personagens e os temas tratados, inscrevendo-se aqui a ascendência alemã herdada pelo lado da mãe. Nos desenhos humorísticos daquele tempo perpassa todo um pequeno mundo local com que Emmerico se identifica – e é precisamente desta identificação que decorre a excelência da obra, única no panorama da historiografia da arte portuguesa. Não se encontram com igual constância nos desenhos que executou para a imprensa portuguesa, o à-vontade, a justeza de execução e a qualidade gráfica dos desenhos deste período, facto a que não será alheio o desconforto existencial do artista, depois do regresso definitivo ao país natal, na década de 1920.
A historiografia da arte portuguesa, que Alfredo Margarido em tempos epitetou de historiografia de patriotas, tem uma dívida para com artistas «entre pátrias» como Emmerico. Se, por um lado, ela se serviu da sua longa colaboração na revista alemã e do reconhecimento do artista português numa praça europeia de renome para daí colher alguns louros, ela sempre o subalternizou, com igual ligeireza, classificando-o de artista «pequeno-burguês» e «naïf». Numa altura em que, após uma longa noite, importava inscrever a arte portuguesa no panorama da historiografia moderna, o que, por sua vez, dentro de imediatas preocupações comparativas em termos estéticos, passaria pela compilação de indícios que permitissem aproximar a produção nacional dos movimentos modernos internacionais identificados como tal, a historiografia do final do Estado Novo e do pós-25 de Abril não encontraria, na obra de Emmerico, os almejados sinais de modernidade. Rotulando-o de «conformista» arrumava-o numa prateleira, até hoje.
Volvidos agora 40 anos e com o recuo que o tempo permite, terá chegado a altura de rever e de dar novos enfoques à vastíssima obra de Emmerico Nunes, que, para além de centenas de desenhos humorísticos publicados em periódicos alemães, suíços, holandeses, espanhóis e portugueses, inclui ampla e interessante produção de pintura (retrato, auto-retrato, paisagem), toda ela por estudar e cuja qualidade plástico-estética foi, do ponto de vista de outros pintores e admiradores da sua obra, sempre superior ao desenho humorístico.
Isabel Lopes Cardoso
Maio de 2010
Filles du Calvaire
sem título
O irmão e as duas irmãs do pintor
sem título (O pintor e o modelo)
Sem título
Rebelva (Carcavelos)
Porta Rústica
Paisagem
sem título
Brooklyn N.Y.
sem título (O pintor Francis Smith)