Esta exposição inseriu-se na programação das Jornadas de Letras e Artes dos Países Africanos de Língua Portuguesa, organizada pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da Fundação Calouste Gulbenkian, com a colaboração do Museu de Etnologia do Instituto de Investigação Científica Tropical. No âmbito destas jornadas, tiveram lugar diversas manifestações, nomeadamente um colóquio, uma peça de teatro, uma exposição de arte e uma exposição bibliográfica, além de concertos e exibições de filmes.

O título pensado para esta exposição foi, num primeiro momento, «Arte Africana e Modernismo Português» ou, alternativamente, «Arte Africana e Modernismo», mas a diretora do ACARTE, Madalena Perdigão, refletindo um parecer de José Augusto-França, assinala que o tema pode não constituir «matéria para uma exposição, dado o alheamento do modernismo português relativamente à arte Africana». A mesma responsável anota ainda que «quanto à possibilidade do tema da exposição ser "Arte Africana e Modernismo", o Prof. França entendeu que o tema já foi largamente tratado, só se justificando uma exposição no caso de poderem vir a Lisboa obras de arte originais de artistas estrangeiros do Modernismo» (Nota interna de Madalena Perdigão para José Sommer Ribeiro, 3 mai. 1985, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00565). Madalena Perdigão faria, porém, a ressalva de que era possível encontrar «alguns elementos» sobre a ligação entre arte africana e modernismo português «nos escritos de Diogo de Macedo e de António Pedro e na revista Mundo Português», acrescentando: «Além disso, há naturalmente as máscaras de Santa Rita e de Amadeu de Sousa Cardoso.» (Ibid.)

José Sommer Ribeiro terá manifestado interesse em apresentar as máscaras (cabeças) de Amadeo de Souza-Cardoso e de Santa-Rita, mas desaprovaria a sugestão do antropólogo Benjamim Pereira de incluir uma obra de Eduardo Viana. De igual modo, a sugestão de José-Augusto França de se organizar uma exposição de artistas moçambicanos e angolanos centrada em Malangatana e Rui Teixeira seria declinada por Sommer Ribeiro. Perante isto, Madalena Perdigão decidiu regressar à sua ideia inicial de realizar uma exposição dedicada à arte africana, numa parceria com o Museu de Etnologia, selecionando peças provenientes da Guiné-Bissau, do Mali, da Costa do Marfim, da Nigéria, do Gana, do Gabão, de Angola e de Moçambique.

Perante esta decisão, Sommer Ribeiro considerou que a exposição de Arte Africana não deveria ser realizada no Centro de Arte Moderna (CAM), mas na Galeria de Exposições Temporárias da Sede, por não ter qualquer relação com a arte europeia que se realizava na altura. Porém, Madalena Perdigão defenderia que a exposição devia realizar-se no CAM «pela estreita relação existente com o Modernismo Europeu, mesmo que esta relação não seja evidenciada no contexto da Exposição» (Nota interna de Madalena Perdigão para José Sommer Ribeiro, 16 mai. 1985, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00347). A exposição acabaria por se realizar na Sala de Exposições Temporárias do CAM.

No catálogo da exposição, tanto Madalena Perdigão como Sommer Ribeiro justificam o abandono do tema inicial de contemplar o Modernismo. Sommer Ribeiro refere mesmo que seria «prematuro apresentar obras de artistas portugueses antes de o Departamento de Documentação e Pesquisa fazer um estudo aprofundado sobre tal matéria» (Escultura Africana, 1985, p. 7).

O trabalho de conceção desta exposição foi repartido entre o CAM e o Museu de Etnologia do Instituto de Investigação Científica Tropical, assumindo este último a preparação do programa, a escolha de peças, a pesquisa e a organização do catálogo. Ao CAM coube imprimir o catálogo e o cartaz, e realizar a montagem da exposição.

A exposição bibliográfica foi organizada pelo ACARTE e contou com a colaboração do codiretor do Instituto de Estudos Africanos da Faculdade de Letras de Lisboa, Manuel Ferreira, que cedeu a maior parte do material exposto (sobretudo livros). Numa primeira fase, foi pensada uma parceria com o CAM, mas esta não chegou a acontecer. A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa patrocinou a exposição. Terá sido ainda projetada uma exposição de Tecelagem e Panaria, que não se concretizou.

Ana Lúcia Luz, 2017