A Ilha de Moçambique em Perigo de Desaparecimento

Dedicada à Ilha de Moçambique e comissariada pelo arquiteto Viana de Lima (1913-1991), esta mostra pretendeu enaltecer a história e cultura da ilha, testemunhar o seu valor patrimonial e obter o apoio da comunidade internacional para uma classificação do complexo como monumento de interesse universal.
Exhibition honouring the historic and cultural heritage of the Island of Mozambique. Curated by architect Viana de Lima (1913-1991), the show aimed to cultivate support from the international community at the time of the Island's bid for classification as a world heritage site.

A inauguração da exposição «Ilha de Moçambique» realizou-se no dia 25 de agosto de 1983, na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), e contou com a presença do presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes.

Esta exposição, de itinerância internacional, visou corresponder aos seguintes objetivos:

«1. Tornar internacionalmente conhecida a importância histórica, cultural e ambiental de um lugar único, resultado e herança de contributos seculares da natureza, povos e raças, costumes, artes e religiões, batalhas, vitórias e derrotas e interligações civilizacionais.

2. Para testemunhar o alto valor do património actual através de propostas, dinâmicas de intervenção a fim de proteger e revitalizar aspectos históricos, arquitectónicos e sociais, tendo em consideração as virtualidades e o interesse que encerra tanto a nível nacional como internacional.

3. Para obter o apoio da comunidade internacional para uma classificação do complexo como monumento de interesse universal, e garantir o apoio financeiro para a continuação dos estudos e projectos detalhados das propostas e principalmente para que se venham a tomar medidas a fim de salvar a ilha de Moçambique.» (Ilha de Moçambique, 1983)

A exposição foi comissariada pelo arquiteto Viana de Lima e a sua montagem foi assegurada pelo Serviço de Exposições e Museografia, sob a orientação de José Sommer Ribeiro. A exposição ocupou uma área de 200 m2 e foi constituída por 113 painéis móveis, que abrigavam texto, fotografia e mapas. O objetivo da montagem, desde o primeiro momento, foi facilitar a itinerância da mostra, tendo os painéis sido projetados de modo a serem muito leves e resistentes.

Para a realização do diaporama que fez parte integrante da exposição, foram utilizados diapositivos de Armando Alves e da Associação Amigos da Ilha de Moçambique, sendo o trabalho de montagem de Luís Ferreira Alves. O arranjo musical foi da responsabilidade de João Manuel Borges de Azevedo e de Lurdes Simões de Carvalho, com excertos de música moçambicana.

Pretendeu-se ainda que a exposição constituísse um acontecimento relevante e de certo modo complementar à «XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura: Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento», que se realizava em Lisboa quase simultaneamente.

Na documentação consultada, há registos que indicam que a exposição viajou por Lisboa, em agosto de 1983; Macau, em junho de 1985; Roma, em março de 1987; Veneza, em abril de 1987; Sevilha, em junho de 1992. Os documentos que certificam esta itinerância estão assinados por Maria Lídia Braga da Cruz, mas não referem locais concretos.

Esta exposição tinha o objetivo explícito de contribuir para a urgente operação de salvamento e revitalização da ilha de Moçambique, propondo-se lutar contra o processo de decadência que estava a atingir todo o complexo arquitetónico e ambiental, bem como chamar a atenção da UNESCO para a necessidade de declarar oficialmente a ilha como «Património Mundial», classificação que lhe viria a ser atribuída em 1991.

Neste sentido, o primeiro momento na organização da mostra consistiu na deslocação, em 1981, do arquiteto Viana de Lima a Moçambique, o qual teve por missão efetuar um estudo in loco da situação da ilha. À compilação de todos os dados reunidos somaram-se mapas antigos do desenvolvimento de Moçambique através dos tempos e outros documentos relevantes (escritos e fotográficos) da ilha, que diziam respeito à sua história, arquitetura e cultura, remontando alguns a 1498, ano em que o navegador português Vasco da Gama ali atracara, no decurso da sua primeira viagem à Índia.

O relatório resultante destes levantamentos, ao invés de ser publicado, acabaria por dar azo a uma exposição sobre a ilha e à publicação do respetivo catálogo. Complementarmente a esta informação (Informação n.º 7/83, 28 mar. 1983, Arquivos Gulbenkian), a documentação atesta que «a exposição, cujo guião e maquetagem lograram o parecer muito favorável do Serviço de Exposições e Museografia», seria «organizada sob a orientação do Prof. Arquitecto Viana de Lima», tendo um «carácter sobretudo iconográfico, e interessará igualmente os governos de Moçambique e de Portugal, por intermédio dos respectivos Ministérios da Cultura».

Na exposição de Lisboa, além das fotografias de Viana de Lima e do conjunto cartográfico da ilha, figuraram três esculturas de homem (duas maconde e uma macua), duas esculturas de mulher (maconde e macua), duas esculturas de guerreiro do sul de Moçambique (tsonga), uma máscara nhau (cheua), um cinto em filigrana de prata, uma pulseira em filigrana de prata e uma pulseira em fio de prata torcido.

As peças de escultura foram emprestadas pelo Museu de História Natural da cidade de Maputo; não se conseguiu apurar se foram mostradas nas exposições seguintes.

Em carta assinada por Eduardo Marçal Grilo, de 28 de setembro de 1990, alude-se à oferta desta exposição ao Governo de Moçambique para exposição permanente em Maputo, «a fim de esta poder constituir elemento para a obtenção de apoios para o programa de acção que se pretende desenvolver, com vista à recuperação deste património». Com esta carta, consegue perceber-se que um dos objetivos da exposição de 1983 não foi alcançado e que era intenção, em 1990, reativar o processo da classificação da ilha como Património Mundial.

Há documentação de arquivo indicando a realização de um vídeo, pela Radiotelevisão Portuguesa (RTP) para o programa «Grande Reportagem», sobre a ilha de Moçambique e a sua exposição, informação datada de 27 de junho de 1983. Todavia, não foi possível localizar este vídeo. A documentação consultada refere igualmente a autorização concedida à RTP para a filmagem da exposição sobre a ilha de Moçambique destinada ao programa «África 80: Cadernos de Reportagem», em carta assinada por Victor Sá Machado dirigida a Hélder Freire, datada de 14 setembro 1983.

A exposição recebeu 24 270 visitas, registadas entre 25 de agosto de 1983 e 9 de outubro de 1983. O grande número de fotografias a cores dos painéis que a compunham foi feito a pedido de Viana de Lima, com a intenção de repetir a montagem nos países onde esta iria ser apresentada.

A mostra estaria pensada para ser apresentada em Sófia, na Bulgária, onde integraria as manifestações culturais da 23.ª sessão da UNESCO, mas, de acordo com a documentação consultada, tal não chegou a acontecer, por falta de preparação atempada.

O encerramento da exposição contou com a presença do presidente de Moçambique, Samora Machel, que seria posteriormente conduzido pelos jardins da Fundação até ao Centro de Arte Moderna, onde foi homenageado numa receção que reuniu um grupo de intelectuais portugueses.

Quanto à receção da exposição nos media nacionais, apesar de só existir um recorte de imprensa na documentação consultada, encontrou-se uma nota crítica na Colóquio/Artes, assinada por Fernando de Azevedo, na qual o autor elogiava a iniciativa, afirmando: «A qualidade informativa da exposição e do seu excelente catálogo (em ambos a colaboração de Armando Alves é de assinalar) é surpreendente, na escolha aturada da documentação, alguma inédita, cartas geográficas e desenhos antigos, peças de museu e fotos.» (Azevedo, Colóquio/Artes, n.º 59, dez. 1983)

No único recorte de imprensa encontrado, a atenção também vai para a publicação do catálogo, que, segundo o artigo, os organizadores pretendiam que fosse «“uma autêntica obra de arte”, com versões em português, francês e inglês, e a reprodução completa de todo o material exposto».

É ainda de referir o livro de fotografia de Moira Forjaz dedicado à ilha de Moçambique, com textos de Amélia Muge, que converge com esta exposição no sentido em que ambos partilham do mesmo objetivo: levar a imagem da ilha a vários pontos do mundo. A Fundação Calouste Gulbenkian apoiou esta publicação, adquirindo 500 exemplares em benefício da Associação Amigos da Ilha.

Carolina Gouveia Matias, 2017


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita oficial

[A Ilha de Moçambique em Perigo de Desaparecimento]

10 out 1983
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Painel expositivo
Visita oficial. presidente de Moçambique, Samora Machel (ao centro) e José Azeredo Perdigão (à dir.)
Visita oficial. presidente de Moçambique, Samora Machel (à esq.) e José Azeredo Perdigão (à dir.)
Visita oficial. presidente de Moçambique, Samora Machel (ao centro)
Visita oficial. José Azeredo Perdigão (ao centro) e o presidente de Moçambique, Samora Machel (à dir,)
Visita oficial. presidente de Moçambique, Samora Machel (à esq.), Graça Machel (ao centro) e José Azeredo Perdigão (à dir.)
Visita oficial. Graça Machel (à esq), José Azeredo Perdigão (à esq.),presidente de Moçambique, Samora Machel (ao centro) e o presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes (à dir.)
Visita oficial. José Blanco (à esq.) e o presidente de Moçambique, Samora Machel (à dir.)
António Ramalho Eanes e José de Azeredo Perdigão (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço para a Cooperação com os Novos Estado Africanos), Lisboa / COOP 03212

Pasta com documentação referente ao apoio na aquisição de 500 exemplares do livro «A Ilha de Moçambique em Perigo de Desaparecimento», com fotografia de Moira Forjaz e texto de Amélia Muge. 1982 – 1986

Arquivos Gulbenkian (Serviço para a Cooperação com os Novos Estado Africanos), Lisboa / COOP 04105

Pasta com relatórios da missão à ilha de Moçambique – 1981: análise e sugestões para a sua reabilitação e outros relatórios de pesquisa, e uma lista elaborada pela Dr.ª Maria Lídia Braga da Cruz, diretora-adjunta do Serviço de Cooperação com o Novos Estados Africanos, sobre a documentação existente no serviço relacionada com a exposição. 1983 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço para a Cooperação com os Novos Estado Africanos), Lisboa / COOP 05049

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, protocolos, informações e orçamentos. 1981 – 1993

Arquivos Gulbenkian (Serviço para a Cooperação com os Novos Estado Africanos), Lisboa / COOP 03283

Pasta com documentação referente à itinerância da exposição a Sófia, Bulgária. Contém correspondência interna e externa e orçamentos. 1984 – 1985

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00280

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, convite, protocolos, orçamentos e material para o catálogo em inglês. 1983 – 1985

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0128-D00396

5 provas, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1983

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0128-D00397

25 provas, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1983

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0128-D00399

31 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1983

Arquivos Gulbenkian (Serviço para a Cooperação com os Novos Estado Africanos), Lisboa / COOP 04107

208 provas, p.b., cor: aspetos, peças e visita do Presidente Samora Machel (FCG, Lisboa) 1983 – 1997


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.