Embora se trate de uma versão abreviada do texto de Cervantes, «tirada do original espanhol», as trinta e uma estampas, gravadas a água-forte que a integram traduzem um notável exercício de entendimento do texto original do romance. Para tal contribui a mestria de Charles-Antoine Coypel, pintor do rei de França (Luís XV), que no ano seguinte à sua admissão na Academia (1715) deu início a um projeto que viria não só a marcar a sua carreira artística, como a criar o conjunto de desenhos, que se tornariam a matriz da imagem do Quixote. A isto se deveu a execução de cartões para a Suite de Don Quichotte, série de tapeçarias a ser executada pela Manufatura dos Gobelins (1716-1751), composições que Coypel posteriormente mandou passar a gravura (1721).
A edição de Pierre de Hondt, que integra, entre outros, composições de Cochin ou Boucher, surge em contexto cortesão e as suas ilustrações, como cenas de género, sugerem a influência de Watteau. Tal como é referido na dedicatória ao Sereníssimo Príncipe Real da Polónia, duque de Saxe, François Xavier, a obra destinava-se «ao divertimento das gentes de gosto e mesmo às mais sérias», utilizando um estilo refinado e elegante, em que a presença de alegorias, no início e no final do livro, poderá apontar para uma leitura de natureza moral de cariz didático, ainda que sem compromisso ou sujeição a um programa iconográfico preestabelecido.