José de Almada Negreiros: Desenho em Movimento

O próprio cinema surpreendia-se ao ver os desenhos animados transportá-lo às portas da poesia. Não era afinal senão a saudade do cinema recordando a maneira como havia nascido. Porque a origem do cinema está lá na remota antiguidade: quando ainda nem sequer se sonhava em descobrir a fotografia, já se conhecia a sucessão de imagens para realizar movimento. E então, farto de realidade, o cinema foi buscar de novo a sua lanterna mágica.

José de Almada Negreiros, conferência Desenhos Animados Realidade Imaginada, 1938

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Quem filmou o meu ser enquanto eu me sonhava?

Mas quem escreveu esse enredo
que eu represento no personagem de mim?
[…]
Quem me fez o protagonista de uma vida que eu não sonhei?
Quem filmou o meu ser enquanto eu me sonhava?

José de Almada Negreiros, do poema As Quatro Manhãs, 1935

[Autorretrato], 1948 [Autorretrato], 1948. Publicado no livro de José de Almada Negreiros Mito-Alegoria-Símbolo, Sá da Costa, 1948 Grafite sobre papel Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP220
[Autorretrato], 1950 [Autorretrato], 1950. Inscrição: «Ao / meu querido / Xico Amaral / o amigo a quem fiz / ou o maior mal / ou o maior bem / Lxa Out 30/10/50» Grafite sobre papel Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP195
Sem título, 1931 Sem título, 1931. Tinta da China sobre papel Coleção particular em depósito no Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna

 

Fazer fotografias com a imaginação

Não sabendo bem por onde anda a realidade, o protagonista começa a fazer fotografias com a imaginação.

José de Almada Negreiros, Nome de Guerra, 1938 (1925)

Sem título, 1930 Sem título, 1930. Inscrição: «Mad 30» Grafite sobre papel Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP150
[Banhistas] (Pintura para o café A Brasileira do Chiado, Lisboa), 1925 [Banhistas] (Pintura para o café A Brasileira do Chiado, Lisboa), 1925. Óleo sobre tela Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. 83P58
Retrato de Sarah Affonso (pintora, mulher do artista), 1938 Retrato de Sarah Affonso (pintora, mulher do artista), 1938. Grafite sobre papel Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP222

 

Estrelas de cinema

A arte é sempre uma transposição da realidade e começa quando a realidade não é a copiada mas a imaginada.

José de Almada Negreiros, conferência Desenhos Animados Realidade Imaginada, 1938

Sem título (Pinturas para Alfaiataria Cunha), 1913 Sem título (Pinturas para Alfaiataria Cunha), 1913. Óleo sobre tela Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. 83P55
Greta Garbo en El beso, 1930 Greta Garbo en El beso, 1930. Tinta da China sobre papel Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP155
Sem título, 1920 Sem título, 1920. Tinta da China sobre papel Inscrição: «A / Maria Thereza / di Camponetti / Excelentissima / camarada / a quem tenho a honra / de ter dado a minha / amizade incondicional / Lxa. 26.XI.1920 / José de Almada Negreiros» Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP217

 

Quadrado azul

De uma vez, num passeio, o arco-íris foi quadrado até ao fundo dos raios X pra lá do cavalo transparente numa continuidade cinematográfica contornando a apologia feminina sagradamente epiléptica em ss de cio todo realce e posse de reflexos. Se eu me detinha a observar o quadrado pla perpendicular do desejo iluminava-se o palco artificialmente leve de triângulo nu em record azuladamente feminino. Os olhos recolheram-se-me pra dentro de um estertor iluminado a escândalo afogueado e ruivamente doido de artifício. Quando voltei outra vez havia uma carta registada para mim.

Dentro só estava um quadrado azul.

José de Almada Negreiros, do conto K4 O Quadrado Azul, 1917

Quadrante I, 1957 Quadrante I, 1957. Óleo sobre tela Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. 83P63
Sem título, 1957 Sem título, 1957. Inscrição: «Les persones sont tres etrangement diferentes» Tinta da China e guache sobre papel Coleção particular em depósito no Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna
José de Almada Negreiros, K4 O Quadrado Azul, 1917 José de Almada Negreiros, K4 O Quadrado Azul, 1917. capa do autor Edição original do autor com Amadeo de Souza-Cardoso

 

Desenho animado

a boneca — Quando já havia muito tempo que eu não sentia nada em redor de mim, depois de o tambor se ouvir já lá muito ao longe… eu abria assim um bocadinho os olhos sem ninguém perceber… e ficava a perceber tudo… Depois experimentava muito devagarinho mexer um dedo qualquer, ao calhar, e mexia!… […]

o boneco —  porque falas tão baixo?

a boneca — (Muito baixinho.) Schiu!… É por causa do Homem… Coitado, se ele soubesse que nós mexemos!… Tu já pensaste a sério a este respeito? Um dia, sem querer, tu julgas que o Homem não está aqui e ele está a ver-te! Que horror!!! Nem quero pensar!

o boneco — Ora! Mesmo que o Homem me visse a mexer, julgava que era um sonho… não acreditava…

José de Almada Negreiros, peça de teatro Antes de Começar, 1921

Sem título, 1920 Sem título, 1920. Anilina sobre papel Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna Inv. DP168
Sem título, sem data Sem título, sem data. Grafite e guache sobre cartão Coleção particular
Sem título, sem data Sem título, sem data. Grafite e tinta da China sobre papel Coleção particular em depósito no Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna

 

Realidade imaginada

Desenho, escrevo, esculpo, vitralizo, danço, teatralizo, cinematografizo e, se a minha arte não falar por qualquer destas vozes, que havemos nós de fazer? Façam de conta que eu já morri — e que deixei essas obras póstumas…

José de Almada Negreiros entrevistado por Luís de Oliveira Guimarães, 1942

Mulher (Lisboa), 1939 Mulher (Lisboa), 1939. Óleo sobre tela Coleção particular
Sem título, 1940 Sem título, 1940. Guache sobre papel Coleção particular
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Lanterna mágica

O Naufrágio da Ínsua O Naufrágio da Ínsua. Tinta da China sobre papel vegetal Primeiro de 64 desenhos originais Coleção privada
Charlot, 1929 Charlot, 1929. Fotografia de um dos baixos-relevos pintados para o Cine San Carlos, Madrid arquiteto Eduardo Lozano Lardet Coleção Isabel Alves e Ernesto de Sousa
Fotografia de cena do filme mudo O Condenado, realizado por Mário Huguin, com José de Almada Negreiros à esquerda (filme perdido), 1921 Fotografia de cena do filme mudo O Condenado, realizado por Mário Huguin, com José de Almada Negreiros à esquerda (filme perdido), 1921. Coleção particular
Contracapa de José de Almada Negreiros, Desenhos Animados Realidade Imaginada, Ed. Ática, 1938 Contracapa de José de Almada Negreiros, Desenhos Animados Realidade Imaginada, Ed. Ática, 1938. Capa do autor Coleção Miguel e André Ferreira
Atualização em 11 dezembro 2017

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