Uma seleção de obras da Coleção do Fundador em exposição na vitrina dedicada à Arte do Livro dos séculos XII a XVI.
A humanidade do filho de Deus é fundamental para o Cristianismo. O Novo Testamento manifesta claramente a ideia que Jesus possui um corpo:
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós. (João 1:14).
Segundo os relatos dos diferentes Evangelhos foi através desse corpo que sentiu dor, fome, sede, fraqueza. Experimentou a morte e o seu corpo ressuscitado foi observado por alguns dos seus seguidores, ajudando a confirmar a sua humanidade (João 20:27) (Lucas 24:39).
O humano e o divino coexistem em Cristo, carne e palavra, um ser, duas naturezas (São Leão Magno, 390-451 d. C.). Embora S. Mateus trace a linhagem do Salvador, revelando a sua origem judaica (Mateus 1:1), a aparência física de Jesus Cristo permanece desconhecida. A partir do segundo Concílio de Niceia (787 d. C.), afastada a questão iconoclástica, que proibia a adoração de imagens de cunho religioso, assiste-se ao incremento da representação imagética, sobretudo cristológica, seguindo de perto as convenções religiosas e as exigências que os comanditários impunham.
Às múltiplas faces de Cristo representadas nos livros de horas aqui reunidos, produzidos entre o século III e o início do século XVI, acrescentamos uma peça única de René Lalique, adquirida por Calouste Gulbenkian diretamente ao artista. É uma notável citação de piedade (pathos), produzida no início do século XX, que mantém viva a representação tipificada de um Cristo sofredor, tão humano quanto transcendente.