- Naxos, Sicília, c. 460 a. C.
- Prata
- Inv. N231
Moeda grega
Estamos na presença de uma obra-prima singular e audaciosamente progressiva, caracterizada por um estilo severo de transição, entre padrões arcaicos e clássicos. Os tipos são dedicados a Dioniso, cuja cabeça ocupa o anverso.
Para se apreender o que há de notável na pujante figuração deste deus importa apreciar o tratamento dos seus pormenores, tais como a coroa de hera, a abertura ocular, a linha das sobrancelhas, as pálpebras, os lábios, o cabelo e o seu penteado, o bigode bífido, a barba, a marcação do músculo externo-cleido-mastóideo, a linha de recorte do pescoço, a leve expressão de sorriso arcaico.
O reverso, com a figura completamente nua e itifálica de um sileno (ou sátiro), de corpo inteiro, sentado no solo, de frente, a três quartos para a direita, ultrapassa mesmo o êxito do anverso. É na elaborada posição adotada para o conjunto tronco-membros e no tratamento anatómico de tais elementos que reside o maior interesse. Ultrapassam-se as duas dimensões do vulgar desenho para se percorrer a aventura da profundidade, do encurtamento, do escorço e perspetiva. Tal caráter escultural é possível pelo excecional relevo de todo o trabalho.
A circunstância de o artista, bem versado na arte ateniense, ter recolhido inspiração em pinturas de vasos de figuras vermelhas e em obras de escultura não diminui a grandeza de ter sido capaz de verter tais inspirações, com tanta originalidade e êxito, para a diminutíssima área circular de um cunho monetário.
Coleção G. Picard. Adquirida por Calouste Gulbenkian, através de Sambon, na venda da Coleção G. Picard, Paris, 14 de março de 1923.
Ø 27/29 mm; Peso 17,38 g
Robinson 1971
E. S. G. Robinson, A Catalogue of the Calouste Gulbenkian Collection of Greek Coins. Lisboa: Museu Calouste Gulbenkian, 1991, vol. I, p. 77 (text); vol. II, pl. XXIV.
Lisboa 2001
Museu Calouste Gulbenkian. Lisboa: Museu Calouste Gulbenkian, 2001, p. 24, cat. 9.