A exposição «António Areal. Primeira Retrospectiva» inaugurou no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) a 20 de julho de 1990, no âmbito das celebrações de homenagem ao seu fundador, Calouste Sarkis Gulbenkian. Neste dia, foram igualmente inauguradas as exposições «Transformações», no CAM, na Sede da FCG e nos jardins, e «Eduardo Luiz», na Sede da FCG, além de ter sido realizada uma performance de Roman Signer.

A exposição, previamente apresentada na Fundação de Serralves, de 3 de maio a 24 de junho de 1990, foi comissariada pelo crítico de arte João Pinharanda, que teve a seu cargo a investigação e a seleção prévia das obras. «Sem pretensões de exaustiva retrospectiva», procurou contribuir para a divulgação e o estudo das figuras de maior destaque do panorama artístico nacional, que não eram suficientemente conhecidas do público ou que se encontravam envoltas em polémicas que importava clarificar (António Areal. Primeira Retrospectiva, 1990, p. 7).

Apresentando o trabalho desenvolvido por António Areal – artista que, nas palavras do comissário, «pela sua independência criativa e pelo seu carácter polémico, muito tem interessado os jovens protagonistas da nossa actualidade cultural» (Ibid.) –, a mostra explorou as suas diferentes fases: «uma inquietante obra feita de telas, desenhos e esculturas, que consegue ser simultaneamente inauguradora e experiencial de várias posturas estéticas que marcaram a contemporaneidade: o surrealismo, o "informalismo", o dadaísmo, a "pop art", a atitude conceptual (na série das "caixas"), bem como a "nova figuração"» (Carlos, Expresso, 28 jul. 1990, p. 62-R).

Foram, aliás, as diferentes fases do trabalho de Areal que guiaram a museografia da exposição, que agrupou os trabalhos em função dos diferentes núcleos estilísticos. Um dos trabalhos expostos foi um álbum de 16 desenhos, dos quais o artista fez 22 álbuns originais rigorosamente idênticos. Duas destas edições pertencem ao acervo do Centro de Arte Moderna.

A exposição foi organizada pelo CAM, em colaboração com a Fundação de Serralves, numa iniciativa aclamada pelos media, como o atesta o artigo que Margarida Botelho escreveu para o Diário de Notícias: «Um dos artistas que há muito mereciam uma primeira retrospectiva é, sem dúvida, António Areal. O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian tomou essa iniciativa em Julho passado e ainda bem, porque reviver, clarificar e divulgar figuras que foram marcantes no processo estético do nosso país é algo que pode contribuir para uma maior dinâmica da vida artística portuguesa.» (Botelho, Diário de Notícias, 3 dez. 1990)

O catálogo da exposição, fruto da investigação de João Pinharanda, é uma coedição da Casa de Serralves e do CAM e faz uma compilação dos manifestos, panfletos, artigos de jornal, prefácios e livros escritos por António Areal, assim como das críticas às suas exposições anteriores. O catálogo funciona assim como um complemento da exposição – se esta se dedica à apresentação da obra plástica do artista, o catálogo apresenta o conjunto do seu trabalho literário e teórico, tão importante quanto a produção artística para a compreensão de quem foi António Areal. Isto não o isentará de críticas, nomeadamente por parte de Alexandre Pomar, no artigo que escreve para o Expresso: «[…] No entanto, para além de um tratamento gráfico de gosto e eficácia contestáveis, e de um luxo editorial excessivo a que não corresponde a diminuição das gralhas, verificar-se-á que a leitura dessa informação bruta acumulada se faz dificilmente na ausência de um paralelo comentário crítico condutor». Pomar critica ainda «a ausência de um inventário das exposições individuais e coletivas» e a bibliografia «falha de rigor» (Pomar, Expresso, 18 ago. 1990, p. 8).

A 24 de julho de 1990, foi proferida, no CAM, uma conferência sobre António Areal, por Rui Mário Gonçalves.

Carolina Gouveia Matias, 2018