Paul Verlaine, «poeta maldito»
O valor da palavra na sua dimensão poética e musical assume em Paul Verlaine um estatuto da maior relevância. O preciosismo da sua escrita, que lhe permite através do artifício poético convocar ideias ou mesmo sensações, coloca-o numa plataforma privilegiada entre os seus pares simbolistas, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé.
Se o caráter inquieto do poeta contribuiu de forma indelével para a sua escrita, a conversão ao catolicismo, o alcoolismo, a relação tempestuosa com Rimbaud, os internamentos hospitalares e a passagem pela prisão fazem igualmente parte da sua agitada biografia.
À exceção dos «Poemas Saturninos» (1866), que não integram a Coleção Calouste Gulbenkian, podemos sinalizar no conjunto de obras exposto atualmente no Museu alguns dos momentos-chave do percurso literário de Verlaine. Refira-se ainda que a intenção de Calouste Gulbenkian ao reunir estas obras não foi literária, mas sim o gosto pela raridade das edições e a qualidade das encadernações e das ilustrações. Assim, procurou-se nesta seleção o justo equilíbrio entre revelar a poesia de Verlaine e a sua materialização gráfica através da ilustração. A exceção refere-se ao poema «Le ciel est, par-dessus…», incluído na primeira edição de Sagesse (1881), que embora não ilustrado, convoca a musicalidade sempre presente na obra poética de Verlaine, que inspirou composições de Gabriel Fauré e de Déodat de Séverac.