UABC: Uruguai, Argentina, Brasil, Chile

Exposição coletiva da arte do Uruguai, da Argentina, do Brasil e do Chile após 1985. Organizada pelo Stedelijk Museum Amsterdam e comissariada por Wim Beeren, Dorine Mignot e Els Barents, esta mostra não pretendia apresentar um retrato abrangente do panorama artístico destes países, mas dar a conhecer o trabalho de artistas pouco conhecidos na Europa.
Collective exhibition of art from Uruguay, Argentina, Brazil and Chile post-1985. Organised by the Stedelijk Museum in Amsterdam and curated by Wim Beeren, Dorine Mignot and Els Barents, the show sought to promote the work of artists who were not well known in Europe, rather than presenting a broad panorama of art from the four countries.

Exposição coletiva, organizada pelo Stedelijk Museum Amsterdam, que teve como primeiro objetivo revelar os mais recentes desenvolvimentos das artes visuais na América Latina após a restauração da democracia em alguns dos países da região.

No texto introdutório do catálogo, o diretor da instituição e cocurador da exposição, Wim Beeren, justifica o afunilamento do projeto inicial alegando questões de ordem prática e financeira. A opção pelo enfoque nos «ABC countries» (Argentina, Brasil e Chile), pelas suas fortes ligações com a Europa, levou à «anexação» do Uruguai, resultando no agrupamento «UABC», sigla que deu título à mostra.

À delimitação geográfica juntava-se como elemento diferenciador o período cronológico escolhido. Enquanto a exposição «Art in Latin America: The Modern Era, 1820-1980» (The Hayward Gallery, Londres, 1989), que inaugurara no mesmo ano, percorrera historicamente os desenvolvimentos da arte na América Latina desde o início do século XIX até ao ano de 1980, a mostra «UABC» centrava-se no período pós-1985. Não tendo a pretensão de retratar o panorama artístico de tais nações, os curadores optaram por selecionar o trabalho de artistas que se revelavam «free of the vagaries of fashion, free of markets, of schools, free of all systems as such. […] Remaining open for what you come across and trying to choose what's authentic», e que simultaneamente não constituíam escolhas expectáveis para uma exposição na Europa (UABC: Uruguay, Argentinië, Brazilië, Chili, 1989, p. 20). Cada artista era, por sua vez, representado por um conjunto significativo de obras, rejeitando-se a ideia de uma exposição «that includes too little by too many or too much of what is already well-known […] or will be found wanting within a Dutch context» (Ibid., p. 15).

Sobre a montagem lisboeta, Dorine Mignot, cocuradora da mostra, comenta: «The exhibition at the Gulbenkian Museum in Lisbon looked very different from the exhibition in Amsterdam, but the difference in presentation is quite interesting. In Amsterdam, every artist had his own space. In Lisbon, the show become more compact… The piece by Tung even became another work with the same "ingredients", because of this different setting.» (Ofício de Dorine Mignot para José Sommer Ribeiro, 5 fev. 1990, Arquivos Gulbenkian, SEM 00432)

Assim, as obras não foram agrupadas por artista nem por nacionalidade, mas sim de acordo com o medium usado, seguindo o tipo de abordagem usada no catálogo. No entanto, o desenho do espaço expositivo realizado na Galeria de Exposições Temporárias não era tão fragmentado como a organização do catálogo. Ao evitar uma divisão excessiva, a fluidez do espaço era mantida, o que permitia ao visitante confrontar obras de artistas de diferentes nacionalidades e que exploravam diferentes meios.

Ao centro encontrava-se a área dedicada à fotografia, com trabalhos dos argentinos Oscar Diego Pintor, Raúl Stolkiner, dos brasileiros Claudia Andujar, Anna Mariani, Miguel Rio Branco, Sebastião Salgado, Leonardo Crescenti Neto, Cássio Vasconcellos, e dos chilenos Claudio Bertoni e Paz Errázuriz.

Outro aspeto importante a salientar é o critério de seleção destes trabalhos fotográficos. Como explica Els Barents, curadora deste núcleo: «The selection […] was based both on the individual qualities of each photographer and on the condition that the choice of subject matter must fall within the particular national boundaries. Therefore, for instance, the Brazilian photographers Sebastião Salgado and Cássio Vasconcellos are not represented by photographs they have taken in Africa, Paris or in other Latin American countries. […] They are actually images of that other Latin America, expressing the authenticity of (non-Western) life.» (UABC: Uruguay, Argentinië, Brazilië, Chili, 1989, p. 62)

Em torno deste núcleo foram expostas esculturas e pinturas de artistas dos quatro países, com linguagens artísticas muito próprias e que exploram diferentes materiais, curiosamente muitos deles sintéticos (como a espuma erva, resinas epoxy, esmalte sintético, acrílico). Mais que procurar identificar denominadores comuns na arte daquela região da América do Sul (identificada num mapa exposto à entrada da mostra), esta opção expositiva salientava as particularidades artísticas de cada país, e os textos do catálogo reforçavam justamente esta leitura: «Image of a young art in Uruguay», «Three decades of art and culture in Argentina», «Variety and vitality of Brazilian art», «Art and culture in Chile: utopias and obliterations».

Alexandre Pomar elogia esta exposição, por desafiar o espectador, conduzindo-o à reflexão. Nas suas palavras: «O resultado tem o mérito de não ser imediatamente conclusivo; esta exposição rejeita a contemplação beata, exige o confronto com outras informações, coloca interrogações que são essenciais num país também periférico como Portugal.» (Pomar, Expresso, 3 fev. 1990, p. 11)

O catálogo bilingue (neerlandês e inglês) editado pelo Stedelijk Museum Amsterdam não conheceu uma versão em português, fazendo parte do contrato entre as duas instituições o envio de 400 exemplares (Apontamento de José Sommer Ribeiro, 16 nov. 1990, Arquivos Gulbenkian, SEM 00432).

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José de Azeredo Perdigão (em baixo, ao centro) e José Sommer Ribeiro (atrás, à dir.)
Ao centro José de Azeredo Perdigão
No centro esquerdo José de Azeredo Perdigão e no centro, atrás, José Sommer Ribeiro
José Sommer Ribeiro (à esq.) e José de Azeredo Perdigão (ao centro)
José Sommer Ribeiro (à esq.)e José de Azeredo Perdigão (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00432

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, guias de transporte, instruções de montagem/desmontagem, lista de obras, recortes de imprensa, convite. 1989 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00216

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, listagem de obras para efeito de transporte de obras. 1989 – 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0258-D00820

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02237

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0258-D00817

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0258-D00818

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0258-D00819

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 1990


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