Mulheres no Século das Luzes
«A mulher, no século XVIII, é o princípio que governa, a razão que dirige, a voz que comanda. Ela é a causa universal e fatal, a origem dos acontecimentos, a fonte das coisas». A frase é dos irmãos Goncourt, na obra A Mulher no Século XVIII (1.ª ed. 1862), que apesar de explorar o papel da mulher francesa no Século das Luzes, nas suas múltiplas aptidões e condições, incluindo a social, não deixa de evidenciar a coquetterie (galanteria e sedução) como forma de domínio e afirmação. A modernidade dos Goncourt, na análise crítica que produzem do século XVIII, próxima no tempo e na perceção dos costumes, é por vezes invadida pela misoginia e por uma visão mais reacionária das mudanças sociais e das mentalidades que se operavam antes da Revolução Francesa.
Nas galerias do Museu Calouste Gulbenkian dedicadas ao século XVIII em França, confirma-se a presença feminina na pintura e persentimo-la no espaço utilitário do mobiliário, dos objetos de vitrina ou da ourivesaria. Todavia, a mulher que aí se revela tanto é utilizadora dos espaços e dos objetos como sujeito da representação. Nesta vitrina demonstra-se que o papel da mulher como autora e artista acrescenta outras facetas a uma complexa intervenção na vida política, social e cultural, muitas vezes exercida por interposição masculina, mas que se afirma e autonomiza criando um espaço muito próprio de afirmação, de que a participação nos salões literários é porventura uma das suas maiores conquistas.