Taça com pé «Minai»
A produção de cerâmica na Pérsia seljúcida concentrou-se essencialmente em dois grandes pólos, que eram também dois dos mais importantes centros urbanos no final do século XII e no início do século XIII: Caxã e Ray, a capital dos seljúcidas (reinantes na Pérsia entre 1038 e 1184). As duas cidades eram responsáveis pelo grosso da produção da cerâmica de luxo, de brilho metálico e minai.
A produção de cerâmica na Pérsia ascende ao século XI, herdeira de uma tradição de objectos luxuosos com raízes no mundo islâmico desde o século IX, produção que se desenvolveria de forma bastante significativa no Egipto fatímida. É provável que o apogeu da cerâmica iraniana dos inícios de Duzentos se deva também à migração de ceramistas egípcios aquando do declínio desta dinastia, entre os finais do século XI e a primeira metade do século XII.
Certo é que uma das grandes referências para a produção cerâmica na Pérsia, como em boa parte do mundo islâmico, continuou a ser a cerâmica chinesa – com a sua porcelana fina e uma decoração em que o azul dos desenhos e o branco do fundo são dominantes –, importada através dos portos do Iémen e transportada pela Península Arábica para a bacia do Mediterrâneo, a Pérsia e a Ásia Central.
O desenvolvimento técnico que permitia pintar sob e sobre o vidrado mate contribuiu grandemente para o sucesso da cerâmica minai – ou de esmalte –, em que cada peça constituía um precioso objecto de aparato. As peças eram sujeitas a um complexo processo de cozedura, uma primeira vez a temperaturas mais elevadas e uma segunda a temperaturas abaixo dos 600 graus, para permitir a fixação dos pigmentos mais frágeis, incluindo o ouro.
A peça em análise, decorada predominante a azul e branco, mas contendo também pigmentos verde e negro manganês e apontamentos de dourado, apresenta, ao centro, um personagem sentado, que parece escutar uma narração (representando provavelmente o encomendador da peça), rodeado por quatro figuras também sentadas, provavelmente dois narradores – as figuras diferenciadas, a verde e negro, que assumem uma postura mais activa, encenada – e outros dois ouvintes – a azul, como a figura central, e numa pose mais contemplativa.
Entre as figuras foram desenhadas palmas decorativas, em disposição radial. Na borda interior foi introduzida uma pseudo-inscrição em caracteres brancos sobre uma barra de fundo azul, numa altura em que a caligrafia assumia um valor decorativo cada vez mais significativo na arte islâmica.
Na borda exterior, uma inscrição em caracteres nashki reproduz um poema do famoso poeta Motanabbi, que morreu no ano 968 d. C., situação comum na iconografia persa dos séculos XIII-XV, que representa com frequência poemas e temas heróicos na cerâmica e em iluminuras:
No dia da separação tal foi a minha angústia que o temor tornou o meu corpo velho e decrépito. E a distância trouxe uma separação entre os meus olhos e o sono suave. A minha alma reina num corpo que se tornou delgado como um vime. Se uma brisa passar pela minha roupagem nada ficará a descoberto – para descrever a minha magreza bastará dizer que eu sou um ser que tu não descobrirás se eu não te opuser resistência.