Taça com pé
Esta taça foi fabricada em Caxã, no final do século XII ou no início do século XIII, durante o período seljúcida, em delicada faiança minai, um extraordinário tipo de porcelana produzido, sobretudo, em duas cidades persas, Caxã e Ray.
Com oito centímetros de altura e 20 centímetros de diâmetro, foi adquirida para a colecção original de Calouste Gulbenkian a 23 de Junho de 1914, em Paris.
Na sua manufactura foram usadas as técnicas de decoração pintada sob e sobre o vidrado e haft-rang – ou sete cores –, transformando este tipo de faiança minai (esmaltada) num produto de luxo, o apogeu de uma produção artística muito rica e de uma corte e elite persas muito abastadas. As peças eram inicialmente cozidas a temperaturas muito altas (aproximadamente 600 graus) para a fixação dos pigmentos azul claro, roxo e verde sob o vidrado; o preto, o castanho, o vermelho, o branco e a folha dourada eram aplicados posteriormente e cozidos a temperaturas mais baixas para prevenir que as cores vertessem ou se misturassem.
No centro desta taça de pé branca está representada uma cena de corte, na qual um jovem príncipe, ricamente vestido, se senta num trono de costas altas. Empoleirados no trono, podem ver-se dois falcões. Ladeando o príncipe encontram-se dois cortesões e, a seus pés, dois pavões – aves do Paraíso e símbolos da realeza. A posição de confronto dos pássaros – tanto dos pavões como dos falcões – parece remeter-nos para uma espécie de característica heráldica da representação do poder, embora os falcões acrescentem também um apontamento lúdico a esta cena de corte (também presente noutra taça minai da coleção), remetendo-nos para o gosto das elites persas pela arte da falcoaria.
Na borda interior da taça pode ver-se uma inscrição votiva em grafia cúfica, enquanto no exterior se distingue uma inscrição pseudo-cúfica entre os arabescos, uma característica ornamental comum na arte islâmica. Como outras peças deste estilo miniatural, esta obra foi inspirada em ilustrações ou miniaturas de livros seljúcidas, nos quais as cenas de corte, de carácter narrativo (sobretudo do Shahnama) ou puramente decorativo, eram frequentes.
A decoração interior inclui também quarto pares de esfinges, representadas por baixo da borda interior, criaturas mitológicas de origens orientais, que podem ser encontradas no Egpito, na Mesopotâmia, na Pérsia, na Grécia e, posteriormente, por influência grega e oriental, na arte romana.
Jorge Rodrigues
Conservador do Museu Calouste Gulbenkian
O autor não escreve segundo as normas do acordo ortográfico de 1990.