Duane Michals. Há palavras que têm de ser ditas

Exposição individual de Duane Michals (1932), organizada na sequência da participação do fotógrafo norte-americano na oitava edição dos Encontros de Fotografia de Coimbra. A seleção de retratos apresentados visava mostrar uma panorâmica do percurso de Michals ao longo de trinta e um anos.
Solo exhibition on North American photographer Duane Michals (1932) organised following Michals’s participation in the eighth Photography Meetings of Coimbra. The selection of portraits presented aimed to reveal the artist’s career over the course of 31 years.

Exposição individual do fotógrafo norte-americano Duane Michals (1932), apresentada na Galeria do piso 01 do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

O convite dirigido a Michals por Albano da Silva Pereira, em nome do Centro de Estudos de Fotografia de Coimbra e do Centro de Arte Moderna, surgira na sequência da oitava edição dos Encontros de Fotografia de Coimbra (novembro de 1987), na qual o fotógrafo havia participado (Carta de Albano da Silva Pereira para Duane Michaels, 2 mar. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00208). Terá sido nessa ocasião que José Sommer Ribeiro teve contacto com o trabalho de Michals: «Quando nos oitavos Encontros de Coimbra […] foram apresentadas fotografias de Duane Michals, verificámos quanto seria importante mostrar em Lisboa uma representação mais completa da sua obra. Dois anos volvidos, o nosso desejo realizou-se.» (Duane Michals. Há palavras que têm de ser ditas, 1998)

A seleção de trabalhos proposta por Michals visava apresentar uma panorâmica do seu percurso ao longo dos últimos trinta e um anos. A exposição era composta por um conjunto de retratos, dos quais se destacavam os emblemáticos Andy Warhol e Julia Warhola (1958), René Magritte (1965), Pasolini (1969), Joseph Cornell (1971), algumas séries fotográficas da década de 70 e início dos anos 80, conhecidas como «sequências narrativas fotográficas», e imagens acompanhadas por textos em prosa ou poesia, prática iniciada em 1974.

Já no díptico de Warhol com a sua mãe, a fotografia mais antiga nesta mostra, é possível antever as tendências narrativas que mais tarde dominariam o trabalho deste fotógrafo. Esta peça era acompanhada pelos primeiros «retratos-prosa» de Michals, conceito que o próprio explicava do seguinte modo: «A prose portrait tells you what the nature of the person is about. When I photographed Magritte, the portrait was made in the nature of Magritte. When I photographed Warhol, the portrait was in the character, the mystery-if there is one-of Warhol. You can't capture someone, per se. How could you? The subject probably doesn't even know who he (or she) is.» (Bohnacker, The New Yorker, 9 mai. 2014)

Três autorretratos de Duane Michals, de períodos distintos, são aqui integrados, revelando diferentes aspetos da sua personalidade: Construo uma Pirâmide (1978), O Pato Duane (1984) Auto-retrato Adormecido no Túmulo de Mereruka em Sakkara (1978).

As primeiras «sequências narrativas fotográficas» aqui expostas, como Encontro Ocasional (1970) e O Espantalho (1973), não continham texto, o que dava uma maior liberdade ao espectador, que, através da sucessão de imagens apresentadas e do título, construiria mentalmente uma narrativa, a sua. Foram os limites inerentes à fotografia enquanto medium que levaram Michals a recorrer ao texto. Como o próprio explica: «My writing grew out of my frustration with photography. I never believed a photograph is worth a thousand words. If I took a picture of you, it would tell me nothing about your English accent; it would tell me nothing about you as a person. […] Sixty per cent of my work is photography and the rest is writing.» (Ibid.)

Assim, Michals passa a incorporar texto, como uma espécie de legendagem e, por vezes, de antilegendagem, nas sequências narrativas, mas também em trabalhos compostos por uma única fotografia. Terão sido muito provavelmente estes trabalhos os apresentados nos Encontros de Fotografia de Coimbra e que atraíram a atenção de José Sommer Ribeiro. O título desta exposição, retirado de uma destas peças, teria, a nosso ver, um duplo sentido: por um lado, estava associado a uma história específica, sobre a necessidade de diálogo, e, por outro, resumia as razões por trás da nova direção seguida.

A ideia de a impossibilidade de um medium substituir outro estava bastante presente nesta exposição, que terminava com Miss Kitty julgava ser bonita (1989) e O homem que corria à frente do tempo (1989), nas quais o fotógrafo, além de introduzir texto, associa outros elementos – Michals passa a intervencionar as fotografias com métodos não fotográficos.

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Duane Michals. Há palavras que têm de ser ditas]

27 abr 1990
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência «Duane Michals. Há Palavras que Têm de Ser Ditas».
Conferência «Duane Michals. Há Palavras que Têm de Ser Ditas»
José Sommer Ribeiro (atrás, à dir.)
José Sommer Ribeiro (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00208

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, orçamentos para catálogo, cartaz e convites, material para o catálogo, convite. 1989 – 1990

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00907

Pasta com documentação referente ao processo de aquisição de duas fotografias de Duane Michals, atualmente pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna. 1989 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00749

Pasta com processo de aquisição de duas fotografias de Duane Michals, atualmente pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna. 1991 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00514

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0086

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00515

Coleção fotográfica, cor, conferência (FCG, Lisboa) 1990


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1986 / Centro de Arte Moderna, Lisboa

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