Barómetro-termómetro
Os instrumentos de medida e precisão foram peças muito procuradas no século XVIII, fruto dos avanços científicos da época, altura em que a confiança nas capacidades intelectuais do homem e o poder da razão adquiriram uma enorme importância. O rei e a corte não foram alheios a esta tendência, utilizando-os para decorar os seus salões e atribuindo-lhes, deste modo, também o estatuto de obra de arte.
Este barómetro-termómetro é da autoria de Claude-Siméon Passemant, um dos maiores inventores e construtores de instrumentos científicos da época. Passement foi engenheiro do rei, com oficina no Louvre durante o reinado de Luís XV. Foi também da sua oficina que saiu o barómetro-termómetro que pertenceu a Madame Du Barry, favorita do rei – que muito se assemelha ao aqui tratado – adquirido por esta a Simon Poirier, famoso comerciante de obras de arte. Ao que parece, terá sido o próprio Poirier, sempre atento às novidades e aos gostos da sua clientela, a incentivar o fabrico deste tipo de objetos.
Os dois instrumentos, barómetro e termómetro, estão encastrados numa caixa de bronze cinzelado e dourado, decorado com fitas, flores, frutos, grinaldas e enrolamentos. Desta decoração fazem ainda parte três placas de porcelana, assinadas por Charles-Nicolas Dodin, um importante pintor de figuras da Real Manufatura de Sèvres, que executou diversas placas para a decoração de móveis e instrumentos científicos, para além de serviços e vasos. Sabemos que em 1776 Poirier adquiriu em Sèvres diversas placas de porcelana para decorar barómetros. Dodin é também o autor das placas de porcelana do já referido barómetro-termómetro de Madame Du Barry, atualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.
As três placas apresentam motivos relacionados com a função da peça. A placa superior, oval, tem uma reserva verde com cercaduras douradas e, no centro, um cupido sobre uma nuvem, que segura um óculo. Na placa do meio, com a mesma cercadura, podemos ver um menino num ambiente bucólico a segurar um compasso e uma esfera armilar. Na placa inferior, mais pequena e sem reserva, sobre uma nuvem encontra-se um livro e diversos instrumentos científicos. O livro está aberto numa página onde se lê Connaissance des Temps.
Os mostradores esmaltados dos dois instrumentos contêm informações sobre o estado do tempo. No termómetro lê-se a inscrição Thérmomètre suivant M de Reaumur, o que indica que a escala utilizada é a de Reaumur, cientista francês que em 1731 inventou um termómetro com uma escala dividida em 80 graus, baseando-se no ponto de congelação e de ebulição da água. Este tipo de termómetro foi muito utilizado na Europa da época.
Clara Serra
Conservadora do Museu Calouste Gulbenkian