Esculturas Infinitas.

Do Gesso ao Digital

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Esta exposição reúne esculturas de artistas contemporâneos e obras da coleção de gessos da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, analisando a importância da técnica da moldagem nas práticas artísticas atuais e explorando as suas infinitas possibilidades.

Incorporando obras de 18 artistas contemporâneos e gessos da coleção da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, a exposição Esculturas Infinitas procura olhar de forma atenta para o papel desempenhado pela moldagem não só na escultura, mas também em vários aspetos do quotidiano.

Este processo tem permitido a reprodução de obras de arte, de objetos do quotidiano, de elementos da natureza e de edifícios, tanto no passado como no presente. Embora o molde em gesso continue a ser utilizado na produção artística, pretende-se também mostrar outras tecnologias mais modernas, incluindo a impressão 3D.

Estes diferentes métodos e materiais recordam-nos que a escultura raramente é única: uma das suas características intrínsecas é a multiplicidade. Os gessos permitem perpetuar momentos especiais – o crescimento de uma criança, o rosto de um defunto, um edifício importante –, mas também podem ser usados para reproduzir objetos de uso quotidiano, como casas ou utensílios domésticos.

Esta técnica tem tido uma importante função documental e, em particular, na medicina: a sala de anatomia assume-se como um espaço de aprendizagem entre a medicina e a arte.

Juntamente com os gessos históricos mostramos obras de David Bestué, Marie José Burki, Christine Borland, Steven Claydon, Michael Dean, Aleksandra Domanović, Asta Gröting, Simon Fujiwara, Oliver Laric, Jumana Manna, Jean-Luc Moulène, Charlotte Moth, Rogério Taveira, Francisco Tropa, Xavier Veilhan, Marion Verboom, Daphne Wright e Heimo Zobernig.

Estes artistas foram selecionados pelo seu fascínio pela moldagem e pelas suas múltiplas possibilidades. Sem uma narrativa fixa, a exposição pode ser lida através de várias camadas e os visitantes podem encontrar diferentes ligações entre antigo e novo, centrando-se nos conceitos de reprodução, variação, serialidade, escala e homenagem.

Antes de viajar para Lisboa, esta exposição é apresentada nas Beaux-Arts de Paris até 16 de fevereiro de 2020, reunindo estas obras contemporâneas e uma seleção de gessos de várias instituições francesas, num ambiente que evoca o papel do gesso na aprendizagem artística.

Este projeto revela-se uma oportunidade para dar a conhecer aos visitantes as coleções das escolas de arte que têm vindo a despertar um interesse crescente por parte de investigadores e artistas, mas que não têm estado acessíveis ao público.

Equipa curatorial: Penelope Curtis, Rita Fabiana, Thierry Leviez, Armelle Pradalier
Exposição organizada e coproduzida pela Fundação Calouste Gulbenkian e as Beaux-Arts de Paris, em colaboração com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

 


VISTA GERAL DA EXPOSIÇÃO


VÍDEOS

Conheça algumas das peças mais emblemáticas da exposição pela voz dos seus curadores: Penelope Curtis, Thierry Leviez, Armelle Pradalier e Rita Fabiana.


ARTISTAS

Parte do trabalho de Aleksandra Domanović (Novi Sad, Sérvia, 1981) é influenciado pelo movimento modernista da Jugoslávia do pós-guerra, que produziu diversos monumentos à revolução e invulgares projetos de engenharia humana. O facto de os seus pais serem médicos introduziu-a à biogenética, outra das suas influências.

Inspirada na escultura antiga «Carregador de Bezerros» descoberta na Acrópole, a obra «Kalbträgerin» aqui presente surge do seu interesse pela clonagem, pela gestação de substituição e in-vitro, processos que se assemelham às técnicas da escultura. As peças votivas interessaram a artista, que reproduz frequentemente mãos com oferendas, como animais ou frutos.

O seu fascínio por um dos primeiros projetos de cirurgia protética, desenvolvido na Sérvia na década de 1960, aliado ao seu interesse pelas esculturas votivas que viu na ilha grega de Samos, foi o ponto de partida para uma série de esculturas que englobam elementos da engenharia médica e da iconografia religiosa. A artista criou várias peças, entre as quais «Substances of Human Origin», uma ode às técnicas modernas de digitalização ao serviço da medicina, e um conjunto de mãos desempenhando diversas tarefas, nos quais se inclui «Fatima», uma obra concebida para a exposição «The Future Was at Her Fingertips», em Berlim.

Asta Gröting (Herford, Alemanha, 1961) trabalha sobre diversos suportes, da escultura à instalação, passando pela performance e pelo vídeo. O seu trabalho foca-se muitas vezes em elementos não visíveis, como o interior de um buraco de bala, o aparelho digestivo ou os espaços entre dois corpos, quer sejam amantes, familiares ou figuras históricas.

A exposição reúne quatro obras da série «Berlin Fassaden», que reproduz, em grande escala, fachadas de edifícios berlinenses que apresentam buracos de balas e de outros projéteis da época da Segunda Guerra Mundial. Símbolos da destruição do património material e das elevadas perdas humanas, estas cópias em silicone e em juta foram realizadas através de moldes diretos sobre as superfícies dos edifícios.

Como na técnica fotográfica, a artista submete estes moldes em silicone a uma longa exposição, fixando na escultura todos os pormenores existentes, como as poeiras, os restos de tijolo, os musgos, os traços de grafite, os pequenos buracos e os impactos de grande dimensão. Esta série surge também como um registo documental, um gesto de resistência contra o esquecimento da história, uma vez que muitos destes edifícios têm vindo a ser restaurados, apagando-se as marcas da guerra.

A prática artística de Charlotte Moth (Carshalton, Reino Unido, 1978) é marcada por uma reflexão em torno da escultura e da arquitetura, no contexto do legado modernista. E um dos espaços arquitetónicos modernistas convocados é a própria galeria de exposições que a artista incorpora criticamente nos seus trabalhos. A escultura, a par da fotografia e do filme, representa uma parte importante da sua obra.

As três esculturas Living Images aqui apresentadas integram um conjunto de sete pares de mãos em bronze, moldadas a partir das mãos da artista, que seguram objetos encontrados, do quotidiano. Fixadas na parede e mostradas em conjunto, estas esculturas criam uma ilusão de movimento quase cinemático, que o título da obra já enuncia.

A relação entre orgânico e inorgânico volta a surgir na obra Lurking Sculpture (Rotating Rubber Plant). A monocromia e a integração de um plinto de mármore na obra parecem atribuir-lhe o estatuto tradicional de escultura. Contudo, no seu trabalho a artista procura desconstruir os conceitos e os códigos a partir dos quais percecionamos os objetos artísticos. Assim, o facto de a “planta” ser animada por um motor que lhe confere movimento e duração, a obra problematiza a imobilidade característica da escultura tradicional.

Christine Borland (Darvel, Escócia, 1965) tem usado a técnica da moldagem desde o início da sua carreira, focando-se nas suas potencialidades na área da medicina forense. Em 2010, a artista descobriu um molde antigo de um corpo dissecado disposto numa pose que lembrava a Pietà de Miguel Ângelo. A partir desta peça, produziu as suas réplicas, expondo uma versão na pose original e outra numa posição invertida, como se estivesse a voar.

Estas duas figuras de «Cast from Nature» apresentadas na exposição representam a vida e a morte. A artista tem permanecido atenta às relações entre a arte e a medicina, bem como às suas mútuas influências. O gesso continua a ser o seu material de eleição, não só pelas suas associações com a morte, mas também pela sua capacidade de questionar a nossa rápida aceitação de determinadas formas e poses, observando o seu avesso sombrio. Mais recentemente, a artista desenvolveu um projeto a partir da obra da escultora Barbara Hepworth realizando digitalizações de todas as suas peças ocas, criando novas esculturas a partir dos espaços interiores dos originais, virando, literalmente, a escultura do avesso. A obra «Positive Pattern» aqui exposta é um destes exemplos.

A técnica da moldagem surge na obra de Daphne Wright (Irlanda, 1963) na década de 1990. A artista é conhecida pelas suas instalações, que recorrem a várias técnicas, como a fotografia, o vídeo e a instalação sonora. Entre os seus temas de eleição destacam-se o crescimento, o envelhecimento e a morte. A obra «Primate» aqui presente faz parte de uma série de reproduções de animais imediatamente após a morte, à maneira das máscaras mortuárias. O pelo do macaco é sugerido por um minucioso bordado a fio de seda, que lhe confere maior realismo.

Por sua vez, «Sons» é um retrato dos filhos da artista, cujo objetivo foi conservar a imagem dos corpos em transformação, procurando, de certa forma, parar o tempo. A escultura evoca a estatuária funerária, provocando uma sensação de proximidade, mas também de estranheza, acentuada por pormenores como os retoques de cor nos rostos, executados por um pintor de estátuas religiosas. Certas obras da artista requerem muito tempo na sua execução exigindo a assistência de artesãos especializados. Se as primeiras peças são moldadas em gesso, na fase seguinte, a artista mistura resinas sintéticas ou substitui o gesso por pó de mármore.

O artista e escritor David Bestué (Barcelona, Espanha, 1980) trabalha essencialmente no campo da escultura e da instalação. Nos últimos anos, a sua obra tem vindo a analisar criticamente a história de Espanha e os desenvolvimentos que caracterizaram as vanguardas do século passado, sobretudo nos âmbitos da arquitetura e da engenharia. Nas suas obras evoca frequentemente o seu país de origem, quer através da utilização de materiais oriundos de locais históricos, quer por meio de referências literárias, em particular poetas espanhóis da primeira metade do século XX. 

Ocasionalmente, o artista incorpora na sua escultura imagens ou impressões reminiscentes de alguns eventos marcantes, por vezes desconfortáveis, como referências a Cuelgamuros, o vale onde foi construído o memorial franquista de Los Caidos, ou à estação ferroviária de Atocha, alvo de um atentado terrorista em 2004. Nas obras presentes nesta exposição, podemos encontrar elementos oriundos de uma praia de Valência, vestígios da catedral de Toledo ou terra de Delfos. Os materiais usados são extremamente diversos, incluindo componentes orgânicos, como plantas e frutos, ou objetos de natureza mais industrial, como vasos ou peças de mobiliário.

Francisco Tropa (Lisboa, Portugal, 1968) tem trabalhado no campo da escultura, desenho, instalação, fotografia, filme e performance. As obras aqui reunidas têm como ponto de partida o processo e o local da fundição, assim como as peças escultóricas que habitam este lugar, um verdadeiro repositório de formas. «Oco» ou «Vazio no interior de uma escultura» dá forma ao interior de outra obra.

Partindo de uma escultura da Virgem e o Menino, o artista realizou um molde da zona de união entre as duas figuras, o espaço deixado vazio. A peça «Penelope» representa uma das figuras fundadoras da cultura clássica europeia e é constituída por quatro objetos, novamente o vazio no interior de uma escultura. O artista repete o processo quatro vezes, originando peças cada vez mais finas, num movimento contínuo de subtração. Penélope representa a ansiedade da espera, intensificada pelo movimento repetitivo da rotação de um motor. «República» é também o processo de tornar visível o vazio de um busto representando a República Francesa. O artista mostra o interior da República, literal e simbolicamente, interrogando a sua força política e os valores de liberdade, igualdade e fraternidade.

No seu trabalho, Heimo Zoberning (Mauthen, Áustria, 1958) tem procurado envolver todos os tipos de vocabulário artístico, ocupando-se sobretudo da pintura e escultura abstratas. Apenas recentemente se dedicou ao problema da figura.

A obra que o artista apresenta nesta exposição inspirou-se na figura feminina criada por Georg Kolbe para o pavilhão de Mies van der Rohe em Barcelona. Inicialmente pensada para o pavilhão austríaco de Veneza, acabou por não ser realizada. Contudo, quando adaptou este projeto para a Kunsthaus de Bregenz, Zobernig teve a oportunidade de o reordenar piso a piso e de instalar uma figura humana no andar superior do edifício.

Com o seu aspeto inquietante, a peça de Zobernig lembra uma personagem de ficção científica, devido à presença dos canais que foram usados na moldagem para garantir que o bronze fundido alcançasse todos os pontos do molde à mesma velocidade. Criada com base em digitalizações de três esculturas preexistentes, a figura é uma espécie de cadavre exquis.

Uma terceira exposição do projeto permitiu que Zobernig levasse a sua relação com a figuração um pouco mais longe, realizando um molde em bronze que junta figuras preexistentes, que sublinhava a sua singularidade, mais do que o seu potencial de reprodutibilidade.

O interesse de Jean-Luc Moulène (Reims, França, 1955) pela moldagem remonta aos seus tempos de escola; chegou a experimentar o gesso, substituindo-o pelo silicone, por ser mais flexível.

As máscaras aqui expostas foram moldadas a partir de máscaras de carnaval, suspensas por baixo de uma mesa. O betão foi vertido lentamente, criando rostos de feições alongadas com uma ligação evidente às máscaras mortuárias e de terror; chegaram a ser associadas às vítimas decapitadas pelo Estado Islâmico. Em conjunto, sugerem uma galeria nacional de retratos e algumas representam personalidades conhecidas.

Para a realização de «Indexes», o artista inspirou-se na estatuária dos jardins franceses. Adquiriu exemplares em segunda mão e cortou-os a laser, recombinando os fragmentos para criar novas peças. Outros exemplares juntam elementos naturais e objetos fabricados, que o artista digitalizou para estudar, moldando-os depois em resina como peças inteiras, posteriormente pintadas, como «Bloc Rouge 1».

Para criar «Knot 0.1 varia 02», Moulène atou um nó, imprimiu-o em argila e apertou-o para que quebrasse, moldando a forma resultante através do método da cera perdida. A cera ocupa o espaço da corda, sendo expelida com a introdução do bronze no molde. O artista realizou outros exemplares em bronze e em vidro.

A formação de Jumana Manna (Princeton, EUA, 1987) na área da escultura, aliada ao seu interesse por lugares históricos, explica a importância que a moldagem tem assumido no seu trabalho. Enquanto palestiniana, desenvolveu uma relação sensível com determinados lugares, sobretudo quando lhe são próximos em termos culturais, mas inacessíveis por razões políticas, nomeadamente locais arqueológicos de Jerusalém.

O corpo e as suas funções marcam algumas das instalações da artista. As formas que escolhe tendem a apresentar um carácter anatómico – axilas, ombros, dedos ou calcanhares –, evocando os «cemitérios» de esculturas clássicas onde se acumulam membros e extremidades de corpos.

As obras «Armpit» e «Armpitshell», que aqui se apresentam, são uma continuação da série «Muscle-Vases». Juntamente com a obra «Torso II», estas peças recriam um ambiente de sauna, explorando a nossa relação de familiaridade com as zonas interiores dos nossos corpos, a que a artista atribui ar e volume, exagerando as suas características e amplificando os sons que produzem.

Além de esculturas, Manna realiza filmes, usando normalmente os dois meios em paralelo. Na instalação presente na exposição, podem ainda ser vistas duas pequenas animações em loop, «Flutter» e «Balls».

O interesse pelos materiais, pela assemblagem e pela arquitetura forneceu a Marion Verboom (Nantes, França, 1983) um conhecimento acerca das propriedades das matérias-primas e da problemática da composição arquitetónica. As suas obras, essencialmente desenhos e esculturas, incluem motivos das ordens arquitetónicas antigas e elementos estilísticos de diversas épocas e civilizações, além de incorporarem componentes geológicos, como cristais.

Tingidas na massa através de pigmentos coloridos, as suas obras apresentam, para além de uma dimensão escultórica, uma dimensão pictórica. Em instalações recentes, a artista apresentou pinturas murais de cimento colorido sobre as quais outras obras podem ser expostas, levando o olhar a hesitar entre superfície e volume, fundo e forma, primeiro e segundo plano.

A obra concebida para esta exposição, baseada em elementos greco-romanos, apoia-se na tradição da escultura criselefantina, ou seja, esculturas realizadas em marfim e em ouro, muito importantes na Grécia Antiga, da qual a estátua monumental de Atena no Partenon constitui um raro e célebre exemplo. Em «Tectonie», uma pátina de latão dourado é aplicada ao fundo do molde de gesso para criar uma película dourada. A peça é composta por dez secções, montadas verticalmente, que permitem uma multiplicidade de variações.

Michael Dean (Newcastle upon Tyne, Reino Unido, 1977) recorreu pela primeira vez à moldagem para consertar a soleira de uma porta, impressionando-se com a rapidez de secagem do material. A experiência levou-o a implementá-lo no seu trabalho artístico. As suas esculturas são, normalmente, da altura de uma pessoa, moldadas a partir de pedaços de soalho, sacos de plástico e outros materiais disponíveis. São coloridas e cobertas de sinais da sua família, sobretudo as mãos dos seus filhos, mas também as suas bocas e línguas. Na era vitoriana, os pais moldavam as mãos dos filhos para captar a sua inocência, uma etapa do seu crescimento. Também se moldavam as mãos das crianças que morriam. As esculturas de Dean gritam, praguejam, choram. As mãos das crianças, moldadas sob a forma de pequenos punhos, gesticulam incessantemente. Antes de desenvolver o tipo de escultura que atualmente realiza, Dean cultivava sobretudo um trabalho baseado na escrita e em textos performativos. Atualmente, a poesia conduz a formas humanas muito mais conturbadas e viscerais.

Como muitos artistas da sua geração, Oliver Laric (Innsbruck, Áustria, 1981) interessa-se pela circulação de informação na Internet, desenvolvendo ensaios focados na repetição, explorando a cultura dos «memes», a reutilização do mesmo plano ou cenário em diferentes filmes ou mesmo a reprodução de esculturas.

A necessidade de transpor as suas pesquisas para o espaço físico originou as suas primeiras esculturas, embora muitos dos seus trabalhos continuem a ser lançados primeiro online. As duas obras aqui expostas são cópias de peças do escultor britânico John Gibson, com alterações introduzidas por Laric. O fascínio do artista pelas obras de Gibson pode ser explicado pela sua repetição: a obra «The Hunter and His Dog», por exemplo, reapareceu num cenário da final da Eurovisão de 2015, além de ter surgido como holograma no videoclipe de um grupo Pop americano e, mais recentemente, no cenário de um concurso de dança alemão.

Para realizar «Sleeping Boy», o artista inspirou-se na obra «Pastor Adormecido» de Gibson, que o próprio escultor reproduziu infinitamente no século XIX para oferecer aos visitantes do seu ateliê. Tal como Laric, Gibson introduzia alterações nas suas cópias, criando inúmeras variações da mesma obra.  

Arquiteto de formação, Simon Fujiwara (Harrow, Reino Unido, 1982) explora as questões de duplicidade e recorrência através do cruzamento da performance, da escultura e da instalação. As suas narrativas complexas exploram os conceitos de história, memória e identidade e são frequentemente críticas à obsessão da sociedade com a autorrepresentação que as novas tecnologias oferecem. Os seus trabalhos envolvem muitas vezes elementos da cultura pop ou de massas e o artista colabora regularmente com as indústrias do entretenimento e da publicidade.

A obra «Rebekkah» resultou de um convite da 9.ª Bienal de Xangai. Respondendo ao desafio, o artista convidou uma jovem britânica de dezasseis anos que tinha participado nos tumultos de 2011 em Londres a acompanhá-lo numa viagem à China. As duas semanas terminaram com uma visita ao célebre exército de terracota do mausoléu do imperador Qin. Aproveitando os meios locais disponíveis, Fujiwara produziu cerca de cem versões da jovem Rebekkah, que seriam apresentadas na Bienal como formas reproduzíveis de uma figura da história contemporânea. A instalação é acompanhada com um vídeo que, à maneira de uma reportagem televisiva, documenta as peregrinações da jovem pelo território chinês.

O artista e músico Steven Claydon (Londres, Reino Unido, 1969) é conhecido pelas suas instalações multimédia repletas de referências externas. Para o artista, a moldagem é uma técnica privilegiada que permite aproximar formas distantes no espaço ou no tempo.

Na obra «Voyager Assembly», por exemplo, sobrepõem-se diversas citações: a assemblage gira em torno de «Séneca Moribundo», uma escultura antiga restaurada no Renascimento, na qual a figura de um pescador foi convertida num pensador. O artista propõe uma versão aumentada da figura, substituindo parte da cabeça pelo molde de uma personagem futurista do filme «Demolition Man».

«Persistent Vestibules», por sua vez, junta materiais diversos que produzem um «museu de hibridização», composto por um arnês de paraquedas, painéis decorativos de uma mansão Tudor, uma escultura medieval e um relevo circular inspirado pelo filme «Solaris».

A última obra do artista na exposição, «Compound Chimera (Survivalist)» baseia-se numa escultura do período helenístico, «Menino com Ganso». O artista colocou um molde dessa escultura sobre uma pilha de paletes monocromáticas, remetendo-nos para a arte minimal, coroando-a com uma forma circular.

Algumas destas referências são expressamente indicadas, outras permanecem ocultas, conferindo à obra uma complexidade e protegendo-a de qualquer interpretação didática.

O trabalho multifacetado de Xavier Veilhan (Lyon, França, 1963) desenrola-se em diferentes suportes, desde a pintura à escultura, passando pela instalação e a performance. O artista é conhecido pelas suas intervenções no espaço, alterando a forma como o espectador o perceciona. A pesquisa material é frequentemente acompanhada de colaborações musicais e o artista já retratou vários músicos famosos.

A série de obras intituladas «Laurent» partiram de um modelo vivo digitalizado a três dimensões. Realizadas em momentos distintos, cada peça apresenta variações, como a orientação da cabeça, a escolha dos materiais ou a escala. Na exposição, estão presentes duas versões desta escultura, cujas superfícies triangulares as aproximam de um produto industrial. As ferramentas digitais produzem um efeito de esquematização, mas o artista esforça-se por preservar a singularidade do modelo, não recorrendo à simetria.

A escultura-personagem «Aina», inicialmente exposta no Pavilhão de Barcelona de Mies van der Rohe e Lilly Reich, juntamente com três outras versões, procura recuperar e atualizar a pose de «Alba», um nu feminino do escultor Georg Kolbe.


Temas

A escola de arte

Moldes de esculturas antigas

Moldes de monumentos

Capacidade de parar o tempo

Moldes: natureza e corpo humano

Aulas de anatomia

Reprodução infinita

À descoberta do interior

Materiais: passado e presente

Escala e repetição


Programação complementar

«Os pontos de vista dos artistas»
Com Penelope Curtis e Francisco Tropa, Belén Uriel e Rogério Taveira
Quinta, 17 setembro, 15:00
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AUDIOGUIA GRATUITO

Descarregue a aplicação Museu Gulbenkian para ter acesso ao audioguia gratuito da exposição.

Visitas orientadas
Sábados, 19, 26 setembro; 17 outubro; 14 novembro; 5 dezembro, 15:00
Sábado, 24 outubro, 16:00
Sábados, 9 e 23 janeiro, 10:30
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Coprodução

Apoio

Mecenas

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