«Desenhos do Corpo» foi uma iniciativa conjunta entre a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e o Museu José Malhoa. Tendo como eixo central a temática do corpo, a exposição apresentou um total de 75 obras de desenho, todas de autores portugueses pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da FCG.

O acervo exposto balizou-se entre o início e o fim do século XX. Obras de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), Mário Eloy (1900-1951), Bernardo Marques (1898-1962), Gaëtan (1944-2019), Julião Sarmento (1948), Pedro Sousa Vieira (1963) e Rui Chafes (1966) protagonizaram as reflexões sugeridas pela curadoria, pensando o desenho como um dos meios expressivos mais imediatamente ligados ao corpo e em que este, além de abundar como tema, se afirmasse sempre como veículo direto da expressão.

A exposição inaugurou primeiro nas Caldas da Rainha, onde ficou patente de 22 de julho a 24 de setembro de 1995. De 10 de outubro a 31 de dezembro desse ano seria a vez de ser apresentada em Lisboa, na Galeria do CAMJAP (piso 01). O catálogo, como a exposição, foi organizado em seis núcleos temáticos, que estimularam diálogos entre referências históricas da arte moderna portuguesa, como Amadeo, Marques ou Eloy, e perspetivas contemporâneas que iam da autorrepresentação em Gaëtan às expressões da sexualidade em Sarmento; da sensualidade inquietante em Chafes à recuperação do desenho como automatismo psíquico em Sousa Vieira (que mantém com a obra surrealizante de Eloy, nos anos 20 e 30 portugueses, uma possível interlocução).

Da parte da Fundação Calouste Gulbenkian, Alice Costa Guerra (curadora do CAMJAP) e Rui Sanches (diretor-adjunto do CAMJAP) assinam o comissariado da exposição, cabendo a Paulo Henriques a representação do Museu Malhoa, do qual era então diretor. É ele que redige o texto curatorial mais extenso do catálogo, antecedido por uma contextualização do desenho na coleção do CAMJAP escrita por Guerra («Desenhos do Corpo», 1995). É também ela que redige as breves biografias dos artistas expositores que constam no catálogo. A FCG editou ainda um jornal de exposição, onde constariam outros textos biográficos, juntamente com um excerto do texto curatorial de Paulo Henriques e a introdução de Alice Guerra, publicada na íntegra (Desenhos do Corpo [Jornal de exposição], 1995).

Temática intemporal, o corpo merecia um novo incremento de atenção na história da arte do final do século XX. O chamado regresso à pintura e à escultura, durante a década de 1980, apelou a releituras e reenquadramentos da figuração humana.

Apresentando com solidez um acervo muito relevante de desenho português moderno e contemporâneo, «Desenhos do Corpo» gozou de atenção internacional, merecendo da parte do crítico de arte francês Hervé Gauville um artigo sobre a mostra no célebre jornal parisiense Libération (edição de 25 e 26 de novembro de 1995).

Muitas das peças expostas eram, à data, parte das mais recentes aquisições da FCG neste período. Nomeadamente todas as obras de Rui Chafes, Pedro Sousa Vieira, Julião Sarmento e Bernardo Marques que foram expostas nesta ocasião. Estas incorporações pretendiam assim consolidar, na importante área do desenho, alguns núcleos autorais já existentes na coleção ou, como no caso de Pedro Sousa Vieira, continuar a abri-la a autores portugueses contemporâneos.

Daniel Peres, 2019