Transparência Azul. Arte Nórdica Contemporânea com Destino à América do Sul

Exposição de pendor diplomático e itinerância internacional, organizada pelo Conselho de Ministros Nórdico. Em Lisboa, foi apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, paralelamente ao seu Festival Nórdico de Artes Musicais, Audiovisuais e Performativas. Deu-se assim enfoque à arte contemporânea nórdica, enquadrando-a no contexto europeu e global.
International travelling diplomatic exhibition organised by the Nordic Council of Ministers. The show was staged at the Calouste Gulbenkian Foundation for its presentation in Lisbon, at the same time as the Nordic Music, Audiovisual and Performative Arts Festival. The exhibition showcased contemporary Nordic art in the wider European and global context.

«Transparência Azul» foi uma iniciativa internacional concebida para dar expressão à arte contemporânea nórdica, no confronto com outros contextos culturais. Foi promovida pelo Conselho de Ministros Nórdico, sede de concertação entre os governos da Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia e respetivas áreas autónomas. Estreada em Estocolmo, Suécia (Moderna Museet, 23 fev. a 7 abr. 1991), a exposição deslocar-se-ia de seguida para a América do Sul, onde estaria patente em cinco países (Brasil, Uruguai, Argentina, Colômbia e Venezuela). Sempre em articulação direta com a rede mundial de embaixadas e consulados dos países nórdicos, retornaria à Europa vinda de Caracas (Venezuela), recomeçando a circulação por Portugal.

Seria apresentada em Lisboa, na Nave do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (CAM), de 28 de abril a 24 de maio de 1992. Informações internas apontam para a presença na inauguração da então ministra da Cultura da Noruega, Åse Kleveland (Ofício de José de Azeredo Perdigão para Pedro Santana Lopes, 23 abr. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 00273).

Com curadoria de Maaretta Jaukkuri (então curadora do Nykytaiteen Museo, atual Kiasma – Museu de Arte Contemporânea de Helsínquia), a mostra reuniu um total de 58 peças da autoria de artistas dinamarqueses, suecos, noruegueses, islandeses e finlandeses, nascidos entre 1945 e 1962. Os trabalhos envolviam desenho, pintura, gravura, escultura, instalação, por vezes explorando interceções de diversos media ou formas de expressão mais híbridas, que relegam para segundo plano demarcações disciplinares em sintonia com diversas práticas contemporâneas internacionais alicerçadas no minimalismo e na arte conceptual.

A edição do catálogo apresentado na FCG terá sido provavelmente aquela que foi preparada para a apresentação da mostra no Museu de Arte de São Paulo, a primeira das suas seis estadas sul-americanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Montevideu, Bogotá e Caracas). Traduzido em português do Brasil, apresenta ensaios densos, que intercalam a história da arte moderna do extremo norte europeu com a influência dos contextos artísticos mais consagrados e as narrativas históricas mais centralizadas. Aí sobressai, como questão-chave, a noção de periferia cultural, que acabou por ganhar particular eco, naturalmente, ora na periferia do mundo que era então a América do Sul, ora, claro está, na periferia da Europa, que era, consagradamente, Portugal.

Dado interessante, essa consideração da realidade nórdica como periférica – que talvez hoje nos surja algo insólita ou anacrónica – não passou em claro na imprensa portuguesa. José Luís Porfírio enuncia-a logo no título do seu artigo «Norte ou periferia? Um panorama da arte nórdica» (Expresso, 9 mai. 1992). Já Rocha de Sousa, numa aprofundada resenha dedicada à exposição, aponta fragilidades conceptuais à curadoria, contrastantes com a pertinência de algumas das contribuições do catálogo. Analisando-as, o crítico realça o texto de Øystein Hjort, «Servir a arte e ganhar o pão de cada dia», em que se esmiúça o estado do sistema económico dos meios artísticos dos diversos países nórdicos, confrontando políticas, o que os une e o que os separa, e levantando perspetivas para o futuro (Transparência Azul, 1991, pp. 36-67).

Tendo em conta a frequente comparação com os modelos nórdicos que começou a fazer-se sentir no sul da Europa – justamente intensificada por altura desta mostra na Gulbenkian –, o apelo de Rocha de Sousa a paralelismos com a realidade portuguesa, embora muito sumário, não deixa de se revestir de alguma pertinência (Sousa, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 19 mai. 1992, pp. 24-25). Seria, no entanto, de Eurico Gonçalves a reflexão mais alinhada com o âmbito da história da arte e que voltava a constatar o que, de facto, tanto a exposição como a sua receção crítica iam propondo: uma adesão destes jovens artistas nórdicos a uma certa internacionalização de linguagens (Gonçalves, Diário de Notícias, 10 mai., 1992, p. 9).

Com efeito, as suas propostas caem fora da batuta telúrica ou de afirmação de identidades regionais que a mostra poderia, à primeira vista, pressupor.

Concomitantemente à produção de «Transparência Azul», preparava-se a apresentação de um Festival Nórdico em Portugal (Carta de Göran Hasselmark para José Sommer Ribeiro, 29 mai. 1991, Arquivos Gulbenkian, CAM 00273). Seria organizado pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte da FCG (ACARTE), decorrendo de 1 a 28 de julho deste mesmo ano de 1992 – cerca de mês e meio após o fecho da exposição (Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00129). Consistiria num ciclo de apresentações de artes visuais e performativas contemporâneas de autores também escandinavos e foi igualmente diligenciado junto da teia de contactos estabelecida por ocasião da mostra.

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00273

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Entre os conteúdos, destaca-se o projeto de exposição e diversos diapositivos encaixilhados contendo imagens das peças apresentadas e aspetos de sala de algumas delas montadas em ocasiões anteriores. 1990 – 1994


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