Exposição dedicada ao poeta Saint-John Perse, pseudónimo do diplomata francês Alexis Leger (1887-1975), fruto do convite que os Serviços Culturais da Embaixada de França em Portugal dirigiram à Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) em outubro de 1983. A mostra esteve patente no Centro de Arte Moderna (CAM) e conjugou a vertente documental e as artes plásticas, dando a ver obras encomendadas para a ocasião, inspiradas no poema Amers, da autoria do poeta homenageado.

O escritor e professor André Siganos foi o grande entusiasta e responsável pela apresentação da exposição no CAM, juntamente com Pauline Berthail (dos EUA), responsável pela montagem da secção documental. José Sommer Ribeiro participou na conceção da exposição de artes plásticas.

A parte documental da exposição, que teve o contributo preparatório da Fundação Saint-John Perse, de Aix-en-Provence, desenvolveu-se sob o título «Saint-John Perse: Bio-bliografia, 1887-1975», traçando uma linha temática baseada no percurso biográfico do poeta: «Infância, adolescência, elogios»; «China, Mongólia, Anabase»; «Alexis Leger. Aristide Briand»; «Estados Unidos da América, exílio, etc.»; «Últimos poemas»; «Celebração do mundo»; «Esplendor de Saint-John Perse». Entre os vários documentos expostos, encontravam-se três livros dedicados a Calouste Sarkis Gulbenkian e ainda alguma correspondência trocada entre ambos, revelando os laços de amizade que ligavam os dois homens.

Para a secção de artes plásticas, André Siganos e José Sommer Ribeiro convidaram cinco artistas portugueses a produzir obras originais inspiradas em Amers, poema-livro da autoria de Saint-John Perse. Correspondendo à proposta da Embaixada de França, os convites seriam dirigidos aos pintores Jorge Martins e António Sena, aos fotógrafos Jorge Molder e Lucien Clergue e ao escultor Pedro Ramos. Contudo, a Embaixada, considerando os elevados custos do transporte, embalagem e seguro das obras para a exposição, negar-se-ia a suportar os encargos inerentes ao trabalho dos artistas. Perante as queixas destes, Sommer Ribeiro viria a propor que fosse a Fundação Calouste Gulbenkian a assumir os encargos com a aquisição das obras, alegando a conveniência de se «manter as boas relações que sempre tem havido com a Embaixada de França», sugerindo ainda a possibilidade de se «constituir uma exposição itinerante de modo a poder fazer-se a difusão dos seus nomes pelo estrangeiro» (Apontamento de José Sommer Ribeiro para José de Azeredo Perdigão, 2 mar. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00082). Esta proposta seria aprovada internamente, após uma apreciação prévia positiva de Fernando de Azevedo, André Siganos e Gill Germain, e os artistas aceitariam uma redução do preço das obras.

Esta exposição teve itinerância em Washington D.C., no Anderson House Museum, entre dezembro de 1984 e janeiro de 1985. A sua realização foi aprovada na reunião do Conselho de Administração, servindo o propósito e a justificação de «apresentar em Washington […] obras de arte de artistas portugueses e também pela circunstância de o Senhor Calouste Gulbenkian ter sido amigo pessoal do homenageado» (Ata do Conselho de Administração FCG, 6 nov. 1984, Arquivos Gulbenkian, PRES 02384).

A FCG comprometeu-se a assumir os encargos financeiros da publicação do catálogo da exposição em Washington D.C. (que deveria incluir o texto original de Robert Gulbenkian proferido na conferência realizada no CAM) e o transporte e seguro das obras, as quais deveriam ser escolhidas pela FCG, não incluiriam qualquer escultura e seriam objeto de uma representação fotográfica parcimoniosa. Uma última condição acordada consistia em designar André Siganos como comissário da exposição.

O CAM viria ainda a ceder três livros do escritor para a exposição e ofereceria os painéis utilizados na exposição de Saint-John Perse em Lisboa. Os trabalhos apresentados pelos artistas portugueses compreenderam 27 desenhos de Jorge Martins, 24 fotografias de Jorge Molder e 12 guaches de António Sena, aos quais se juntou um poème-tableau, da autoria de André Siganos, e uma escultura do artista Pedro Ramos, inicialmente considerada muito difícil de instalar.

Numa carta dirigida a André Rousseau, diretor da Fundação Saint-John Perse, José Sommer Ribeiro refere que, apesar de terem existido algumas dificuldades técnicas, a exposição foi bem recebida pelo público português, ficando mesmo apalavrada uma próxima exposição documental para o mês de março de 1985 na Universidade de Santa Bárbara, Califórnia. Além disso, pretendia-se aproveitar o impulso para levar a exposição ao Centre Culturel Portugais, em Paris, nesse ano de 1984, antecipando-se, assim, a exposição que se preparava para o Beaubourg, em 1987.

Numa outra carta dirigida a Sommer Ribeiro, André Siganos informa que o Centro Cultural Português de Pittsburg gostaria de receber a exposição no verão de 1984, e a Universidade de Los Angeles em março do mesmo ano. No entanto, em nenhuma das exposições seria possível apresentar a documentação pertencente à Fundação Saint-John Perse, circunstância que André Siganos desvalorizaria, atendendo à qualidade das obras de arte. As duas exposições propostas não seriam, todavia, autorizadas por Roberto Gulbenkian, considerando que a relação entre Calouste Gulbenkian e Saint-John Perse ficaria omissa e, como tal, desconhecida. Sommer Ribeiro concordaria com esta posição.

A exposição em Washington seria a última a integrar a documentação da Fundação Saint-John Perse até 1987, ano das comemorações do centenário do nascimento do poeta. No relatório final apresentado por André Siganos, este aponta alguns problemas de organização, a evitar no futuro. Assinala ainda boas receções na imprensa, destacando os artigos de divulgação publicados nos jornais Washington Post e The Uptown Citizen, bem como a comunicação de imprensa que envolveu, no dia 28 de dezembro, quinze jornalistas e duas rádios culturais. Referiu ainda que no dia da inauguração da exposição estiveram presentes cerca de cem pessoas.

Os livros emprestados por Robert Gulbenkian foram devolvidos com problemas. Na carta de 21 de maio de 1985, enviada a Sommer Ribeiro por Robert Gulbenkian, este manifestava o seu descontentamento com o «pouco cuidado tomado com as obras do património da Fundação» – um dos livros achava-se em mau estado de conservação e desaparecera uma pequena flor que acompanhava um outro exemplar.

Ana Lúcia Luz, 2017