Património sustentável, Museus sustentáveis: porquê, como e com quem?

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Nesta conferência internacional, que marca o início da Academia do Museu Gulbenkian, debate-se o papel do setor dos museus e do património no combate às alterações climáticas e na promoção da sustentabilidade.

 

Por toda a Europa, as instituições culturais investem cada vez mais no debate mais importante do nosso tempo: como contribuir para o combate às alterações climáticas e promover a habitabilidade do planeta?

O setor dos museus e do património procura estimular a produção e a difusão do conhecimento, promover  a discussão e a troca de ideias, bem como impulsionar a experimentação e a inovação rumo a uma sociedade mais sustentável.

Refletir sobre o impacto das alterações climáticas e da utilização energética nos museus e monumentos é um desafio complexo e urgente, que implica discórdia e tensão.

Os edifícios devem, por um lado, estar preparados para garantir a preservação a longo prazo da sua história e dos seus acervos, enquanto por outro lado, devem estar prontos para abrir as suas portas a milhares ou até milhões de visitantes entusiastas. Tentar minimizar os riscos para os acervos e edifícios e reduzir o impacto negativo da utilização de energia no habitat natural envolvente destas instituições, garantindo ao mesmo tempo um ciclo económico produtivo, são objetivos muito exigentes, que requerem o avanço de novas práticas e tecnologias, assim como a promoção de um novo pensamento. Como pode a gestão de recursos ser alinhada com as necessidades de conservação? E como podem a produção artística e a programação cultural enfrentar o maior desafio dos nossos tempos?

Este encontro irá focar-se em diferentes vertentes desta tarefa, em esforços recentes para responder a estas questões, principalmente através de estudos de casos e testemunhos das melhores práticas implementadas em instituições de referência em toda a Europa e Portugal.

Organização: Fundação Calouste Gulbenkian e DGPC – Direção Geral do Património Cultural.

 A Academia do Museu Gulbenkian promove debates profissionais e aprendizagem sobre temas-chave que os museus de todo o mundo enfrentam atualmente.  Este evento inaugura o programa da Academia para 2023.


Oradores


Programa

09:15 / Sessão de Abertura

Guilherme d’Oliveira Martins – Fundação Calouste GulbenkianJoão Carlos dos Santos – DGPC – Direção Geral do Património Cultural

09:30 / Introdução

Isabel Raposo de Magalhães – DGPC – Direção Geral do Património Cultural

09:45 / Conferência de Abertura

O Desenvolvimento Sustentável no Louvre: Um Esforço a Longo Prazo e de Múltiplas Faces
Embora os museus tenham por missão preservar e expôr as suas coleções, partilhar conhecimento e acolher uma vasta audiência, têm também de encontrar formas de combinar estas missões com a necessidade cada vez mais premente de trabalhar para uma sociedade mais sustentável. O desenvolvimento sustentável e, mais amplamente, a responsabilidade social corporativa, é uma questão com a qual o Museu do Louvre se comprometeu oficialmente nos últimos 13 anos. Este tema possui muitas facetas e muitas respostas. Embora não as possamos abordar todas, dado o amplo espetro a que se referem, examinaremos algumas das questões com que o Museu do Louvre se confronta, e as respostas que foram ou serão fornecidas, dependendo do local em questão.Anne de Wallens – Museu do Louvre— INTERVALO 15 MIN —

Painel 1 – Liderando o Caminho: O Papel das Organizações Internacionais

Moderação:
Rui Xavier – Museu Calouste Gulbenkian
11:00 / Do Risco à Resiliência: Iniciativas Globais do ICCROM Sobre Gestão e Risco de Desastres e Ação Climática no Património Cultural
As estatísticas apontam para o facto de que, nas últimas décadas, grande parte dos eventos catastróficos foram de natureza hidrológica, meteorológica ou climatológica, os quais afetaram negativamente várias tipologias de património cultural em todo o mundo. As mais recentes projeções das Nações Unidas indicam que o aquecimento global poderá atingir 3,2 graus Celsius até 2100, um aumento de temperatura superior ao limite de 2 graus Celsius estabelecido no Acordo de Paris. A acrescentar a isto, cidades históricas de todo o mundo, especialmente as de países em desenvolvimento, assistem a uma pressão crescente de urbanização que agrava a sua vulnerabilidade aos riscos climáticos, como é demonstrado pelo aumento dos casos de inundações urbanas, ondas de calor e epidemias. A comunicação irá focar-se no impacto das alterações climáticas sobre o património cultural. Também irá ilustrar como o património pode contribuir para um aumento de resiliência por meio de sistemas de conhecimento tradicionais, acumulados ao longo de gerações de experiência humana, para lidar com as condições ambientais em transformação. Serão abordadas várias políticas, estratégias e medidas de planeamento necessárias para a mitigação dos riscos e adaptação às alterações climáticas, bem como as transformações necessárias para criar condições favoráveis à sua implementação. A apresentação terminará com a análise de várias iniciativas internacionais empreendidas pelo ICCROM para reduzir os riscos climáticos e reforçar a resiliência do património cultural.Rohit Jigyasu – ICCROM (participação online)
11:20 / O património cultural como meio para a sustentabilidade e para a adaptação climática: ações e recomendações do ICOMOS
A Agenda 2030 reconhece a importância da salvaguarda do património cultural e natural para a adaptação climática. O aumento da temperatura devido à emissão de gases de estufa é um fenómeno conhecido desde 1824, sendo o sector da construção o principal responsável pelas emissões de CO2 no mundo. Não obstante, persiste a preferência pela construção nova, inclusive em zonas de risco costeiras e estuarinas. O ICOMOS tem por missão a Conservação do património cultural e promove a relação com o património natural para uma adaptação climática desde 1972, na sequência da Convenção da UNESCO para a Proteção do Património Mundial. Em 2007 adota a Resolução de Nova Deli sobre o impacto das alterações climáticas no património cultural. O plano científico para 2021-24 tem o título “Património Cultural e Ação Climática”, tema central das nossas atividades. Apresentam-se exemplos de boas práticas e publicações do ICOMOS, em particular desenvolvidas pelos dois grupos de trabalho dedicados às Alterações Climáticas e aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.Soraya Genin – ICOMOS – Portugal / ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
11:40 / Museu Sustentável: Um Modelo a Criar
Nascido no campo ambiental, o discurso sobre a sustentabilidade encontra-se agora intimamente associado ao património cultural. Definido pelo seu caráter «vivo», baseado em relações profundas e intrínsecas com a economia, o ambiente e a sociedade, este tema traz à luz de forma particularmente explícita novos desafios que vão muito além daqueles classicamente associados à conservação.Esta associação transforma os nossos modos de apreender o património e a sustentabilidade e de atuar nestes dois campos: por um lado, o património introduz novas variáveis e prioridades, exigindo que se tenha em conta a noção de conservação sustentável; por outro, os princípios fundadores da sustentabilidade alargam (e perturbam) o campo do património, pondo em causa o modelo do museu e comprometendo-o a uma profunda transformação – adaptação e esforços resilientes defendidos pelo Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e veiculados pela comunidade museológica internacional.Hélène Vassal – ICOM França (participação online)
12:00 Traçando o Caminho para a Sustentabilidade: a Unidade de Sustentabilidade KIK-IRPA na Preservação do Património
A sustentabilidade é um aspeto fundamental profundamente enraizado no nosso trabalho, porém, incorporá-la nas nossas práticas diárias requer uma mudança de mentalidade. Embora a transição para uma nova dinâmica possa ser complexa, é imperativo abordá-la desde já. Na Unidade de Sustentabilidade do KIK-IRPA (Institut Royal du Patrimoine Artistique, Bélgica), a nossa missão é apoiar as instituições culturais no seu caminho em direção à sustentabilidade, através de projetos interdisciplinares e redes (inter)nacionais. Em projetos como Climate2Preserv e Resilient Storage, desenvolvemos protocolos para implementar estratégias de poupança de energia na gestão da climatização interior, capacitando as instituições culturais a reduzir o seu impacto ambiental.Além disso, os nossos programas de gestão de risco de desastres (como CHrisis, FEDEREESCUE e Estratégia de Risco para a Flandres) foram concebidos para melhorar a preparação do setor para lidar eficazmente com potenciais desastres. A Unidade de Sustentabilidade lidera o grupo de trabalho Sustainability and Climate Action!, da NEMO (Network of European Museums Organisations). Esta iniciativa centra-se na implementação de soluções inovadoras, concretas e eficazes para lidar com as alterações climáticas e os desafios que esta emergência constitui para o setor dos museus.Estelle De Bruyn & Annelies Cosaert, Coordenação de Climate2Preserv no IRPA e NEMO— INTERVALO 90 MIN. —

Painel 2 – Museus no Século XXI: Caminhando de Forma Sustentável

Moderação:
Margarida Mafra – CAM
14:30 / O Sagrado, o Sistema e o Lugar de Abrigo
Refletindo sobre as aprendizagens de projetos anteriores da Serpentine, desde o General Ecology até à digressão da ópera-performance Sun & Sea, a curadora Lucia Pietroiusti discute os possíveis papéis que a arte, a cultura e as organizações culturais podem desempenhar tendo em vista a justiça e o equilíbrio ambiental – propondo uma estratégia holística, impulsionada por artistas e orientada por sistemas para encontrar um propósito neste tempo de rutura.Lucia Pietroiusti – Serpentine Galleries (participação online)
14:50 / A Arquitetura de Museus, entre o Mediatismo das Grandes Obras e os Desafios da Sustentabilidade
Depois do boom de museus dos anos 1990, em que o protagonismo da expressão arquitetónica relegou frequentemente para segundo plano as preocupações ambientais, nas últimas duas décadas tem-se assistido a uma progressiva mudança de paradigma. A partir da observação de alguns casos exemplares, em diferentes geografias, esta comunicação procura refletir sobre experiências recentes, no campo da arquitectura de museus, que privilegiam a reutilização, a integração e a economia de recursos como via para a preservação patrimonial e ambiental.Helena Barranha – IST e IHA (NOVA FCSH)
15:10 / Materiais e Sustentabilidade. Desafios e Expectativas para as Práticas Artísticas e Expositivas: o Caso da Cerâmica e do Vidro
Andreia Ruivo – NOVA FCT
15:30 / Um Centro de Artes a Pensar no Futuro
Quais são os desafios que se colocam a uma instituição filantrópica e cultural que tem ao centro dos seus desígnios estratégicos a Sustentabilidade e que é uma enorme produtora de eventos de natureza artística e cultural – e não só – com milhares de metros quadrados climatizados e que recebe várias centenas de milhares de pessoas por ano vindas de todas as partes do mundo?Miguel Magalhães – Fundação Calouste Gulbenkian

Sessão de Encerramento

16:45 / Reflexões

Jessica Hallett – Museu Calouste Gulbenkian

17:00 / Sustentabilidade Ambiental no Museu Guggenheim Bilbao

A preocupação com a atual crise climática e a necessidade de ir ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas está atualmente na agenda de todos os museus. No entanto, a criação de uma equipa «verde», o desenvolvimento de um enquadramento estratégico, a medição da pegada de carbono, ou a implementação de um plano de ação anual são processos complexos que exigem uma forte liderança, uma análise profunda, uma dedicação intensa e a revisão de políticas internas.A apresentação abordará o caso do Museu Guggenheim Bilbao, explicando a sua jornada de sustentabilidade e partilhando exemplos práticos de eficiência energética e economia circular, iniciativas de programação, bem como projetos de sensibilização e colaboração.Daniel Vega - Museu Guggenheim Bilbao (participação online)

17:45 / Apontamentos Finais

António Filipe Pimentel – Museu Calouste Gulbenkian

A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através do formulário Pedido de Informação.

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