Escola de Verão

Museus, Democracia e Cidadania

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«Museus, Democracia e Cidadania» é o tema da terceira Escola de Verão do Museu Calouste Gulbenkian.

 

«Museus, Democracia e Cidadania» é o tema da terceira Escola de Verão do Museu Calouste Gulbenkian. Este evento reúne investigadores, profissionais de museus, especialistas em tecnologia e criativos em torno de uma discussão sobre o papel cívico dos museus na promoção dos atos de cidadania e dos valores e competências democráticas.

Ao longo de três dias, o programa da Escola de Verão aborda um leque diversificado de tópicos. O impacto da Inteligência Artificial nos museus é o tema central do primeiro dia. No segundo dia, sob o mote «Partilhando o poder», discutem-se novas abordagens à exposição de arte histórica, projetos de curadoria participativa e o trabalho em redes colaborativas. No terceiro dia, dedicado à partilha de sistemas, o papel dos museus na construção e contestação de identidades históricas e a participação digital são os temas centrais.


Oradores


Programa

17:30 / Acolhimento

18:00 / Boas-vindas

Guilherme d’Oliveira Martins – Fundação Calouste Gulbenkian, LisboaAntónio Filipe Pimentel – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

Inteligência Artificial: o fim do museu?

A explosão em popularidade das ferramentas e modelos avançados de geração de conteúdos tem originado, nas áreas de produção de pensamento e conhecimento, um aceso debate sobre o futuro dos museus e sobre a viabilidade das profissões museológicas. Na sessão inaugural da Escola de Verão de 2024, os «keynote speakers» foram desafiados a refletir sobre o potencial e as limitações da Inteligência Artificial no trabalho dos museus.

18:30 / Dilemas digitais: liderança museológica e estratégica (online)

O International Red Cross and Red Crescent Museum opera na fronteira entre a vida quotidiana, a ação humanitária e a arte, centrando-se nas questões e nos valores do humanitarismo – passado, presente e futuro. Promove estes valores através da produção de conteúdos inovadores e interdisciplinares, que estimulam debates essenciais e nos inspiram a imaginar novos futuros possíveis. Para 2023-2024, o museu escolheu como foco dos seus esforços de envolvimento com o público os «dilemas digitais». Com este tema, o museu procurou iniciar uma discussão sobre o impacto das tecnologias digitais na experiência humana. O museu utilizou o tema «dilemas digitais» como plataforma para uma investigação interdisciplinar e para o diálogo com o público, tendo servido de base para o desenvolvimento de um vasto programa de eventos, incluindo palestras, mesas-redondas, workshops e um horário de abertura noturno. Participantes de diversos quadrantes – incluindo artistas, educadores, ativistas humanitários, profissionais de museus e membros do público – foram convidados a debater, discutir, considerar e repensar o modo como podemos responder aos desafios digitais emergentes de uma forma progressiva e cívica. Nesta palestra, partilhamos algumas das principais lições do trabalho que realizámos nesta área e convidamos os profissionais e estudantes de museologia a pensar no museu como espaço onde as ideias são criadas e não apenas exibidas.
Oonagh Murphy – Goldsmiths, University of London (online)Pascal Hufschmid – International Red Cross and Red Crescent Museum, Genebra (online)

19:00 / Reenquadrando mitos, remodelando futuros: inovar com, para ou através da I.A.

Nas atuais experiências com aplicações de I.A., rapidamente se referem as oportunidades de substituição de funções e processos criativos. Os especialistas, os criadores, os académicos e as grandes instituições culturais veem-se confrontados com uma súbita necessidade de justificar os seus papéis: o que é um artista? O que é a criatividade numa era dominada pela I.A.? Pode um conjunto de algoritmos ser criativo? Será que a criatividade é sobrevalorizada? Num turbilhão de arrogância e receios, muitos acautelam: as aplicações dos «Large Language Models» (LLM) e da I.A. generativa trazem consigo um sem-número de questões éticas, políticas, ambientais e sociais que podem ser ofuscadas pelos debates filosóficos sobre a criatividade da I.A. Esta apresentação sugere que as metáforas, os mitos e os imaginários que criamos em torno da I.A. sejam pistas para perceber o valor que atribuímos, atualmente, ao papel da criatividade, da imaginação e da inovação nas nossas vidas.
Sandra Rodriguez – Massachussetts Institute of Technology, Cambridge, e Voulez-vous, Montreal
Moderação:
Helena Barranha – Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, e Instituto de História da Arte (IHA) – NOVA FCSH, Lisboa

PARTILHANDO O PODER

09:30 / Acolhimento

Painel 1 – Museus revolucionados: a arte de ontem, hoje

Os debates sociais dos dias de hoje exigem o repensar dos modos de apresentação das coleções museológicas. De exposições permanentes a instalações temporárias, da prioridade dada à voz do museu à polifonia de interpretações em sala, são várias as estratégias seguidas por museus europeus. Este painel reúne dois projetos que se distinguem pela tomada de risco e abordagens inovadoras de instituições com mais de um século de existência.

10:00 / Como cativar o visitante moderno: estratégias do BELvue Museum para manter a relevância na atualidade

Numa paisagem cultural em constante evolução, os museus precisam de adaptar-se continuamente para manterem a sua relevância. Esta comunicação explora as estratégias inovadoras utilizadas pelo BELvue Museum, em Bruxelas, para atrair os visitantes modernos e melhorar a sua experiência. Serão discutidas a integração de tecnologias interativas, a programação inclusiva, e métodos narrativos dinâmicos, que cativam públicos diversos e promovem a educação para a cidadania. Através da análise de estudos de caso, serão destacadas iniciativas bem-sucedidas, tais como projetos participativos, exposições interativas e workshops educativos. Esta apresentação tem como objetivo proporcionar aos profissionais dos museus ideias implementáveis e ferramentas práticas que podem utilizar nas suas próprias instituições, assegurando que os museus cumprem o seu papel cívico e se mantêm espaços vivos, seguros e relevantes para todos os visitantes.
Aurélie Cerf – BELVue Museum, Bruxelas

10:20 / Trazer o passado para o presente: a arte islâmica e o museu na atualidade

Somos seres políticos, quer o queiramos ou não. Os museus são instituições públicas, que lidam automaticamente com questões de participação e representatividade enquanto elementos básicos das democracias, e de culturalismo em tempos de racismo e extremismo. O Museum für Islamische Kunst (Museu de Arte Islâmica), de Berlim, reorientou o seu trabalho nesta direção. Em termos de programação, projetos como o «Multaka», em que refugiados de guias em museus, promovem a participação social. Este projeto abriu as portas da «Ilha do Museus» de Berlim a muitos milhares de novos cidadãos. Por outro lado, o programa nacional «Tamam», que trabalha com comunidades em torno de mesquitas, está orientado para grupos marginalizados estabelecidos. Mas o mais importante de tudo é: que histórias contamos? Imagens culturais fechadas do «outro», ou a cultura como expressão de intercâmbio, cruzamento, migração de ideias e pessoas, e pluralidade? Procuramos reforçar as identidades culturais abertas de diferentes formas: online, no nosso novo portal; presencialmente, através da renovação da nossa exposição permanente; e ainda fora de portas, em escolas, clubes de jovens e junto de editoras de publicações educativas.
Stefan Weber – Museum für Islamische Kunst, Berlim (online)
Moderação:
Jessica Hallett – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa— INTERVALO 20 MIN —

Painel 2 – Curadorias participativas: democracia em ação?

Os projetos participativos realizados nos museus de arte têm as suas raízes nos museus comunitários e/ou de História e memória. Pela sua essência, requerem uma partilha de poder e de palco. Em que beneficiam os museus de arte com a introdução das metodologias participativas nos seus processos? As filosofias e metodologias escolhidas pelos projetos em discussão neste painel demonstram com clareza a necessidade de correr riscos para criar novos caminhos.

11:20 / Quem escreveu essa palavra?

«O Poder da Palavra» é um projeto de curadoria participativa que convida os cidadãos de Lisboa a investigar a coleção de arte islâmica do Museu Calouste Gulbenkian, em conjunto com as equipas de curadoria e de mediação do Museu e investigadores convidados. Começou como um projeto-piloto, em 2019, e está agora na sua sexta edição, tendo um alcance e impacto crescentes. Cada edição parte de uma palavra-chave (Peregrinação; Fábulas; Mulheres) e cruza metodologias diversas para definir um caminho que promova o envolvimento, alargue o conhecimento e democratize o processo de criação de exposições. As palavras sob a forma de poesia, literatura épica e aprendizagem, bem como a Palavra do Alcorão, têm uma ressonância poderosa nas culturas islâmicas. Deste modo, o projeto começou com uma leitura de inscrições em que falantes de árabe, persa e turco trouxeram à vida a palavra escrita medieval, quebrando o silêncio em torno destes «objetos falantes». Rapidamente, as palavras passaram a ser entendidas como cultura e património, mais do que linguagem, e o projeto passou do ato de tradução para a criação de conhecimento, através da investigação partilhada, da interpretação individual e em grupo, e da narração de histórias. Esta comunicação adota uma abordagem crítica a estas experiências para analisar a evolução do processo participativo. As palavras são poderosas. E quem as diz e as escreve dentro de um museu detém poder. Onde está esse poder hoje, depois de seis colaborações?
Jessica Hallett – Museu Calouste Gulbenkian, LisboaDiana Pereira – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

11:40 / Políticas e poéticas do fazer (em) coletivo: inquietudes a partir da experiência da PELE no campo das práticas artísticas comunitárias

Maria João Mota – Coletivo PELE, Porto

12:00 / Conselho Consultivo Jovem: processos participativos de escuta e mudança

Durante o último ano, o CAM tem procurado abrir espaço para a integração da voz dos jovens na sua ação futura. Um dos passos fundamentais nesse sentido foi a criação de um Conselho Consultivo Jovem, constituído por nove pessoas que, durante um ano, refletiram com a equipa do CAM sobre as necessidades das novas gerações, lideraram processos de mudança a partir da sua perspetiva, contribuíram com ideias e sugestões, e participaram na ação e no desenho da programação do CAM. Nesta comunicação partilhamos este processo e os seus desafios, bem como os efeitos de gerar efetivamente um espaço de escuta e de abertura para a participação de jovens na tomada de decisão estratégica do CAM nas áreas de programação, curadoria, coleção, divulgação, comunicação e educação.
Susana Gomes da Silva – CAM (Centro de Arte Moderna Gulbenkian), LisboaJoel Moreira – Conselho Consultivo Jovem do CAM (Centro de Arte Moderna Gulbenkian), Lisboa

12:20 / Cocuradoria da South Asia Gallery do Manchester Museum: práticas participativas inclusivas

Esta comunicação explora a experiência de cocuradoria com um coletivo de 30 pessoas, levada a cabo durante um período de 5 anos. Nusrat Ahmed reflete sobre a abordagem adotada e partilha as lições aprendidas neste projeto de trabalho participativo inclusivo com as comunidades. A South Asia Gallery do Manchester Museum surge de uma parceria emblemática com o British Museum, sendo a primeira galeria permanente do Reino Unido dedicada a explorar o património, as histórias, as experiências e a cultura da diáspora da Ásia Meridional. A galeria foi desenvolvida com base no espírito de colaboração e coprodução com um coletivo único de educadores, líderes comunitários, artistas, historiadores, jornalistas, cientistas, músicos, estudantes e outros membros da diáspora sul-asiática. A South Asia Gallery, inaugurada em fevereiro de 2023 perante grande entusiasmo global, rapidamente se destacou enquanto iniciativa inovadora e premiada. Ao centrar as vozes, as perspetivas, as experiências e os conhecimentos de diferentes sensibilidades da diáspora, a galeria tornou-se um exemplo na apresentação de uma visão contemporânea e estimulante da cultura do Sul Asiático e das regiões da Ásia de influência britânica. Desde a sua abertura, a galeria apresenta-se como um espaço para conexões emocionais e novas narrativas, onde as experiências vividas e as coleções dialogam entre si.
Nusrat Ahmed – Manchester Museum (online)
Moderação:
Marta Branco Guerreiro – In2PAST/Instituto de História da Arte (IHA) – NOVA FCSH, Lisboa

12:40 / Debate

— INTERVALO 90 MIN —

Painel 3 – Redes e parcerias: o efeito multiplicador

Escolher o trabalho em rede, quando se trabalha em museus, nem sempre surge como um caminho apetecível. É necessário gerir agendas diferentes, velocidades diferentes, cronogramas diferentes. Quais são então as mais-valias deste tipo de trabalho? Os estudos de caso aqui apresentados demonstram o poder multiplicador do trabalho em rede e em parceria, identificando metodologias comuns em territórios diversos.

14:30 / Tu e eu somos mais que 26: Museu na Aldeia

Era manhã cedo. Sentaram-se à mesa alguns técnicos municipais e artistas que passavam por perto. Nenhum assunto ou interesse pareciam ter em comum. Na verdade, algo tinham em comum: a vontade de encontrar um caminho que pudessem descobrir juntos. Falou uma museóloga, mas eram músicos habituados a outras pautas que a ouviam. Não bastasse a diversidade de línguas, alguém colocou em cima da mesa 26 mapas, coisa pouca comparada com 26 presidentes de câmara e mais 26 vereadores da cultura. O que teceram juntos foi um manto maior que abateu muros de museus e de artistas, fecundou novas obras e criou outros lugare. Assim nasceu o «Museu na Aldeia», um projeto de intervenção artística e social, focado na população idosa em áreas rurais e isoladas, no qual 13 museus e 13 aldeias de 26 municípios portugueses se uniram numa grande rede. Comunidades interagiram com profissionais de museus, artistas e entidades locais, para partilharem o seu património cultural e reviverem tradições.
Vânia Carvalho – Museu de LeiriaPaulo Lameiro – SAMP (Sociedade Artística Musical dos Pousos), Leiria

14:50 / «Azimute»: uma nova fronteira da cidadania cultural

O projeto piloto «Azimute», uma iniciativa do Aga Khan Trust for Culture - Education Programme, foi concebido para promover o conhecimento e a valorização da herança islâmica portuguesa, com foco na diversidade como chave para entender e interiorizar a História. Desenvolvido pela Mapa das Ideias, envolve estudantes e docentes em atividades de curadoria e reflexão cívica, fomentando redes de parcerias que amplificam o seu impacto. A metodologia valoriza o pluralismo, encorajando a colaboração entre as comunidades escolares e instituições culturais, gerando um efeito multiplicador que fortalece o diálogo, a empatia e a inclusão numa sociedade culturalmente diversa.
Inês Câmara – Mapa das Ideias, OeirasRaj Isar – Aga Khan Trust for Culture, Lisboa

15:10 / DES/CODIFICAR BELÉM: arte e ativismo nas ruas e dentro do museu

Como envolvemos os museus no trabalho ativista e em processos de pensamento coletivo crítico da história local e material? «DES/CODIFICAR BELÉM» é um laboratório de cidadania ativa do coletivo FACA, que problematiza as narrativas hegemónicas e dissensões no espaço público. Este projeto de curadoria, produção artística, e mediação, trabalha de modo crítico e interseccional o espaço público e a sua herança colonial em Lisboa, especificamente na zona de Belém. O projeto contou com o apoio de dois museus de arte contemporânea: o Museu Coleção Berardo (atual MAC/CCB), e o MAAT: Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, pela sua proximidade e relação com o território a problematizar. Nesta apresentação serão discutidos os objetivos do projeto, o envolvimento de artistas convidados, os processos de pensamento/cocriação com jovens, e o papel que os museus parceiros tiveram ao longo do processo.
Andreia Coutinho – Coletivo FACA, LisboaMaribel Mendes Sobreira – Coletivo FACA, Lisboa

15:30 / Os museus enquanto laboratórios para as competências democráticas

A relação museu/escola é o eixo de reflexão desta comunicação, que apresenta a parceria desenvolvida entre o Museu Calouste Gulbenkian e a Rede de Bibliotecas Escolares, intitulada «Desafio de Projetos». Este programa demonstra como os museus se podem transformar em verdadeiros laboratórios para o desenvolvimento de competências democráticas, alcançando até públicos alheados do quotidiano do museu, nomeadamente em zonas periféricas e remotas. Desenvolvendo projetos criativos e/ou de investigação colaborativos e interativos, o «Desafio de Projetos» estimula a participação ativa dos alunos, professores e professores-bibliotecários, promovendo o pensamento crítico, a criatividade, a empatia e o diálogo. Ao proporcionar acesso a recursos culturais e educativos de alta qualidade, o programa contribui para a formação de cidadãos mais conscientes e ligados à comunidade e à importância do património cultural. Conjugando parcerias críticas e abordagens pedagógicas e tecnológicas potenciadoras da acessibilidade e da inclusão dos públicos escolares, este tipo de projetos evidencia o papel fundamental dos museus na democratização do acesso à cultura e ao conhecimento.
Ricardo Mendes – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa
Moderação:
Beatriz Saraiva – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

15:50 / Debate

— INTERVALO 20 MIN —

16:30 / Mesa-redonda: para que serve este museu?

Durante o verão de 2024, o conselho consultivo do Programa Cidadãos Ativ@s debruçou-se sobre a exposição permanente do Museu Calouste Gulbenkian e sobre como esta interpela os seus visitantes. De que maneiras promove o bem-estar, o conhecimento, a inclusão, e a cidadania? Nesta mesa-redonda com membros do conselho consultivo, falamos sobre as principais conclusões deste diagnóstico, bem como sobre as boas práticas relacionadas com o modelo de auscultação cívica dos conselhos consultivos.
Pedro Peixoto – Grupo Consultivo do Programa Cidadãos Ativ@s da Fundação Calouste Gulbenkian, LisboaLaís Pinto – Grupo Consultivo do Programa Cidadãos Ativ@s da Fundação Calouste Gulbenkian, LisboaAugust Knocke – Grupo Consultivo do Programa Cidadãos Ativ@s da Fundação Calouste Gulbenkian, LisboaSusana Padilha – Grupo Consultivo do Programa Cidadãos Ativ@s da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Moderação:
Mariana Abreu – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

PARTILHANDO SISTEMAS

09:30 / Acolhimento

09:30 / Políticas e poéticas do fazer (em) coletivo: metodologias e dispositivos para a mediação, participação e criação em contexto comunitário

A arte convida-nos à experiência do desconhecido, possibilita outras – e muitas vezes desconhecidas –, formas de olhar, (re)conhecer e provocar a(s) realidade(s). A sua dimensão poética e política é um espaço fértil para o questionamento, projeção, e construção coletiva de novos futuros. Possibilita-nos a desocultação e reescrita de narrativas individuais e coletivas, e propõe a troca de papéis. Permite-nos a redescoberta do nosso corpo e dos outros corpos, de novos movimentos, sons, olhares… Um exercício de descolonização dos sentidos, de imaginação e ternura radical, uma redescoberta e uma reconstrução de uma poética e potência pessoal e coletiva: um corpo comum enquanto sujeito político. Este «lugar comum da arte», na sua dimensão física e simbólica, é o espaço de encontro para esta masterclass que convida as pessoas participantes a uma experiência criativa imersiva, sensorial, emocional e lúdica. Propõe ainda uma reflexão crítica sobre as práticas de desejo e risco no contexto das instituições e estruturas culturais e do seu potencial na criação de espaços de ressignificação, resistência e transformação social.
Masterclass com Maria João Mota, Sala 1 (sem transmissão em direto)
Apresentação:
Ana Maria Campino – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

10:00 / Romper, criar, democratizar: o uso indevido da tecnologia por artistas e cidadãos para reformular o futuro

A Inteligência Artificial, assim como outros meios de comunicação emergentes (XR, RV, RM), é cada vez mais apreciada pelas potencialidades que pode trazer a processos criativos específicos, gerindo fluxos de trabalho, acelerando os processos de renderização ou apoiando novas formas de envolvimento do público. Entre o medo de perder a corrida ao ouro da I.A. e o medo de cair nas suas óbvias armadilhas, as instituições culturais, os artistas e os cidadãos veem-se perdidos entre as promessas das aplicações de I.A., o entusiasmo pelas novidades tecnológicas e a constante redefinição dos seus papéis criativos. Porém, se a I.A. for rapidamente proclamada como uma solução fácil para problemas ainda por definir, não é uma panaceia – nem um substituto para a ação humana. Não se trata de uma, mas de um conjunto de tecnologias que são o produto de escolhas políticas, sociais e económicas. Com foco no enigma da I.A., esta masterclass baseia-se em trabalhos anteriores da artista Sandra Rodriguez, que usa «indevidamente» a tecnologia, «big data» e I.A., para desmistificar o seu potencial.
Masterclass com Sandra Rodriguez, Auditório 2 (sem transmissão em direto)
Apresentação:
Maxence Garde – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa— INTERVALO 20 MIN —

Painel 4 – O museu cidadão: histórias difíceis, identidades contestadas

Os museus e as suas coleções tornaram-se objeto de debate e contestação no âmbito da construção de narrativas histórico-identitárias e das questões éticas de propriedade e conflito. Este painel apresenta estudos de caso em distintos momentos de maturidade na investigação, identificação de atores e processos de negociação nestes difíceis processos.

11:20 / Crime nas coleções museológicas: encontrar padrões para histórias escondidas

A investigação de proveniências nos museus tem tradicionalmente sido reativa, centrando-se em objetos individuais que possuem histórias questionáveis. Mas, e se o crime que esperamos encontrar nos impede de ver o panorama mais amplo das coleções dos museus? Haverá formas de revelar padrões mais alargados de comportamentos antiéticos ou criminosos nas relações subjacentes às coleções museológicas? Nesta comunicação, Donna Yates apresenta o que foi descoberto através da utilização de um modelo assistido por computador que prevê padrões e ligações plausíveis – «pistas» ou «boas dicas» – a partir de um conjunto de dados derivados de textos relacionados com o comércio de antiguidades. Os resultados sugerem um possível esquema, que existiu ao longo de várias décadas, e que envolveu a doação de antiguidades de baixo valor a museus como forma de «lavagem de reputação», potencialmente precedendo a fraude criminal. Este trabalho realça a necessidade de ferramentas inovadoras que consigam analisar as redes complexas nas quais os objetos de museu existem.
Donna Yates – Maastricht University

11:40 / Ética, investigação de proveniências e museus: uma visão crítica

Desde 1998 que a investigação de proveniências, inicialmente uma atividade opcional e circunscrita a historiadores de arte e curadores, tem vindo a evoluir no sentido de se tornar uma indústria internacional de nicho, existente na sua maior parte na América do Norte e na Europa. Em muitos casos, esta prática redefiniu as prioridades de dezenas de instituições culturais e obrigou governos a encararem esta atividade de forma séria. A investigação de proveniências é fortemente recomendada a leiloeiras, galerias e museus, bem como a colecionadores privados e marchands de arte, como forma de evitar eventuais problemas jurídicos decorrentes de uma origem questionável dos objetos que estão à sua guarda. A investigação de proveniências também melhora a pegada ética de qualquer instituição que adira a esta prática, tornando-a parte dos procedimentos regulares de gestão das suas coleções e futuras aquisições. Ao fim de 26 anos, encontramo-nos bem posicionados para avaliar em que medida o mundo da arte e do património cultural em geral tem vindo a adotar a investigação de proveniências como componente essencial de diligência devida. As instituições culturais privadas e públicas têm prioridades diferentes, em função das suas distintas estruturas organizacionais. Porém, têm algo em comum: possuem objetos e obras de arte e recebem regularmente visitantes vindos de longe, que esperam informar-se e deslumbrar-se com estas coleções. Estas instituições também fazem aquisições, solicitam empréstimos e cedem objetos, e organizam exposições para apresentar ao público as suas coleções ou a produção artística de autores e criadores de todas as épocas. A investigação de proveniências ajuda as instituições a moldar a narrativa utilizada para explicar os objetos das suas coleções. Esta apresentação pretende analisar a forma como a investigação de proveniências é utilizada (ou não) em instituições públicas e privadas, e se essa investigação influencia as instituições na decisão sobre o destino dos objetos das suas coleções. Serão também analisadas brevemente as ferramentas disponíveis para levar a cabo essa investigação, bem como os desafios enfrentados pela maioria dos museus na adoção da investigação de proveniências como prática habitual.
Marc Masurovsky – The Holocaust Art Restitution Project, Washington D.C.

12:00 / À sombra da Ciência: as coleções coloniais do Museu de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa

Em agosto de 2015, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência recebeu do governo português as coleções científicas do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical. As coleções – que perfazem um total de 2,5 milhões de objetos e 5 km de documentação – são o resultado de 118 missões cartográficas, arqueológicas, zoológicas, botânicas, geológicas e antropológicas realizadas entre a década de 1880 e 1974 nas antigas colónias portuguesas em África e na Ásia. Apesar de muito bem documentadas, estas coleções quase não estavam acessíveis a investigadores externos e muito menos ao público em geral. Além disso, a narrativa institucional predominante destacava Portugal como uma «boa potência colonizadora» e a ciência como instrumento de desenvolvimento económico e de cooperação. Desde então, o Museu tem levado a cabo um extenso programa de «descolonização», investigando a história destas coleções, estabelecendo critérios para identificar objetos de extrema sensibilidade, apresentando exposições, trabalhando com as comunidades de origem e museus em África, e recuperando dados e vozes ocultos. Nesta comunicação, são discutidos os valores, métodos e resultados do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, destacando os principais desafios e dilemas, em particular a evidência de violência e sofrimento extremos, a morte e os memoriais, o papel das artes performativas na interpretação pública, questões de investigação científica «fora de tempo» e o legado do colonialismo no Portugal e na Europa do presente.
Marta Lourenço – Museu de História Natural e da Ciência, Lisboa (online)
Moderação:
Inês Fialho Brandão – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

12:20 / Debate

— INTERVALO 90 MIN —

Painel 5 – Digital-qualquer-coisa: cidadania e conhecimento

As práticas digitais questionam diretamente a autoridade, a voz e a centralidade do conhecimento técnico e especializado que o museu propõe. Neste painel, conhecemos projetos que souberam resolver este conflito, reformulando o papel do museu de produtor exclusivo de conhecimento, tornando-o mediador da informação ou criação resultantes.

14:30 / «Cartas da Natureza» para os museus: experiências e práticas em ciência cidadã

A ciência cidadã é parte de várias estratégias de investigação e educação quer pela sua importância em termos de produção de conhecimento, quer pelo seu papel na abertura, transparência e compreensão dos processos científicos. Nas ciências naturais, os cidadãos voluntários têm desempenhado um papel fundamental na recolha de dados e na conservação da biodiversidade, desde o simples registo da presença de plantas, insetos, aves ou mamíferos à sua volta, até à deteção do abate ilegal de árvores ou o mapeamento da poluição marinha. Estas práticas de ciência cidadã têm um impacto significativo nos próprios cidadãos, que reportaram resultados positivos na aquisição de conhecimentos e competências, interesse pela ciência e mudanças de comportamento em relação ao ambiente. O projeto «Cartas da Natureza» promoveu a descoberta de dados históricos sobre a biodiversidade a partir da transcrição colaborativa de milhares de documentos manuscritos, trazendo centenas de cidadãos para os arquivos digitais de um departamento universitário. Com base nesta experiência, analisaremos as oportunidades e os desafios das iniciativas de ciência participativa, analisando as aplicações atuais e potenciais em museus e a satisfação de envolver as pessoas nas nossas instituições.
António Carmo Gouveia – Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação, Universidade de Coimbra

14:50 / Miradouro do futuro: a abordagem XR para a interpretação do património cultural

Esta apresentação explora a forma como as tecnologias de I.A. e XR podem moldar o futuro da interpretação do património cultural, equilibrando a inovação tecnológica com os valores humanos. Partindo da sua formação em design e da sua especialização em I.A., Megan Ammari disserta sobre como estas tecnologias podem potenciar os museus e as instituições culturais através de experiências imersivas e interativas que cativam o público de forma inovadora. Esta comunicação realça o potencial dos repositórios culturais digitais e das experiências XR para democratizar o acesso ao património, potenciando a colaboração e o debate entre profissionais de cultura. Megan Ammari defende uma abordagem colaborativa, onde a I.A. e as Humanidades trabalham em conjunto para criar um futuro que honra o passado ao mesmo tempo que se abre a novas possibilidades.
Megan Ammari – Investigadora independente, Lisboa

15:10 / Convite aberto: construindo redes e conhecimento através da participação digital

Emily Cain – Smithsonian Institution, Washington D.C. (online)

15:30 / Museobot. Processos artificiais para curadorias naturais

Inês Fialho Brandão – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa
Moderação:
Vera Mariz – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

15:40 / Debate

— INTERVALO 20 MIN —

16:20 / Mesa-redonda: o futuro é hoje?

Jovens Relatores da Escola de Verão
Moderação:
Patrícia Simões – Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa

16:40 / Encerramento

A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através do formulário Pedido de Informação.

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