O grande feiticeiro
Em O grande feiticeiro encontramos uma superfície tomada pela forma que a organiza, sugerindo-nos um aumento da escala das microfiguras simétricas que Escada foi compondo ao longo de parte dos anos de 1950 e dos anos de 1960.
Encontram-se parecenças com essas explorações anteriores na simetria da forma, na sua relação com o fundo ou até na pincelada contínua que desenha o signo, que repete a forma do barrete da figura desenhada de perfil. O tratamento da cor e dos seus valores lumínicos é em tudo diferente de telas como Sem Título, de 1965. Tal como em Retrato de Mário Cesariny ou em Auto-retrato, a cor apresenta-se mais crua, isto é, mais opaca e menos trabalhada.
O título parece ironizar uma figura eclesiástica que surge de perfil ao cimo da composição. Podemos entender este tom irónico pela íntima relação que a Igreja tivera com o regime do Estado Novo, principalmente sob a liderança do Cardeal Cerejeira, que abandonara o patriarcado de Lisboa em maio de 1971, mas também pela sua substituição por D. António Ribeiro que havia sido nomeado a 13 de maio de 1971, dia de aniversário das aparições marianas em Fátima. Por outro lado, tal como no autorretrato do artista referido acima, aparece-nos mais uma vez uma possível mão, símbolo constante em várias obras de Escada, que repetem esta fórmula compositiva e onde existe uma significação encriptada de profundo misticismo.
André da Silveira Rodrigues
Saber mais