Conversas sobre Sarah Affonso

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Em torno da obra e da vida de Sarah Affonso realizar-se-á um encontro com diversos especialistas nas várias áreas temáticas abordadas pelas duas exposições simultâneas: do retrato à ilustração, dos bordados e têxteis à cerâmica, à atenção que prestou à cultura popular, em particular à emblemática região do Minho, ao pensamento criativo que desenvolveu para uma pedagogia focada na divulgação da educação feminina, e a uma relação privilegiada com a matéria vegetal, tema das primeiras e derradeiras obras, com a qual floresceu e sustentou a sua casa.

Este evento decorre no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (manhã) e no Museu Calouste Gulbenkian (tarde).

 

PROGRAMA

Museu Calouste Gulbenkian
Apresentação da sessão e dos convidados

 

Sarah, Raquel, Tagarro, Nobre e outros. Práticas artísticas e destino português
Vasco Rosa

A suspensão — ou derivação — da carreira artística de Sarah Affonso não foi caso único, no contexto português dos anos 1920-30: exiguidade do mercado de arte; enorme dificuldade das mulheres artistas em afirmarem o seu protagonismo e visibilidade, mesmo entre os seus pares. Percorrendo alguns casos de artistas plásticos como ela subestimados ou esquecidos pela crítica e história da arte, procura-se entender esse bloqueio e respetivo efeito pernicioso sobre o reconhecimento — e valorização — das suas individualidades artísticas, que chegou até aos dias de hoje. 

Vasco Rosa nasceu em Lisboa em 1958. Editor, investigador independente e jornalista, dedica particular atenção às artes e letras portuguesas dos anos 1920-40. Autor de cinco livros sobre Raul Brandão, publicou em co-autoria uma obra sobre Bernardo Marques. Escreve habitualmente no Observador, desde junho de 2014.

 

Os modernismos e o culto da arte popular
Vera Marques Alves

Como nota Ana Vasconcelos no catálogo da exposição Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho (2019), no mesmo ano em que a artista portuguesa pintava Estampa Popular, onde evocava a imagética dos bonecos de barro de Barcelos, o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), dirigido por António Ferro, oferecia exemplares desse mesmo figurado aos visitantes do Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional de 1937, em Paris.

Será erróneo tentar encontrar uma relação direta e imediata entre a campanha folclorista levada a cabo por Ferro (no seio da qual as mostras de arte popular tiveram amplo destaque) e a criação plástica que  Sarah Affonso desenvolveu nos anos 30. Mas será igualmente incorreto recusar qualquer conexão entre ambas. Para abordarmos as aproximações de Ferro e de Sarah Affonso à arte popular portuguesa durante a década de 30, e perceber o modo como terão confluido, teremos contudo de afastar-nos das fronteiras nacionais e recuarmos aos anos 20, considerando, acima de tudo, o contexto internacional de intensa circulação de ideias entre intelectuais e artistas modernistas das mais diversas origens – do qual participaram os dois portugueses  –, e o modo como, aí, a afirmação do moderno várias vezes se conjugou com a apologia da cultura popular e da identidade nacional. 

Vera Marques Alves é antropóloga e investigadora do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA). Fez investigação sobre os usos nacionalistas da «arte popular portuguesa» durante o Estado Novo, continuando a fazer pesquisa sobre a construção moderna desta categoria de objetos. Colaborou nas obras coletivas Vozes do povo. A folclorização em Portugal (2003), Enciclopédia da música em Portugal no século XX (2010) e Como se faz um Povo (2010). É autora de Arte popular e nação no Estado Novo. A política folclorista do Secretariado da Propaganda Nacional (Imprensa de Ciências Socais (2013).

 

Que Minho era o de Sarah Affonso?
João Alpuim Botelho

O Minho foi, desde muito cedo, objecto de narrativas que celebraram a sua paisagem e as suas gentes, onde, no dizer de Camilo Castelo Branco, a rusticidade era o derradeiro baluarte da pureza, e os lavradores eram os cândidos pastores da Arcádia.

Estas descrições foram sendo repetidas por visitantes, escritores e estudiosos e a visão oficial da região foi sendo feita através de uma adjectivação exagerada, onde destaco o termo “pitoresco”, ou mesmo a sua versão mais antiga “pinturesco”, que, etimologicamente indica um local digno de ser pintado.

Esta “imagem oficial” da região cruza-se com o olhar de Sarah Affonso, tendo como ponto de partida a sua carta de setembro de 1933 onde afirma “ficava cá este inverno a pintar e, portanto, a prolongar o estado de graça em que me encontro. Esta região é um campo inédito em pintura. Tudo são quadros à espera de pintores”.  

Na apresentação, procurarei cruzar esta “região à espera de pintores” de Sarah Affonso com o “pinturesco” da visão oficial.

João Alpuim Botelho é museólogo e diretor do Museu Bordalo Pinheiro (EGEAC) desde 2014 e foi diretor do Museu do Traje de Viana do Castelo (2005 – 2013). Comissariou, com Ana Vasconcelos e Melo, a exposição Sarah Affonso Memórias do Minho (1999) no centenário do nascimento da pintora, que se realizou no Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo.  É co-autor com Benjamim Pereira e António Medeiros de Uma imagem da nação:traje à vianesa, editado pela Câmara Municipal de Viana do Castelo (2009).


Assista à transmissão em direto.


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