- Turquia, séculos XVI-XVII
- Rússia (?) (bordado)
- Seda, fios de prata dourada
- Inv. 2078
Capa de cavalo
De todo o conjunto de tecidos do mundo islâmico reunido por Calouste Gulbenkian, é de destacar o notável núcleo de sedas Kemha e veludos Çatma da Turquia otomana dos séculos XVI e XVII, da maior importância pelo seu colorido, pela variedade dos padrões e pelo excelente estado de conservação das mais de cinco dezenas de peças que o integram. Na Turquia otomana a decoração dos tecidos é constituída essencialmente por elementos vegetalistas e/ou geométricos, onde a cor vermelha predomina, associada muitas vezes ao ouro e à prata.
Os principais centros de produção e comércio situavam-se em Brussa e Istambul, sendo dessa proveniência as sedas e veludos da Coleção Gulbenkian. A importância desta produção têxtil na economia do Império Otomano era tal que os tecidos representavam metade das transações efetuadas, constituindo, igualmente, moeda de troca de grande valor nas relações diplomáticas e comerciais. Entre essas relações comerciais, devemos destacar as efectuadas com a Europa, especialmente com a Itália, através de Veneza, mas também, e de grande importância, as transações entre a Turquia e a Rússia.
Era frequente a utilização dos tecidos preciosos, de origem otomana, na decoração de palácios e ambientes da corte moscovita, sendo até muitas vezes essas sedas e veludos reutilizados na criação de trajes e alfaias da corte ou da igreja, confecionados por alfaiates e bordadores russos. Para além dos trajes seculares, dos paramentos e de muitos outros artigos para as cerimónias da corte executados com tecidos importados do Oriente, estes eram ainda utilizados para a confecção de xairéis, caparazões e outras peças decorativas usadas para o enriquecimento das montadas dos soberanos ou membros da aristocracia russa.
Esta capa de cavalo, de seda vermelha espolinada a seda e prata dourada com repuxados também a prata dourada, de origem otomana, teria sido bordada na Rússia, à maneira turca. A decoração de grandes flores (túlipas) com folhas, cravos e outros motivos vegetalistas insere-se na habitual geométrica decorativa otomana. Confecionada com vários fragmentos de tecido cosidos de modo a criar o presente formato, podemos destacar nesta capa três partes de maior dimensão que correspondem às costas e frentes de um kaftan, tendo os fragmentos mais pequenos sido parte das mangas daquele traje turco.
No acervo dos museus do Kremlin, em Moscovo, encontram-se hoje ainda inúmeras peças representativas deste intercâmbio entre a Rússia e a Turquia.
A. 142 cm; L. 180 cm