A paixão pela iluminura
Manuscritos europeus iluminados na Coleção de Calouste S. Gulbenkian
A coleção de manuscritos europeus reunida por Calouste S. Gulbenkian inicia-se em 1919, com as aquisições de obras provenientes da venda da Coleção Henry Yates Thompson, uma das mais notáveis coleções europeias [Consolation de la Philosophie, de Boécio, c. 1450-1460 (LA136) e Rerum Vulgarium fragmenta (RVF), Triumphi, de Petrarca, c. 1468-1470 (LA1299)]. Outras obras desta coleção integram, em anos seguintes (1920 e 1921), a Coleção Gulbenkian, incluindo o Livro de Horas de René II da Lorena, 1473-1479 (LA147), o primeiro exemplar desta categoria a ser incorporado. Será de facto na década de 1920 que a coleção de manuscritos é amplamente reforçada, o que corresponde igualmente ao incremento de outros núcleos e à aquisição da casa de Avenue d’Iéna, em Paris (1922), que o colecionador irá transformar no «contentor» das suas obras de arte (1922-1927).
Na década seguinte, que corresponde ao último período de aquisições de manuscritos (1935-1937), é incorporado um conjunto de quatro códices, que sintetizam tudo aquilo que Gulbenkian procurava neste capítulo dos seus interesses de colecionador: o Gradual e Sacramentário de Admont, 1270-1275 (LA222), adquirido diretamente ao Mosteiro de Admont através de uma intensa negociação liderada por Hermann Trenkwald, historiador de arte e diretor do Kunstgewerbemuseum de Viena (09/01/1936); o Missal Acciaiuoli, c. 1498-1502 (LA236), proveniente da coleção de Lord Aldenham, aquisição que teve como intermediador o livreiro parisiense Henri Giraud-Badin (1937) e a recomendação expressa do historiador da arte Erwin Rosenthal; o Livro de Horas de Isabel da Bretanha (Horas de Lamoignon), c. 1415-1416 (LA237), proveniente da venda da biblioteca dos duques de Newcastle, em Clumber Park, também com a participação de Giraud-Badin (21/06/1937); e as Horas de Holford, década de 1520 (LA210), cuja genealogia de proprietários inclui o colecionador e bibliófilo Alfred Chester Beatty, o magnata da mineração, amigo de Gulbenkian, que o vendeu em 1932 à firma de Erwin Rosenthal de Munique.
Este pequeno núcleo, constituído por vinte e quatro livros, um incunábulo e onze fólios soltos, produzidos entre o século XII e o século XVI em Inglaterra, Holanda, Flandres, Itália e França, é demonstrativo do gosto e das preocupações do colecionador que se estendem a praticamente todas as categorias artísticas da sua coleção. A proveniência, legitimadora da qualidade das obras, a importância dos consultores e intermediários, que o colecionador selecionava com o maior escrúpulo, a qualidade artística das obras, e o estado de conservação, foram fatores determinantes na sua tomada de decisão.
No momento em que é publicado o catálogo da Coleção de Manuscritos Iluminados Europeus o Museu Calouste Gulbenkian expõe oito livros e um fragmento, entre os mais notáveis da sua coleção. O visitante poderá assim confirmar o acerto das escolhas do colecionador e a paixão que dedicou à arte do livro iluminado.