Paula Rego. Histórias da National Gallery

Exposição itinerante e individual de Paula Rego (1935), organizada pela National Gallery, em parceria com o Centro de Arte Moderna. Esta mostra documentou o trabalho de Paula Rego enquanto primeira «Artista Associada» da National Gallery, apresentando uma série de trabalhos inspirados em pinturas da coleção daquele museu.
Travelling solo exhibition on Paula Rego (1935) organised by the National Gallery in partnership with the Modern Art Centre. The show documented Rego’s work during her time as the first “Associate Artist” of the National Gallery, featuring a series of works inspired by paintings from the museum’s collection.

Exposição individual de Paula Rego (1935), apresentada na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna, depois de uma itinerância pelo Reino Unido, onde passou pelas seguintes instituições: Plymouth City Museum and Art Gallery, Middlesbrough Art Gallery (Manchester), Cooper Art Gallery (Barnsley), The National Gallery (London) e Laing Art Gallery (Newcastle).

Esta mostra resultou de um desafio lançado pela National Gallery à artista portuguesa radicada em Londres desde 1976, ao nomeá-la, em 1990, a primeira «Artista Associada» daquela instituição. Paula Rego foi então convidada a produzir, ao longo de um ano, uma série de trabalhos inspirados em pinturas da coleção daquele museu. Esta iniciativa fazia parte de uma tentativa da National Gallery de estabelecer uma contínua relação entre passado e presente, mantendo uma ligação forte com artistas contemporâneos.

Tendo em conta o universo pictórico de Paula Rego, fortemente inspirado em histórias de diversas épocas e proveniências, desde a literatura à tradição popular, facilmente se compreende como este tipo de projeto se adequava ao seu trabalho.

A exposição dividia-se em quatro momentos, correspondentes a três obras produzidas por Paula Rego durante a sua «estada» na National Gallery e a uma outra, anterior, que serviu como ponto de partida. Cada pintura era acompanhada por um conjunto de estudos, incentivando a uma observação demorada, que não valorizasse apenas a obra final mas aprofundasse o processo de construção da obra e os seus diversos momentos, bem como o nascimento de novas histórias.

Uma vez que esta exposição documentava, a seu modo, a estada de Paula Rego na National Gallery e o seu processo de trabalho, o catálogo que a acompanhava incluía inúmeras citações da artista que servem de suporte a uma melhor compreensão dos estímulos e impulsos criativos que estão na génese da sua pintura.

Nas obras em causa, não é a história que determina a pintura, mas a pintura que conduz Paula Rego à história. As suas declarações revelam que a artista é impelida por desafios de ordem pictórica: «Quando tinha pintado a capa de cetim encarnado [de A Madrinha do Toureiro] decidi que queria pintar uma enorme saia de cetim azul [concretizada em A Prova].» Ou: «Quando decidi pintar este quarto de hotel em Madrid, pensei em muitas personagens que podiam lá estar hospedadas.» (Paula Rego. Histórias da National Gallery, 1992)

O quarto referido pela artista, no qual tinha estado muitos anos antes, serviu de cenário para as duas pinturas que abrem a exposição (A Madrinha do Toureiro e A Prova), e cujas cenas apresentam inúmeros paralelismos. A Prova (1989), primeira pintura produzida no contexto do convite da National Gallery, nasce de A Madrinha do Toureiro (1990). Ambas retratam momentos de preparação para acontecimentos marcantes (a primeira corrida e o primeiro baile), encarados como ritos de iniciação. Em A Prova, Paula Rego inclui em último plano um biombo em madeira, inspirado, segundo a artista, nas pinturas que «fingem ser de pedra e mármore, como uma espécie de bas-relief», pertencentes à coleção da National Gallery, como Sansão e Dalila (c. 1490) de Andrea Mantegna (Ibid.).

Ao lado de A Prova, foi exposta a obra O Tempo – Passado e Presente (1990), inspirada no painel São Jerónimo no seu Estúdio (1475-76), de Antonello da Messina. O lugar ocupado por São Jerónimo, no centro da composição, é, na pintura de Paula Rego, preenchido por um homem idoso. Ambas as personagens são representadas sentadas, mas enquanto São Jerónimo surge a ler, o homem idoso com um olhar distante parece vaguear pelas suas memórias. O espaço que este habita é reflexo de si mesmo, encontrando-se aí uma fusão entre passado e presente. Às referências ao passado da personagem, que abrangem as três idades, juntam-se outras, relativas ao passado histórico, para as quais contribuem três obras pertencentes à coleção da National Gallery aí representadas: São Sebastião (c. 1623), de Gerard van Honthorst; São Francisco a Meditar (c. 1635-39), de Francisco de Zurbarán; e Santo António Abade (c. 1470-1480), de Hans Memling.

Por último, O Sonho de José (1990), uma pintura inspirada pela obra Visão de São José (c. 1638), de Philippe de Champaigne, e a propósito da qual a artista recorda: «Queria muito pintar uma rapariga a retratar um homem, porque esta inversão de papéis é interessante. […] E depois fui lá acima e vi o quadro de Philipe de Champaigne, que nunca tinha visto, e as duas coisas fundiram-se de uma forma estranha.» (Paula Rego. Histórias da National Gallery, 1992)

Paula Rego procede a uma inversão de papéis ao destronar o homem da posição dominante e pondo a figura feminina em primeiro plano, ainda que de costas, a registar na tela o seu olhar sobre a personagem masculina. Por outro lado, a criação e o olhar da mulher sobrepõem-se, neste caso, ao seu aspeto físico.

Todas estas obras acabam por se distanciar daquelas que lhes serviram de inspiração, dando origem a outras histórias. Neste caso, cenas religiosas deram lugar a temas profanos. Sobre a relevância das histórias na sua pintura, Paula Rego esclarece: «As histórias são todas importantes para mim, mas limito-me a usá-las para criar um ambiente.» (Ibid.)

Nesta exposição foram ainda incluídos alguns estudos para Jardim de Crivelli (1990-91), tríptico encomendado pela National Gallery, que foi instalado na cafetaria do museu. Também a coleção do Centro de Arte Moderna foi enriquecida com a incorporação da obra O Tempo – Passado e Presente, após a mostra.

A convite da Fundação Calouste Gulbenkian, no dia a seguir à inauguração, Colin Wiggins, membro do Departamento de Educação da National Gallery, realizou uma visita guiada à exposição.

Mariana Roquette Teixeira, 2018

Individual exhibition on Paula Rego (Lisbon, Portugal, 1935) held at the Modern Art Centre's (CAM) Temporary Exhibition Gallery, having already been held at several locations in the United Kingdom: Plymouth City Museum and Art Gallery, Middlesbrough Art Gallery (Manchester), Cooper Art Gallery (Barnsley), The National Gallery (London) and Laing Art Gallery (Newcastle).
The exhibition was the result of a challenge set to the Portuguese artist a London resident since 1976 by the National Gallery when it appointed her as an associate artist. Paula Rego was then invited to produce a series of works inspired by the museum's collection over the course of a year. The initiative was part of an attempt by the National Gallery to establish a continued relationship between past and present, keeping a strong connection to contemporary artists.
Bearing in mind Paula Rego's pictoral universe, heavily inspired by stories from different times and origins, from literature to folk traditions, we can easily see how her work suited the project.
The exhibition was divided into four sections corresponding to three works made by Paula Rego during her stay at the National Gallery and another earlier one that served as a starting point. Every painting was accompanied by a set of studies, inviting long observation that did not focus only on the final piece but delved into the process of constructing the work and the different points in that process, as well as the emergence of new stories.
Since the exhibition documented, in its own way, Paula Rego's time at the National Gallery and her working method, the catalogue that accompanied it includes numerous quotations from the artist that help better understand the motivations and creative impulses that are at the heart of her painting.
In the pieces in question, it is not the story that determines the painting, but the painting that leads Paula Rego to the story. Her declarations reveal that she is driven by pictoral challenges: When I had painted the red satin cape [in A Madrinha do Toureiro] I decided I wanted to paint an enormous blue satin skirt [found in A Prova] or When I decided to paint this hotel room in Madrid, I thought about the many characters that may have stayed there (Paula Rego. Histórias da National Gallery, 1992).
The room mentioned by the artist, where she had been several years prior, was the backdrop for two paintings that opened the exhibition (A Madrinha do Toureiro and A Prova, from 1989), and the two scenes have many parallels. A Prova, the first painting she did as part of the National Gallery's invitation, was born from A Madrinha do Toureiro (1990). Both portray preparation for important events (the first bullfight and the first ball), seen as rites of passage. In A Prova, the artist includes a wooden screen in the foreground which she says was inspired by paintings that (...) pretend to be made of stone and marble, like a kind of bas-relief belonging to the National Gallery collection, such as Samson and Delilah (c. 1490) by Andrea Mantegna (Paula Rego. Histórias da National Gallery, 1992).
Next to A Prova was O Tempo Passado e Presente (1990), inspired by the panel St. Jerome in His Study (1475-76) by Antonello da Messina. The place occupied by St. Jerome at the centre of the composition is, in Paula Rego's painting, filled by an elderly man. Both characters are depicted sitting down, but while St. Jerome is reading, the elderly man with an empty gaze appears to be wandering through his memories. The space in which he lives is a reflection of himself, and we find there a fusion between past and present found. References to the character's past, covering the three ages, join others relating to a historical past, to which three pieces in the National Gallery collection contributed: St. Sebastian (c.1623) by Gerard van Honthorst, St. Francis in Meditation by Francisco de Zurbaran (c. 1635-39), St. Anthony the Abbot by Hans Memling.
Finally, O sonho de José (1990), a painting inspired by Philippe de Champaigne's The Dream of St. Joseph (c.1638). The artist said of this piece: I really wanted to paint a girl painting a man, because that role reversal is interesting. (...) Afterwards I went upstairs and saw Philippe de Champaigne's work, which I'd never seen, and the two things came together in a strange way (Paula Rego. Histórias da National Gallery, 1992).
Paula Rego reversed the roles by taking the man out of the dominant position, placing the woman in the foreground, with her back to us, and using the canvas to record her gaze on the male character. Furthermore, the woman's gaze and her creation overlap, in this case, with her physical appearance.
All these works eventually moved away from the pieces that inspired them to produce other stories. In this case, religious scenes gave way to profane themes. Paula Rego said of the relevance of stories in her painting that: Stories are all important to me, but I only use them to create an atmosphere (Paula Rego. Histórias da National Gallery, 1992).
Some studies for Crivelli's Garden (1990-91) were included in the exhibition; the triptych was commission by the National Gallery and was installed in its café. The CAM's collection was also enriched by its acquisition of O Tempo Passado e Presente after the event closed.
Following an invitation by the Calouste Gulbenkian Foundation, Colin Wiggins, member of the National Gallery's Education Department, led a guided tour of the exhibition the day after it opened.

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

O Tempo - Passado e Presente

Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022)

O Tempo - Passado e Presente, Inv. 92P213

O Tempo - Passado e Presente

Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022)

O Tempo - Passado e Presente, Inv. 92P213


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Paula Rego, Histórias da National Gallery

8 mai 1992
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00264

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, correspondência, lista de obras, textos para o catálogo, convite. 1991 – 1992


Exposições Relacionadas

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2012 / Fondation Calouste Gulbenkian – Delégation en France, Paris

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