Le ciel est, par-dessus…
Le ciel est, par-dessus…
Le ciel est, par-dessus le toit,
Si bleu, si calme !
Un arbre, par-dessus le toit,
Berce sa palme.
La cloche, dans le ciel qu’on voit,
Doucement tinte.
Un oiseau sur l’arbre qu’on voit
Chante sa plainte.
Mon Dieu, mon Dieu, la vie est là,
Simple et tranquille.
Cette paisible rumeur-là
Vient de la ville.
– Qu’as-tu fait, ô toi que voilà
Pleurant sans cesse,
Dis, qu’as-tu fait, toi que voilà,
De ta jeunesse ?
Paul Verlaine, Sagesse (1881)
Philippe Jaroussky (contratenor) e Jérôme Ducros (piano) interpretam Le ciel est par-dessus le toit de Dédodat de Séverac. Espetáculo gravado no domingo, 10 de março de 2019, às 18h no Studio 104 de la Maison de la Radio e apresentado por Clément Rochefort. © France Musique
Por cima do telhado, fica o céu
Por cima do telhado, fica o céu,
Um céu tão azul e tão sereno!
Para do telhado, uma árvore vê-se,
Vê-se a embalar a sua copa ao ar.
Nesse céu que se vê, um sino ouve-se,
Ouve-se docemente a badalar.
Sobre a árvore que se embala, um pássaro não voa,
Canta a sua tristeza de voar parado.
Meu Deus, Deus meu, toda a vida está ali,
Tranquila e sem mistério.
É da cidade que lhe vem
Esse rumorejar tranquilo que ela tem.
Que fizeste? Tu, que não paras de
Chorar sem fim,
Diz-me que fizeste tu, tu que estás aí,
Da tua mocidade assim?
Paul Verlaine, Sagesse (1881)
Trad. Maria Gabriela Llansol, Sageza: Paul Verlaine, Lisboa: Relógio d’Água, 1995, VI, p. 155
Paul Verlaine, «poeta maldito»