Harpócrates

Uma coleção com histórias: em 2020, partilhámos semanalmente uma história sobre a coleção de Calouste Gulbenkian. O mês de junho foi dedicado às histórias de crianças.
19 jun 2020

Harpócrates era o deus do silêncio na religião helenística, adaptado pelos gregos a partir do deus Hórus, que no Egito representava o sol nascente. Harpócrates assumia a imagem infantil de Hórus: era habitualmente representado como uma criança nua, com o indicador direito sobre a boca – enquanto os egípcios acreditavam que o dedo na boca simbolizava o seu estatuto de criança, os gregos defendiam tratar-se de uma referência ao sinal de silêncio –, usando a coroa dupla do Alto e do Baixo Egito e apresentando uma trança lateral.

O nome Harpócrates era uma adaptação de uma palavra egípcia que se traduzia de forma literal por Hórus, o menino. Tal como a sua versão adulta, o deus simbolizava também o sol recém-nascido ou a primeira força do sol de inverno.

Embora existam algumas teorias contrárias, a mais comum defende que Harpócrates seria filho de Ísis e Osíris e que teria nascido prematuro, com um problema nas pernas. As representações do deus junto da sua mãe são muito frequentes, sendo o momento da amamentação o mais comum.

Um dos símbolos associados ao deus Harpócrates era a rosa: a expressão sub rosa é usada com o sentido de confidencialidade. Esta flor era encontrada frequentemente pintada em tetos de salas de banquete romanas, sugerindo que o que ali era discutido sob a influência do vinho deveria ser mantido em segredo. Pendurar uma rosa à porta dos concílios na Idade Média também era um costume, alertando para o secretismo das decisões ali tomadas.

Estatuetas ou baixos-relevos representando Harpócrates, sozinho ou com Ísis, podem ser encontrados em vários museus internacionais, como o British Museum, em Londres, ou o Museu do Louvre, em Paris. Na coleção egípcia de Gulbenkian existem duas estatuetas de Harpócrates, uma das quais pouco conhecida, por se encontrar habitualmente nas reservas. Trata-se de uma pequena figura em bronze que representa o deus com os seus usuais atributos e que terá tido uma função funerária.

A segunda trata-se de uma estatueta em prata, datada de 305-30 a.C., exposta na galeria de arte egípcia do Museu Calouste Gulbenkian. Gulbenkian adquiriu esta obra em 1922 por intermédio do egiptólogo Howard Carter, famoso por ter descoberto o túmulo de Tutankhamon. A peça inclui os símbolos do deus e terá servido como amuleto, tendo um anel de suspensão na parte de trás.

O deus Harpócrates, 305-30 a.C. Prata. Museu Calouste Gulbenkian
Harpócrates, data desconhecida. Bronze. Museu Calouste Gulbenkian

Gulbenkian adquiriu ainda, em 1898, uma gema com a imagem de Harpócrates, que atualmente faz parte do núcleo de arte greco-romana da Coleção. De forma oval, foi realizada em ágata e serviria para um anel.


Uma Coleção com Histórias

Em 2020, partilhámos semanalmente uma história sobre a coleção de Calouste Gulbenkian. Os artigos desta rubrica referem-se à coleção do Museu Calouste Gulbenkian como Coleção do Fundador.

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