André Guedes
AIROTIV
Lisboa, 1971
A mobilização política de reclamar e de contestar os espaços, redefinindo a ideia do objecto artístico, deve fortemente ao teatro, envolvendo o espectador como agente que deslinda pistas, relaciona os elementos e participa nos processos criativos que constituem a própria obra. Protagonista, o corpo é inscrito numa relação íntima no palco de espaços burocratizados ou situações familiares que remonta de propósito, sempre locais de interacção social, cuja construção se faz pela deslocação de objetos pré-fabricados e encontrados, explorando tropos da sociedade pós-industrial, como o não-lugar (capturada em cenários semi-públicos como elevadores, transportes ou salas de espera) e o arquivo (tirando de contextos administrativos como escritórios e lojas, inventários e arquivadores, invocando o lugar da memória e da rotina), como AIROTIV (2009). Tendo como eixo central a mediação entre as obras e os públicos, na dimensão viva do teatro, Guedes articula a arte como ferramenta de transformação e comentário social, através de estratégias de recontextualização do espaço, de deslocamento e reapropriação dos materiais, de destabilização do lugar do espectador, e da tensão entre os textos e os contextos pensados para cada obra, em plataformas experimentais que encontraram sucessivas mostras e projetos em Portugal, Espanha, Itália, França ou no Reino Unido.
Actualmente, André Guedes vive e trabalha em Lisboa.
Afonso ramos
Janeiro de 2013