Exposição individual da pintora portuguesa Bertina Lopes (1924-2012), natural de Lourenço Marques (hoje Maputo), cidade onde viveu e estudou até ao segundo ano do ensino secundário, vindo a prosseguir os seus estudos em Lisboa, primeiro na Escola de Artes Decorativas António Arroio e, posteriormente, na Escola Superior de Belas-Artes.

Regressada a Lourenço Marques em 1953, onde residiu durante nove anos, recebe em 1962 a primeira bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), que lhe permitiu estudar cerâmica em Lisboa com o artista português Querubim Lapa (1925-2016). Dois anos depois, em 1964, com nova bolsa da Fundação, parte para Roma para dar continuidade à sua formação artística, aí fixando a sua residência profissional.

Nesta exposição, Bertina expõe maioritariamente pintura, reunindo um conjunto de 65 óleos, datados de 1963 a 1993, a par de um pequeno grupo de 10 bronzes, todos datados de 1979.

O Centro de Arte Moderna da FCG inclui no seu acervo duas obras de Bertina Lopes (Invs. P1401 e 81P1400), adquiridas em 1974 e 1981, respetivamente, e duas cerâmicas (Invs. CE12 e CE13), incorporadas na Coleção por doação da artista, após a conclusão da bolsa atribuída pelo Serviço de Belas-Artes da FCG, durante a qual estagiou com o mestre Querubim Lapa.

A presente mostra, coordenada por José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna da FCG, apresenta a obra desta artista de origem africana, cuja formação académica na Europa influencia representações de novas linguagens plásticas, recriadas em composições reveladoras desse encontro civilizacional.

Num circuito expositivo que percorre cronologicamente a obra da artista, o visitante é desafiado a experienciar visualmente momentos em que a figuração e a intensidade cromática de influência africana se revelam na estruturação plástica das composições, e outros em que a desconstrução geométrica e abstratizante se sobrepõe à figuração dramática e intensa do anterior conjunto de obras.

A este propósito escreve Victor Sá Machado, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, que na obra de Bertina se revela a «África inocente e doce dos anos descuidados, e a África dolorida e amarga dos tempos de cólera […], sentida certamente pela sua sensibilidade africana, mas testemunhada com a medida e o rigor próprios à racionalidade europeia que é, do mesmo modo, componente essencial da cultura de Bertina Lopes» (Machado, Bertina Lopes. Expressão Artística entre Duas Civilizações, 1993).

No dia da inauguração, em 26 de abril de 1993 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede (piso 01), estiveram presentes Carlo Savini, presidente da Unione Europea Critici d'Arte, Simonetta Lux, professora de História de Arte na Universidade de Tuscia, ambos convidados pela FCG, o presidente da República Mário Soares e alguns membros da administração da FCG, como Victor Sá Machado e José Blanco.

A exposição realizada na Fundação Calouste Gulbenkian foi organizada na sequência da atribuição a Bertina Lopes, em 1991, do Prémio Rachel Carson, promovido pela «Rachel Carson Memorial Foundation», sediada em Nova Iorque.

Isabel Falcão, 2019