Lisa Santos Silva. Are you ready Lola?

Exposição individual da obra da artista Lisa Santos Silva (1949). Apresentou um conjunto de 18 óleos sobre linho da produção pictórica mais recente da artista, divididos em duas partes: uma constituída por retratos e uma outra formada por um conjunto de obras de paisagens, intitulado Adieu les Colonies.
Solo exhibition of the work of artist Lisa Santos Silva (1949) featuring 18 oil on flax paintings selected from the artist’s most recent work. It was divided into two sections: portraits and landscapes, the latter titled Adieu les Colonies.

Primeira exposição de Lisa Santos Silva (1949) no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, cidade onde a artista portuguesa residia havia trinta anos. Esteve patente entre 26 de janeiro e 22 de abril de 2011. Os trabalhos expostos – 18 óleos sobre linho – representavam a produção mais recente da artista.

As obras distribuíam-se por dois núcleos temáticos: um constituído por retratos, evocativos de um tempo e de artistas passados; e um segundo, formado por paisagens e intitulado Adieu les Colonies – estas, de cariz abstrato, porventura reminiscentes do passado da artista em Angola, segundo Emílio Rui Vilar criavam empatia com o público, por se revelarem «de uma forma densa e intrigante» (Lisa Santos Silva. Are you ready Lola?, 2011, p. 10).

O título da exposição remetia para uma das obras mais recentes da artista e para o último filme do realizador alemão Max Ophüls, Lola Montès (1955), em particular para uma cena em que Peter Ustinov se dirige a Martine Carol, atriz que interpreta a personagem Lola.

Segundo o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), esta iniciativa integrava-se «numa das linhas de intervenção do Centro Cultural Calouste Gulbenkian: apresentar os mais importantes artistas portugueses residentes em Paris, grupo de que Lisa Santos Silva faz parte» (Lisa Santos Silva. Are you ready Lola?, 2011, p. 10).

A curadoria da exposição esteve a cargo de Isabel Carlos, à época diretora do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, a convite do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, local que a curadora considerou ideal tendo em conta a natureza das obras: evocativas de um tempo passado – nas técnicas, cores, iconografia, títulos – e, ao mesmo tempo, profundamente contemporâneas, pelo modo como provocam e perturbam o espectador.

O conjunto de trabalhos expostos resultava de um processo artístico desenvolvido à volta da pintura obsessiva de um mesmo rosto andrógino e bizarro, transposto para diferentes corpos – um Ecce Homo, uma freira, uma cortesã, uma menina de Velázquez ou uma papisa. Para Eduardo Prado Coelho, a repetição na obra de Lisa Santos Silva, que ao mesmo tempo atrai e repele o público, dominando-o, não pretende ser uma fórmula, mas a expressão de um estado mental.

Sobre o mesmo rosto expressivo que assombrava as pinturas, a curadora referiu que dificilmente este poderia ter sido pintado por alguém que não uma artista do sexo feminino, já que «são portadores de uma forte carga emocional de que a utilização recorrente das cores vermelha e ocre é sintoma, mas também do desassombro com que nos fitam. Apesar dos seus adereços ricos e preciosos, parecem ter perdido tudo e estarem num momento que precede algo, uma expectativa suspensa antes do grande salto» (Lisa Santos Silva. Are you ready Lola?, 2011, p. 40).

Para Isabel Carlos, as figuras de Lisa Santos Silva, «belamente incómodas, de olhos arregalados e com adereços de outras épocas, […] olham-nos como quem grita, mas são mais gritos de quem ama e menos de quem tem medo ou quer fugir, são uma mistura de aço e tule, de transparência e bloco de pedra» (Lisa Santos Silva. Are you ready Lola?, 2011, p. 41).

Também as paisagens expostas, intituladas Adieu les Colonies e datadas de 2007 e 2010, que remetem para «espaços e atmosferas igualmente suspensos e irreconhecíveis em termos de referência a lugares particulares e reais», evocam a história particular da artista, demandando simultaneamente uma reflexão sobre o processo de descolonização dos territórios africanos (Ibid., p. 42).

A obra de Lisa Santos Silva é imediatamente reconhecível, por ser única em termos de imaginário e de estética, fruto de um método de trabalho rigoroso, que a artista revelou numa entrevista a Maria João Seixas (publicada no jornal Público de 12 de janeiro de 2003), e que, segundo vários críticos, encontra ressonâncias no trabalho de artistas como Francis Bacon, do qual a artista evoca as deformações físicas e psicológicas na pintura (Ibid., p. 43).

Apesar de não ter sido encontrada qualquer crítica sobre a exposição na imprensa escrita, a mostra foi divulgada em vários blogues, como Duas ou três coisas, da autoria de Francisco Seixas da Costa, que classificou a iniciativa como «uma agradável surpresa que vale bem a visita»; ou Artifact's Blog, com uma reportagem sobre o ateliê de Lisa Santos Silva.

Carolina Gouveia Matias, 2019


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