O Antigo Egito nos Livros Europeus do Século XVIII
A tradição bíblica e os textos de historiadores da Grécia e Roma antigas alimentaram, durante séculos, o imaginário europeu do Antigo Egito, que começa a ser repensado a partir da expedição de Napoleão Bonaparte ao Egito (1789 a 1801) e das consequentes descobertas arqueológicas.
O espírito enciclopedista do Iluminismo, e o seu esforço em compilar e tornar cada vez mais acessível o conhecimento, aliados à difusão das técnicas da gravura, permitiram que, no século XVIII, as memórias e impressões do Antigo Egito fossem divulgadas, em texto e em imagem, através de publicações como L’Antiquité expliquée et représentée en figures, da autoria de Bernard de Montfaucon. Entre os quinze volumes editados (de 1719 a 1724), nos quais o monge beneditino pretendia descrever e ilustrar, de forma exaustiva e sistemática, as civilizações antigas, cinco estão diretamente relacionados com o Antigo Egito, da religião (fig. 1) aos ritos e monumentos funerários (fig. 2), do vestuário (fig. 3) à arquitetura civil e militar.
Num desses volumes (fig. 4) e no livro de Pierre-Jean Mariette da Coleção Gulbenkian (fig. 5), estão incluídas reproduções gravadas do Mosaico da Palestrina, executado no final do século II a.C. nessa cidade dos arredores de Roma. Esta autêntica vista aérea do Antigo Egito, que acompanha o Nilo, desde o delta do rio até às zonas rochosas da Núbia, mostra-nos uma imagem contrastante. Na parte inferior, figuram cidades com arquiteturas de influência grega e navegam barcos de pesca, comércio e guerra. Já no topo, vemos territórios habitados por guerreiros e caçadores negros, rodeados por animais, reais ou imaginários.
Uma outra gravura contida num dos exemplares da publicação de Montfaucon (fig. 6) revela-nos, finalmente, a força iconográfica de certas personagens que continuamos a associar ao Antigo Egito. O adereço em forma de serpente que envolve o braço da figura (hoje considerada Ariadne) levou Montfaucon a identificar a escultura com a representação de Cleópatra, que teria posto fim à vida ao se deixar morder por uma cobra venenosa.
Do pergaminho ao papel
Expostos por períodos mais curtos devido à fragilidade dos seus materiais, os livros e documentos gráficos europeus da coleção são menos conhecidos do público. Nesta série, a conservadora Ana Campino propõe novos olhares sobre estas obras que constituíam um dos conjuntos artísticos prediletos de Calouste Gulbenkian.