Vieira da Silva

Primeira grande exposição em Portugal da pintora Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) e primeira exposição individual organizada no edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Incluída num ciclo de itinerância, a exposição foi coordenada pelo crítico de arte Guy Weelen.
First exhibition in Portugal by Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) and first individual exhibition organized in the headquarters building of the Calouste Gulbenkian Foundation, in Lisbon. Included in a travelling cycle, the exhibition was coordinated by art critic Guy Weelen.

Concebida desde a sua origem como evento com «um carácter de certo modo retrospectivo» (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 27 ago. 1969, Arquivos Gulbenkian, SBA 15366), esta exposição teve, de acordo com o texto do catálogo, o «sincero propósito» de homenagear a pintora de origem portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), «figura cimeira da Arte Contemporânea», naquela que foi a primeira grande mostra da pintora em Portugal (Vieira da Silva, 1970).

A ideia para a organização desta exposição surgiu numa «troca de impressões» entre José de Azeredo Perdigão, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), e Maria Helena Vieira da Silva, em que surgiu a hipótese de se inaugurar a nova Galeria de Exposições Temporárias da FCG com uma mostra da pintora. Desta forma, após diversas movimentações, decidiu-se incluir esta exposição num ciclo de itinerância previsto para outras cidades europeias, como Paris, Roterdão e Basileia. A FCG juntou-se então a uma pool (espécie de consórcio) constituída pelas diversas instituições organizadoras, e coordenada pelo Centre National d’Art Contemporain, em Paris, que tinha como objetivo partilhar despesas e facilitar os processos de cedência de obras ou elaboração do catálogo (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 27 ago. 1969, Arquivos Gulbenkian, SBA 15366).

O comissário da exposição em Lisboa foi o escritor e crítico de arte Guy Weelen, amigo e colaborador de Vieira da Silva e de seu marido, Arpad Szenes, e um dos responsáveis pelo estudo e divulgação da sua obra. Weelen concebeu esta mostra com uma estrutura distinta das montagens anteriores, destacando-se a integração de um maior número de peças («duas centenas de obras, entre as quais inovadoramente se contam algumas tapeçarias», Vieira da Silva, 1970) e a criação de um importante núcleo constituído por obras evocativas de Lisboa e guaches da artista existentes em Portugal.

Vieira da Silva foi a primeira artista a expor individualmente nas novas instalações da Fundação, inauguradas em 1969. A pintora não compareceu à inauguração oficial da sua exposição, pois não pretendia participar num evento que contava com a presença do presidente da República Portuguesa, marcando assim a sua contestação ao regime vigente. A artista visitaria a exposição alguns dias mais tarde, tendo sido recebida com grande aparato pela imprensa e pelos protagonistas da vida cultural e artística portuguesa.

Em carta dirigida a José de Azeredo Perdigão, Guy Weelen comentaria que a sua experiência de trabalho com a FCG fora «apaixonante», mostrando-se positivamente surpreendido com as reações públicas à exposição: «Les réactions du public et de la presse à propos de l’exposition de Vieira da Silva confirment que le public portugais est actuellement curieux d’art et de peinture. Il s’interroge.» (Carta de Guy Weelen para o presidente da FCG, 9 jan. 1971, Arquivos Gulbenkian, SBA 15366)

A programação cultural associada à exposição integrou um ciclo de visitas guiadas, orientadas pelos historiadores e críticos de arte José-Augusto França, Fernando Pernes, Adriano de Gusmão, Rui Mário Gonçalves e Rocha de Sousa, a que assistiram mais de 400 pessoas. A grande afluência de público seria objeto de nota: «A Exposição continua a registar elevado número de visitantes, tendo atingido já o total impressionante de 34 000. Nos passados Sábado e Domingo, dias 1 e 2 do corrente, foram em número de 421 e 429, respectivamente, os visitantes que, sendo embora inferiores aos que era habitual em tais dias da semana, são ainda consoladoramente altos» (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 4 ago. 1970, Arquivos Gulbenkian, SBA 15366).

Joana Baião, 2015

Designed from the beginning as an event with “a somehow retrospective character” (Notes from the Fine Arts Department, 27 Aug. 1969, Gulbenkian Archives, SBA 15366), this exhibition had, according to the text of the catalogue, the “sincere purpose” of paying tribute to the Portuguese born painter, Maria Helena Vieira da Silva (Lisbon 1908–Paris 1992), “paramount figure of Contemporary Art”, in what was the first major exhibition of the artist in Portugal (Vieira da Silva, 1970).

The idea to organise this exhibition emerged from an “exchange of views” between José de Azeredo Perdigão, President of the FCG, and Maria Helena Vieira da Silva, when an idea emerged- the opportunity to inaugurate the new Temporary Exhibition Gallery of the FCG with an exhibition of the painter. Eventually, after many movements, it was decided to include this exhibition in an itinerant exhibition set to tour other European cities such as Paris, Rotterdam, and Basel. Therefore, the FCG joined a “pool” (a kind of consortium) composed of many organising institutions and coordinated by the Centre National d'Art Contemporain, in Paris, that aimed to share expenses and to facilitate the processes of lending artworks or the elaboration of the(?) catalogue (Notes by the Fine Arts Department, 27 Aug. 1969, Gulbenkian Archives, SBA 15366).

The commissioner of the Lisbon exhibition was Guy Weelen (1919-1999), writer and art critic, friend and collaborator of Vieira da Silva and her husband, Arpad Szenes (1897-1985), and one of the main promotors of the study and dissemination of her work. Weelen conceived this display with a distinct structure from the previous assemblies, notably the integration of a larger number of pieces – “two hundred pieces, among them we can include innovatively some tapestries” (Vieira da Silva, 1970) – and the creation of an important section made of evocative pieces of Lisbon and watercolours of the artist, held in Portugal.

Vieira da Silva was the first artist to individually display in the new facilities of the Calouste Gulbenkian Foundation, which was inaugurated in 1969. The painter did not attend the official inauguration of her exhibition, since she did not want to take part of an event where the President of the Portuguese Republic would be, this way marking her opposition to the current Portuguese regime. Vieira visited her exhibition a few days later, having been received with some apparatus by the press and the protagonists of the Portuguese cultural and artistic life.

In a letter written to José de Azeredo Perdigão, Guy Weelen commented that his experience working with the FCG had been “gripping”, having revealed to be positively surprised with the public reaction to the exhibition:

“The reactions of the public and the press to Vieira da Silva's exhibition confirm that the Portuguese public is currently curious about art and painting. It is inquisitive.” (Letter of Guy Weelen to the President of the FCG, 9 Jan. 1971, Gulbenkian Archives, SBA 15366).

The cultural programme, associated to the exhibition, comprised a guided tour cycle, led by the historians and art critics, José Augusto França, Fernando Pernes, Adriano de Gusmão, Rui Mário Gonçalves and Rocha de Sousa and viewed by 400 people. The same document also registers the number of visitors to the exhibition:

“The Exhibition continues to register a high number of visitors, having already reached an impressive 34,000. Last Saturday and Sunday, the 1st and 2nd of the present month, we welcomed 421 and 429 visitors, respectively, and even though it is a smaller number than the usual ones during a weekend, they still are comfortingly high.” (Notes by the Fine Arts Department, 4 Aug. 1970, Gulbenkian Archives, SBA 15366)


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Janela

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Janela, c. 1969 / Inv. TE4

L'aire du vent

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

L'aire du vent, Inv. PE102

Landgrave

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Landgrave, Inv. PE103

Les Degrés

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Les Degrés, Inv. PE98


Eventos Paralelos

Colóquio

[Vieira da Silva]

24 jul 1970 – 6 ago 1970
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal
Mesa-redonda / Debate / Conversa

A «Nova Crítica» Portuguesa e Vieira da Silva

abr 1970
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal
Concerto

Homenagem a Vieira da Silva

1970
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal
Emissão radiofónica

Transfigurations Musicales

1970
[Desconhecido]
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Vieira da Silva]

15 jul 1970 – 5 ago 1970
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede
Lisboa, Portugal
Visita oficial

[Vieira da Silva]

2 jul 1970
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal
Visita oficial

[Vieira da Silva]

27 set 1970
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

[Vieira da Silva]

16 jun 1970
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Receção a Vieira da Silva durante a exposição
Visita oficial. José de Azeredo Perdigão (à esq.) e Vieira da Silva (ao centro)
Visita oficial. José de Azeredo Perdigão (à esq.), Vieira da Silva (ao centro) e Madalena de Azeredo Perdigão (à dir.)
Visita oficial. Vieira da Silva e José de Azeredo Perdigão (ao centro)
Visita de Maria Helena Vieira da Silva e de Arpad Szenes à Quinta das Terras, em Pinheiro de Loures, durante a visita de Vieira da Silva a Portugal
Visita oficial. José Sommer Ribeiro (à esq.), José de Azeredo Perdigão (ao centro) e César Moreira Baptista (à dir.)
José Sommer Ribeiro e Artur Nobre de Gusmão (na plateia) e o conferencista Guy Weelen
Colóquio «Vieira da Silva». Rui Mário Gonçalves e Adriano de Gusmão (à esq.), José-Augusto França (ao centro), Fernando de Azevedo e Pedro Vieira da Almeida (à dir.)
Guy Weelen (ao centro).
José de Azeredo Perdigão (à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa, e Guy Weelen (ao centro), Artur Nobre de Gusmão e José Sommer Ribeiro (à dir.)
Américo Tomás, presidente da República Portuguesa, José de Azeredo Perdigão (ao centro) e José Sommer Ribeiro (atrás, ao centro)
José de Azeredo Perdigão (à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (ao centro), Guy Weelen (à dir.) e Madalena de Azeredo Perdigão (atrás, à dir.)
Guy Weelen (à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (ao centro) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Guy Weelen (à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa, e José de Azeredo Perdigão (ao centro) e José Sommer Ribeiro (à dir.)
José Veiga Simão e Artur Nobre de Gusmão (ao centro), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa, José de Azeredo Perdigão e Guy Weelen (à dir.) e José Sommer Ribeiro (atrás, à dir.).
Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (à esq.), José de Azeredo Perdigão (ao centro) e Guy Weelen (à dir.)
Guy Weelen (à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (ao centro) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Guy Weelen (à esq.), Américo Tomás,presidente da República Portuguesa (ao centro) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Guy Weelen

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15366

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações e despachos, correspondência, catálogo, cartaz, convites, listagem de obras, programa de apoio cultural à exposição, despesas, planta e recortes de imprensa. 1968 – 1972

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01834

3 provas, p.b.: visita oficial (FCG, Lisboa) 1970

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01837

1 prova, p.b.: mesa-redonda (FCG, Lisboa) 1970

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01825

Coleção fotográfica, p.b.: montagem (FCG, Lisboa) 1970

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01832

14 provas, p.b.: objetos (FCG, Lisboa) 1970

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01831

44 provas, p.b.: inauguração e conferência de imprensa (FCG, Lisboa) 1970

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01836

11 provas, p.b., cor: visita de Maria Helena Vieira da Silva (FCG, Lisboa) 1970


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