Ana Léon

Exposição temporária de desenhos e filmes de animação de Ana Léon (1957). Foram expostos três filmes, produzidos em 1997 e 1998, e uma série de guaches sobre papel, produzidos em 2002, que tratam temas como as relações humanas através de figuras animais e antropomórficas.
Temporary exhibition of drawings and animations by Ana Léon (1957). The show featured three films, produced in 1997 and 1998, and a series of gouache works on paper, produced in 2002, on themes of human relations portrayed using animal and anthropomorphic figures.

A exposição de trabalhos de Ana Léon (1957) foi uma iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, correspondendo a um desejo de vitalizar a sua ação no âmbito da produção de exposições, o que justificou a edição de uma pequena brochura que acompanhou a apresentação das obras. A mostra decorreu entre 16 de janeiro e 28 de fevereiro de 2003.

No número 51 da Avenue d'Iéna, a artista radicada em Paris, bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) entre 1986 e 1987, apresentou uma série de guaches sobre papel, produzidos em 2002, e um conjunto de três filmes de animação, produzidos em 1997 e 1998: 4 Fables; Jeux…; En Habit de Cheval.

O trabalho de Ana Léon desdobra-se em duas vertentes que comunicam entre si: o desenho e o filme, relação expressa logo em 1994, aquando da exposição «Métamorphoses», no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, na qual a artista apresentou, ao longo de um muro, uma centena de desenhos criados com pastel de óleo branco sobre folhas de papel pretas e que representavam a metamorfose de uma planta. Simultaneamente, era exibido um filme em Super 8, no qual a sucessão de desenhos ganhava movimento.

A sugestão de movimento é uma das maiores preocupações do trabalho da artista, reiterada no ano seguinte com a produção de um conjunto de figuras em feltro afixadas a uma parede. Segundo Miguel Wandschneider, curador de artes plásticas e autor do texto da brochura que acompanhou a exposição, tratava-se da obra de charneira para a produção que a artista continuaria nos anos seguintes, e que abriu a porta a um espaço de renovação formal e temática que integrou a figuração e a dimensão narrativa já apresentadas noutras fases do seu trabalho (Ana Léon, 2003).

Friendly Monkeys, de 1996, apesar de não ter sido exposto, foi o momento fundador desta prática artística, através do qual é possível identificar um conjunto de características que se iriam repetir nos trabalhos seguintes, como a utilização de plasticina enquanto material modelador por excelência. Neste filme, assim como nos seguintes, a artista serve-se de formas animais ou antropomórficas como mote para a exploração das relações humanas, através de representações deliberadamente simples e imperfeitas, mas investidas de humor e drama, em narrativas que vão do afeto à violência. A sonoplastia, resultante de captações de origens diversas, é fundamental para a caracterização das personagens e das cenas (Ibid.).

Em 4 Fables, filme de 1997, Ana Léon recria quatro fábulas de Jean La Fontaine: «A Cigarra e a Formiga», «A Rã que queria ser do tamanho de um boi», «A Lebre e a Tartaruga» e «O Corvo e a Raposa». Fugindo aos guiões originais e distorcendo o lado didático e moral das fábulas, Ana Léon apodera-se destas personagens para apresentar uma narrativa sádica em que os animais personificados se vão devorando numa orgia canibal. São trabalhos que denotam ironia e simplicidade de meios e que partilham da característica comum de, partindo da figuração, progredirem, através de um processo de transmutação, para uma representação abstrata (Ibid.).

Apesar de já não partir da plasticina como material modelador, En Habit de Cheval, de 1998, a artista aborda ainda esta temática de destruição e sadomasoquismo, subvertendo a inocência dos brinquedos de criança.

Jeux…, filme de animação de 1998 (Inv. 19IM100), destaca-se dos anteriores por introduzir na narrativa a representação do corpo humano. Neste filme, um torso feminino, que por vezes são dois – seu reflexo num espelho ou seu duplo –, executam uma insólita coreografia balética.

Como refere Miguel Wandschneider, estes filmes põem em evidência o lado artesanal e orgânico de todo o processo: «La définition délibérément gauche des personnages, les traces de doigts empreintes dans la pâte à modeler, le ballast de saleté resté au sol par la manipulation des personnages, leurs mouvements légèrement saccadés – aspects qui tendraient à être vus comme négatifs a la lumière de certaines conventions du cinéma d'animation.» (Ana Léon, 2003, p. 3)

Os desenhos expostos, produzidos em 2002, partilham com os filmes de animação uma mesma linguagem formal, a par dos motivos e temas. No entanto, apesar de inseridos num mesmo universo pictórico, de características formais coesas, têm uma existência autónoma. A coerência dos seus atributos é enfatizada pelo recurso à mesma paleta e à representação recorrente de figuras animais e antropomórficas. Algumas destas figuras e situações inspiram-se claramente nas personagens e interações dos filmes, o que confirma a conceção posterior dos desenhos relativamente aos vídeos. É ainda de salientar que as figuras são representadas destituídas de traços faciais, o que lhes confere uma condição anónima. Também a economia das formas e das cores é mantida no desenho, conferindo-lhe um aspeto de esboço. Os tons artificiais utilizados por Ana Léon contribuem para a construção de um universo sem referência ao real e sem um intuito simbólico (Ana Léon, 2003).

Da mesma forma que nos vídeos, as etapas do processo criativo são mantidas visíveis nos guaches expostos. Estas composições mostram as hesitações do esboço e as diferentes espessuras dos pincéis utilizados como sinais de premeditação e sucessivos experimentalismos: «C'est dans l'inscription de traits, de taches, de formes et de couleurs sur la surface du papier, et dans la production d'un système de régularités et de différences au long d'un processus suivi et irrégulier que surgit la spécificité irréductible de ces dessins.» (Ana León, 2003, p. 3)

Recentemente, dois dos três filmes expostos – Friendly Monkeys e 4 Fables – foram adquiridos pela FCG e incorporados na coleção do Centro de Arte Moderna. Segundo Leonor Nazaré, curadora do Museu Calouste Gulbenkian, trata-se de um trabalho sem paralelo no panorama da arte portuguesa e de uma importante representação dos artistas portugueses que emergiram nos anos 80 e 90 do século XX.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Friendly Monkeys

Ana Léon (1957-)

Friendly Monkeys, 1996 / Inv. 19IM99

Jeux...

Ana Léon (1957-)

Jeux..., 1998 / Inv. 19IM100


Publicações


Material Gráfico


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com convites e programas dos eventos organizados no Centre Culturel Portugais, entre 1979 e 2003. 1979 – 2003


Exposições Relacionadas

SlowMotion

SlowMotion

2002 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.