Exposição de fotografia organizada no âmbito de uma colaboração entre o Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) e o Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, na organização do projeto expositivo, com o apoio institucional da Quinta das Lágrimas, de Coimbra, e da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, de Lisboa.

Intitulando-se «Sur les Traces de la Reine Morte», o conjunto de fotografias da autoria de Jean-Michel Guillaud retratou a mise-en-scène de uma performance de dança homónima com interpretação e coreografia de Karine Saporta e textos de Sophie Lucet. O título constituía uma evocação do célebre e dramático episódio da história de Portugal segundo o qual Inês de Castro foi executada por ordem de D. Afonso IV e postumamente coroada rainha por D. Pedro I. A conjura de que foi vítima Inês de Castro, e que adquiriu feições de lenda ao longo dos séculos, inspirou numerosos artistas, escritores e poetas, nomeadamente Luís Vaz de Camões, que a imortalizaria n’Os Lusíadas.

A mostra fotográfica esteve patente, entre 22 de junho e 27 de julho, na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) – onde foi enriquecida pela cedência da escultura Inês de Castro, da autoria de João Cutileiro –, tendo viajado depois até ao Centre Culturel Calouste Gulbenkian, onde esteve em exibição entre 6 e 28 de outubro de 1994. No dia da inauguração em Paris, Karine Saporta e Sophie Lucet proferiram uma conferência intitulada «Les Vues de l'esprit».

Em Lisboa, a exposição foi realizada no âmbito do «Festival Francês: A Cultura da Descentralização», organizado pelo ACARTE com o apoio da Embaixada de França em Portugal e da Association Française d'Action Artistique. O programa deste festival foi vasto e diversificado, incluindo: um colóquio intitulado «As Políticas de Descentralização Cultural», em que participaram Yannick Guin, adjunto para os Assuntos Culturais da Câmara de Nantes, Jean-Pierre Wurtz, inspetor-geral dos Espetáculos (setor internacional) no Ministério da Cultura e da Francofonia, e Richard Martineau, diretor regional dos Assuntos Culturais da Região de Auvergne; peças de teatro, como La Retraite d'Eugène, apresentado pela companhia Travaux 12 – Équipe de Création Théâtrale (Ville de Valence), e Monstre Va!, com adaptação e encenação de Luc Antoine Diquero e Robert Cantarella; espetáculos de bailado, como Ulysse, apresentado pelo Groupe Émile Dubois – Centre Choréographique National de Grenoble, e Pour Antigone, apresentado pelo Centre Choréographique National de Montpellier Languedoc-Roussillon; espetáculos musicais, como Paris Musette, concebido por Didi Duprat, com os acordeonistas Jo Privat, Jean Corti e Daniel Colin; e as exposições «Sur les Traces de la Reine Morte» e «Scène Passion» – exposição de fotografia de Claude Gafner, que reuniu um conjunto de 32 painéis com a reprodução fotográfica de espetáculos de alguns dos mais importantes coreógrafos contemporâneos, como Pina Bausch, Jean Jourdheuil, Patrice Chéreau, Jorge Lavelli e Robert Wilson.

O projeto «Sur les Traces de la Reine Morte» foi fruto de uma colaboração franco-portuguesa, contando com intérpretes das duas nacionalidades, e foi realizado em locais relacionados com o imaginário poético da história de Inês de Castro e D. Pedro I, como a Quinta das Lágrimas, o Convento de Santa Clara, o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça e a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra.

Karine Saporta, intérprete da performance de dança, era considerada, à época, uma das mais importantes coreógrafas da Europa, quer pelos temas que abordava (centrados no corpo e nas emoções), quer pelo peculiar conjunto de métodos de trabalho, em que a improvisação assumia um papel nuclear. O universo onde este trabalho se desenvolvia era constituído por elementos barrocos e oníricos, abrigando tanto a figura humana como figuras de cera, histórias dramáticas e romances complexos.

«Sur les Traces de la Reine Morte» esteve ainda patente na Casa Municipal da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra (de 15 a 30 de setembro de 1994), no Musée des Beaux-Arts de Caen (em novembro de 1994), na Fundação da Quinta das Lágrimas, em Coimbra (em maio de 1995), e na Calouste Gulbenkian Foundation, em Londres (em setembro de 1995).

A exposição foi divulgada na Colóquio/Artes, revista trimestral de música, bailado e artes visuais, enquanto parte da programação do «Festival Francês: A Cultura da Descentralização». Em França, a imprensa enalteceu o conjunto fotográfico.

Carolina Gouveia Matias, 2018