Paula Rego

Primeira exposição antológica da obra de Paula Rego (1935) em França, resultante de uma parceria entre a Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Paula Rego/Casa das Histórias. Comissariada por Helena de Freitas, a mostra centrava-se num conjunto de séries temáticas, produzidas entre 1988 e 2009.
First retrospective exhibition of the work of Paula Rego (1935) held in France. The exhibition was the result of a collaboration between the Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France and the Paula Rego/Casa das Histórias Foundation. Curated by Helena de Freitas, the show centred on a selection of series produced between 1988 and 2009.

Primeira exposição antológica da obra de Paula Rego (1935) em França, resultado de uma parceria entre a Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France e a Fundação Paula Rego/Casa das Histórias.

Comissariada por Helena de Freitas, então diretora do museu Casa das Histórias Paula Rego, inaugurado em 2009, esta mostra centrava-se num conjunto de séries temáticas, produzidas entre 1988 e 2009, período de maturidade e reconhecimento internacional. Deste modo, a exposição não possuía um caráter retrospetivo, como aquela comissariada por Marco Livingstone e apresentada no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (México) e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil) em 2010 e 2011.

1988 foi o ano da morte de Victor Willing, marido de Paula Rego, também ele artista, e uma figura determinante para o desenvolvimento da obra de Rego. Este é também o ano em que foi pintado The Family (1988), primeira obra da exposição, que mostra um homem a ser vestido ou despido por duas raparigas, por não conseguir fazê-lo sozinho. Em segundo plano, é representada uma menina envolta na luz que vem da janela: é «the miracle girl, but she doesn't manage to make any miracles», nas palavras da artista (Paula Rego, 2012, p. 82).

A morte de Willing, com esclerose múltipla, confere a esta pintura uma forte conotação biográfica, representando um momento de charneira na vida e obra de Paula Rego, que alcança forte reconhecimento com a exposição retrospetiva na Serpentine Gallery, em Londres, nesse mesmo ano.

Como explica Helena de Freitas, esta escolha foi intencional, servindo para «to mark the beginning of a narrative sequence punctuated by the representation of multiple emotional states, in which passion (in its various forms: personal or related to the family, social or political) plays a central role» (Paula Rego, 2012, p. 25). Os temas das obras selecionadas são variados, possuindo, no entanto, esse denominador comum. Outra obra central neste discurso é Angel (1998), que representa uma mulher com uma espada numa mão e uma esponja na outra, símbolos da Paixão de Cristo. Distando uma década entre si, estas duas pinturas apresentam linguagens distintas, refletindo o desejo de reinvenção constante que define o percurso da artista.

Às séries pictóricas juntava-se uma seleção de desenhos preparatórios e gravuras, permitindo um aprofundamento do processo de trabalho da artista e dos modos como foi explorando paralelamente esses três media.

Em termos temáticos, nota-se um enfoque no modo como Paula Rego se apropria de personagens e cenas provenientes da literatura, cinema e teatro e as cruza com memórias pessoais. Muito possivelmente devido às dimensões do espaço expositivo, as séries selecionadas não foram apresentadas na sua totalidade, tendo sido escolhidas algumas das pinturas que as compõem e expostas conjuntamente, formando pequenos universos ou etapas de uma via crucis marcada por imagens de poder, controlo, obediência, submissão.

Às pinturas inspiradas no romance Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós (The Company of Women, 1997; Mother, 1998; Angel, 1998; The Cell, 1997), juntavam-se reinterpretações do filme Fantasia da Walt Disney e de um conto dos Irmãos Grimm (Snow White and Her Stepmother (1995), Snow White Swallows the Poisoned Apple (1995)) e apropriações da personagem principal da peça de teatro homónima The Pillowman, de Martin McDonagh, apresentada no National Theatre, em Londres, 2003. Este conjunto de trabalhos, a maioria de grandes dimensões, mostra como a artista explora o desenho a pastel de óleo na criação de personagens fisicamente muito distintas, bem como de cenários marcados por uma grande diversidade de padrões, texturas e ambiências. Alguns elementos, com forte carga simbólica, surgem repetidamente nas diferentes pinturas expostas. Por exemplo, Protector (2009) e Lamentation (2009) mostram como a figura do Pillowman foi resgatada pela artista e trabalhada em gravura. Além disso, Lamentation conduzia o olhar do espectador para o símbolo da cruz em The Pillowman (2004), e consequentemente para o modo como as passagens da Bíblia integram o imaginário da artista, fundindo-se noutras histórias contemporâneas, como no tríptico anteriormente mencionado ou The Rest on the Flight into Egypt (1998) e Deposition (1998).

Outro aspeto determinante que emergia do conjunto apresentado era a fusão de passado, presente e futuro na obra de Paula Rego e como a ficção e as memórias do passado são por ela usadas para pensar o presente.

A par das obras anteriormente referidas, foram apresentadas, como exemplos de questionamento e intervenção no presente e futuro, algumas pinturas da série realizada aquando do primeiro referendo à despenalização do aborto em Portugal, bem como War (2003), pintura motivada por uma imagem da guerra do Iraque publicada pelo The Guardian.

Esta exposição apresentava Paula Rego como uma contadora de histórias, realçando o papel social e interventivo do seu trabalho. O confronto entre obras de períodos diferentes permitia um olhar sobre os desenvolvimentos da sua prática, em termos plásticos e compositivos ao serviço da história contada. Por outro lado, o significado de cada elemento e a narrativa composta eram desvendados no catálogo da exposição através de relatos da artista. Esta publicação, coproduzida pelas instituições organizadoras, inclui ainda textos de Helena de Freitas (curadora da exposição), Yves Bonnefoy, Philippe Dagen e Marco Livingstone.

Para Helena de Freitas, esta mostra seria «uma grande oportunidade para Paris olhar para Paula Rego e compreender a sua obra» (Expresso, 26 jan. 2012). Centrada num período de grande maturidade da artista, com propostas diversas, esta exposição foi, contudo, essencialmente noticiada pela imprensa nacional por ser a primeira de Paula Rego em França.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Mother

Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022)

Mother, Inv. 98P605


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

Les Guerres de Paula Rego

15 mar 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France
Paris, França
Visita(s) guiada(s)

Des Peintres et Leurs Modèles

23 fev 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France
Paris, França

Publicações


Fotografias


Periódicos


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.