Auto-retrato
Esta tela, pintada três anos após o regresso de José Escada a Portugal, marca uma inflexão na obra do pintor. Por esta altura, o trabalho levado a cabo em torno das microfiguras simétricas passava para um outro registo material (em papel, metal ou plexiglas, por exemplo), como no caso de Sem Título (Coleção Moderna, inv. 95P347), desenvolvendo-se a obra pictórica por duas diferentes vias. Numa, a composição é pensada a partir do signo ou da figura simétrica que ganha escala ocupando a totalidade do suporte, como em O grande feiticeiro; noutra, Escada estrutura a superfície pictórica a partir de planos que enquadram silhuetas a negro, surgindo por vezes apontamentos que remetem para as microfiguras que nunca abandonou definitivamente.
Neste autorretrato, vemos um exemplo da segunda forma de composição anteriormente descrita, devendo-se referir o paralelo com um outro no qual o rosto do pintor surge na tela sensivelmente na mesma posição relativa e com um tratamento semelhante, embora enquadrado por uma figura que organiza a superfície, ou seja, explorando essa outra via de organização do plano em que pinta.
Porém, dever-se-á atentar à silhueta da mão segurando um pincel que surge abaixo do rosto, e que pode ser entendido como afirmação de Escada enquanto pintor.
André da Silveira Rodrigues