Do manuscrito ao livro impresso

Livros europeus dos séculos XV e XVI na Coleção Gulbenkian

O século XV vê surgir o livro impresso, que progressivamente substitui o livro manuscrito. Contudo, a sua convivência na passagem da época medieval para a renascentista irá dar origem a uma influência mútua. Descubra o que une e o que separa estas duas tipologias de livro no texto da conservadora Ana Maria Campino.
Ana Maria Campino 11 set 2023 3 min
Do pergaminho ao papel

A imprensa nasce em meados do século XV, em Mainz (na atual Alemanha), graças às experiências de homens como Gutenberg, que alia os caracteres metálicos móveis à prensa, utilizada na produção vinícola. Através destas duas tecnologias, imprime-se sobretudo sobre papel, menos dispendioso do que o pergaminho, material empregue até então na Europa para a cópia e ilustração à mão (iluminura) de textos.

Ao permitir uma difusão mais rápida e económica relativamente ao livro manuscrito, respondendo a uma burguesia urbana e a universidades emergentes em busca de mais formas de transmissão do saber, o livro impresso, e ilustrado com gravuras sobre madeira, vai-se propagando progressivamente pela Europa dos séculos XV e XVI, acabando por substituir os manuscritos iluminados. Contudo, estas duas tipologias de livro vão conviver e influenciar-se, neste momento de transição entre Idade Média e Renascimento.

Nalguns exemplares da Coleção Gulbenkian, observam-se iluminuras do início do século XVI que incorporam querubins e enrolamentos de folhas de acanto com formas que caminham do Gótico para o Renascimento (fig. 1 e 2). Por outro lado, por comparação com o livro de horas iluminado entre 1460 e 1470 (fig. 3), vemos que o único livro impresso antes de 1501 (incunábulo) da Coleção (fig. 4) imita, na escrita e nas gravuras sobre madeira, os códigos formais do livro manuscrito, como a decoração nas margens ou os enquadramentos góticos das miniaturas.

Os livros impressos a partir do século XVI, cada vez mais protegidos e enobrecidos por encadernações a marroquim e ouro (Fig. 5), vão refletindo, a pouco e pouco, uma sociedade humanista e renascentista, com a publicação de autores fora da esfera do Cristianismo e do latim, como alguns pensadores gregos da Antiguidade. Na Coleção Gulbenkian, encontram-se, a título de exemplo, primeiras edições da obra de Flavius Josephus (fig. 6) ou de Plutarco (fig. 7), em grego ou traduzidas em francês.

Além disso, ainda que mantendo reminiscências do manuscrito medieval, tal como as iniciais ornadas, figuradas ou historiadas – gravadas, contudo, com elementos renascentistas, como meninos, por vezes alados, ou enrolamentos vegetalistas –, estes livros (fig. 8) vão assumindo uma identidade gráfica própria, tanto no desenho da letra como na composição da página. Assim, ao longo do século, surgem elementos autónomos dos esquemas formais dos manuscritos medievais, como as conclusões de texto em forma de triângulo invertido (cul de lampe), as pequenas gravuras separando secções do texto (vinhetas), frequentemente no topo das páginas, ou ainda as gravuras de página inteira, sem moldura rigidamente definida (fig. 9).

Série

Do pergaminho ao papel

Expostos por períodos mais curtos devido à fragilidade dos seus materiais, os livros e documentos gráficos europeus da coleção são menos conhecidos do público. Nesta série, a conservadora Ana Campino propõe novos olhares sobre estas obras que constituíam um dos conjuntos artísticos prediletos de Calouste Gulbenkian.

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