A mestria da linha: três desenhos da Coleção Calouste Gulbenkian

Num vídeo produzido no âmbito da iniciativa «5 Minutos de Desenho», promovida pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, o conservador João Carvalho Dias fala-nos da riqueza dessa «coleção escondida» que é o núcleo de desenhos do Museu Calouste Gulbenkian.
30 nov 2021

Entre as cerca de seis mil peças que constituem a Coleção reunida por Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), conta-se um pequeno conjunto de desenhos, que habitualmente se associa a um também reduzido número de aguarelas. Estes núcleos não se encontram habitualmente presentes no discurso expositivo do Museu, em que participam apenas pontualmente, em regime de rotatividade ou em exposições temporárias.

Estas circunstâncias, a que se junta o facto de a coleção ter sido severamente afetada pelas inundações de 1967, na altura em que se aguardava a transferência do Palácio Pombal em Oeiras para o Museu onde ficaria instalada, a partir de 1969, contribuíram para que grande parte do público desconheça a sua existência.

 

 

Não fosse a importância de algumas destas obras, verdadeiramente compendiais, estaríamos a falar de uma coleção «escondida». Exemplo disto mesmo são os desenhos de Albrecht Dürer, Pato-bravo morto; de Jean Antoine Watteau, Três estudos da cabeça de uma jovem; e porventura menos conhecido, mas igualmente relevante, Paisagem ao entardecer, de Jean-François Millet. Embora os dois primeiros sejam frequentemente requisitados para participarem em exposições internacionais, por se tratarem de obras maiores no contexto da produção artística de Dürer e de Watteau, o desenho de Millet acrescenta a técnica da execução a pedra negra e giz branco aos dois pastéis existentes na Coleção.

Embora separados cronologicamente, reconhecemos a mestria do uso da linha como elemento comum aos três desenhos escolhidos por Calouste Gulbenkian. Mestria será a palavra-chave para entender as escolhas do Colecionador, para quem o desenho deveria ter um «interesse excecional» para que chamasse a sua atenção. No entanto, não devemos circunscrever o interesse de Gulbenkian pelo desenho presente unicamente em folhas soltas, uma vez que a sua vertente de bibliófilo privilegiava a ilustração, em particular, os desenhos e aguarelas originais que «recheavam» as belas edições, que assim se tornavam exemplares únicos, verdadeiros objetos de coleção. Estes livros excecionais confirmam o interesse de Gulbenkian pela singularidade do desenho nas suas múltiplas possibilidades, incluindo a gravura, categoria artística que também colecionou.

 

João Carvalho Dias
Conservador do Museu Calouste Gulbenkian

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