A participação cultural dos jovens com necessidades educativas específicas. O papel do Museu
O Museu Calouste Gulbenkian, através do seu serviço educativo, criado na década de 1970, desde cedo encontrou no trabalho com jovens, e em particular com jovens com necessidades educativas específicas, um pilar da sua ação pedagógica.
Hoje, o setor de Mediação Cultural e Estratégia Digital conta com mediadores especializados em necessidades educativas específicas diversas na sua equipa, que, para além de acolherem visitantes no Museu e nas exposições temporárias, desenvolvem projetos educativos e de investigação na área da mediação junto destes públicos.
Um destes projetos, desenvolvido entre 2021 e 2023, é I AM – Inclusive and Accessible Museums (Museus Inclusivos e Acessíveis). Enquadrado no âmbito do programa europeu Erasmus+, o projeto juntou o Museu com cinco outras instituições – o Mu-zee-um (Bélgica), a Fundação do Muro de Berlim (Alemanha), o MUSAC (Museu de Arte Contemporânea de Léon, Espanha), o VABUMU (Museu das Ocupações e da Liberdade, Estónia) e o creACTive (Macedónia do Norte).
Ao longo do projeto, em encontros presenciais e online, os parceiros partilharam e discutiram metodologias de trabalho, procurando dar respostas uma importante pergunta: como podemos encorajar a participação cultural e tornar as instituições culturais mais atrativas e inclusivas para os jovens em contextos de vulnerabilidade?
Conjugando a experiência e criatividade destas diferentes instituições – museus de arte, museus de história, monumentos, uma organização para o ensino das artes e uma organização juvenil –, I AM surgiu na sequência de TANDEM (2017 – 2020), um projeto europeu anterior. Esse projeto teve como objetivo principal a tomada de conhecimento das boas práticas pedagógicas das instituições parceiras junto dos públicos com deficiência no seu todo.
Identificada a necessidade de se trabalhar em profundidade com o público jovem, e de proceder a uma investigação renovada e a uma testagem de metodologias pedagógicas atualizadas junto deste público em particular, foram acordados dois eixos de trabalho para todo o grupo de parceiros.
O primeiro foi o desenvolvimento, avaliação e testagem de modelos distintos de experiências virtuais do público jovem no âmbito da sua participação cultural. Esta investigação resultou na produção de cinco tipologias de experiências virtuais: visita interativa ao vivo, visita interativa pré-gravada, perspetivas ao vivo, perspetivas pré-gravadas e sala de aula virtual.
Neste eixo, o Museu desenvolveu a metodologia para a sala de aula virtual, com a atividade Curador por um Dia. Os conteúdos destas atividades revelaram-se suficientemente flexíveis para permitir aos públicos jovens em situações diversas de vulnerabilidade – física, social ou intelectual – uma fruição e a participação cultural plenas.
O segundo eixo de trabalho teve como foco a criação de ferramentas sensoriais dirigidos especificamente a jovens com deficiência intelectual. Aqui, foi privilegiada a mediação das coleções e património das instituições parceiras através dos cinco sentidos – olfato, visão, tato, audição e paladar.
Dada a sua prática de longa data junto do público com necessidades educativas específicas, nomeadamente no campo da deficiência intelectual, o Museu optou por dirigir a sua investigação para o desenvolvimento de materiais pedagógicos que apoiassem este tipo de mediação e de aproximação à coleção.
Assim, se a maioria dos parceiros desenvolveu um percurso sensorial específico, o Museu concebeu, testou e avaliou material pedagógico que permitiu a introdução de ferramentas de exploração sensorial nas salas de exposição de maneira inclusiva e acessível, sem com isso comprometer a segurança dos participantes e das obras de arte expostas.
Projetos europeus pioneiros como o I AM permitem-nos dedicar tempo e atenção a assuntos que, servindo um segmento reduzido do público visitante dos museus e instituições culturais, requerem uma especialização e conhecimento profundos de metodologias, técnicas e conteúdos pedagógicos por parte das equipas de mediação.
Deste modo, o Museu e os seus parceiros contribuem não só para a partilha de boas práticas profissionais, como também para um modelo social em que os públicos jovens em contextos diversos de vulnerabilidade podem exercer o seu direito à participação e fruição cultural de forma plena.
A reflexão e conclusões do projeto I AM, aqui resumidas, estão disponíveis para uma leitura mais aprofundada no e-book I AM – boas práticas pedagógicas e artísticas.