As portas de elevador de Edgar Brandt
É difícil imaginar que a fachada austera do n.º 51 da Avenue d’Iéna, em Paris, foi a casa de duas das mais impressionantes coleções particulares, a do banqueiro Rodolphe Kann e a do magnata do petróleo Calouste Gulbenkian. Quando Gulbenkian adquiriu o imóvel, em 1922, deu-se início a uma longa e exigente remodelação, cujo objetivo era transformar o hôtel particulier na sua casa de família e no lugar que acolhesse a sua coleção.
Um dos artistas que contribuiu para a decoração da residência foi Edgar Brandt (1880-1960), conhecido pelas suas ligações ao ferro como material de criação. Nascido em Paris, Edgar Brandt começou por trabalhar na área do armamento – algumas armas desenhadas por si foram copiadas largamente nas duas Guerras Mundiais. Posteriormente, começou a criar outro tipo de objetos, como portas e portões, bases de candeeiros ou cadeiras e mesas em ferro forjado.
Tal como Lalique, Brandt participou e prosperou na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, que decorreu em Paris, em 1925. Esta exposição, muito importante para o fomento da indústria numa altura em que a Europa se encontrava devastada pela Primeira Guerra, proporcionou o surgimento de uma nova estética, a Art Déco.
Apreciador deste novo gosto, Calouste Gulbenkian encomendou a Brandt várias intervenções de relevo para a sua casa, como as guardas em ferro forjado para a escadaria principal, aos pés da qual «repousava» a escultura Diana, de Houdon. Brandt foi também responsável pela conceção das guardas da escadaria privada, que dava acesso aos aposentos da mulher e da filha do colecionador, bem como pela execução da porta principal (adaptando o desenho inicial da autoria de René Lalique), da porta do vestíbulo e das guardas exteriores das janelas.
Gulbenkian encarregou ainda o artista de conceber algumas peças de mobiliário, nomeadamente uma coiffeuse (ou toucador) e vitrinas, onde expôs algumas das obras da sua coleção. Porém, um dos contributos mais interessantes foi a criação de duas portas para o elevador da casa, em ferro forjado, vidro e bronze patinado e dourado. As portas, atualmente parte integrante da Coleção do Museu Calouste Gulbenkian, segundo o modelo lançado por Brandt na exposição de 1925, têm como motivo decorativo a figura da deusa Diana, acompanhada dos seus atributos, sobre um fundo de flores e folhas.
Uma Coleção com Histórias
Em 2020, partilhámos semanalmente uma história sobre a coleção de Calouste Gulbenkian. Os artigos desta rubrica referem-se à coleção do Museu Calouste Gulbenkian como Coleção do Fundador.
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