A retrospetiva de Aureliano Lima na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em 1988, surge de uma exposição homónima, realizada em 1986 na Casa-Museu Teixeira Lopes – Galerias Diogo de Macedo (CMTL-GDM), Vila Nova de Gaia. Todo o projeto partiu da iniciativa da Cooperativa Cultural de Artistas de Gaia (CCAG), em articulação com a Associação de Escritores de Gaia e com a Câmara Municipal dessa cidade, nomeadamente através da referida Casa-Museu e da Biblioteca Pública Municipal.

O contacto com a FCG foi estabelecido ainda na fase de produção dessa primeira mostra de Gaia. A 11 de março de 1986, Teresa Lapa, então conservadora da CMTL-GDM e membro da direção da CCAG, endereça uma carta a José Sommer Ribeiro expondo o projeto expositivo e aferindo do interesse da Fundação em apoiá-lo (Carta de Teresa Lapa para José Sommer Ribeiro, 11 mar. 1986, Arquivos Gulbenkian, SEM 00379).

O então diretor do Centro de Arte Moderna da FCG responderia afirmativamente a 15 de abril do mesmo ano, remetendo para o Serviço de Belas-Artes da FCG o pedido de financiamento das edições de convites, cartazes e catálogos a produzir para a iniciativa (Carta de José Sommer Ribeiro para Teresa Lapa, 15 abr. 1986, Arquivos Gulbenkian, SEM 00379). O Serviço de Belas-Artes acabaria por recusar a proposta, mas a Fundação levaria a cabo as diligências para trazer a mostra a Lisboa, em 1988.

A ideia de uma itinerância chega-nos já na documentação de 1987. Numa carta com o timbre da CCAG, Teresa Lapa averigua com Sommer Ribeiro possíveis datas de apresentação da mostra no Centro de Arte Moderna (CAM). Mais informa Lapa, que haveria já um «compromisso assumido com o Movimento Artístico de Coimbra e a Câmara Municipal daquela cidade, para a 2.ª quinzena de Maio» (Carta de Teresa Lapa para José Sommer Ribeiro, 19 fev. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00379).

Em junho desse mesmo ano, Teresa Lapa remeteria um ofício da CMTL, desta feita a Maria Gilda Silva (secretariado do Serviço de Exposições e Museografia da FCG), com a «relação de todas as obras [que foram recolhidas pela FCG] […] no Chiado – Coimbra e ficaram no Centro [de Arte Moderna] aguardando oportunidade para uma exposição temporária» (Ofício de Teresa Lapa para Maria Gilda Silva, 5 jun. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00379). Transparece assim que, antes de Lisboa, a exposição terá sido de facto apresentada em Coimbra, provavelmente no Edifício Chiado, onde se situa atualmente um dos polos do Museu Municipal daquela cidade.

Na FCG, «Aureliano Lima. Exposição Retrospectiva da Obra Artística e Literária» inauguraria finalmente a 25 de fevereiro de 1988, não no CAM, como se chegou a prever, mas na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01). Estima-se que terão chegado de Coimbra 55 esculturas, 2 maquetes para monumentos, 24 pinturas, 1 colagem e 3 desenhos (Ibid.).

A esse acervo juntar-se-iam as duas esculturas em ferro recuperado (processo artístico em que o autor se distinguiu) já então incorporadas, em 1982, na coleção do CAM (atual Coleção Moderna) (Inv. 82E904 e Inv. 82E903).

Da remessa de Coimbra constariam ainda «4 acetados e respectivos suportes» (Ibid.) para a parte mais infográfica da mostra, bem como um Retrato de Aureliano Lima, «um óleo da autoria de Pinho Dinis». Por sua vez, a CMTL-GDM enviaria diretamente «350 catálogos; 37 livros, catálogos e colaborações; 12 medalhas comemorativas e 2 esculturas».

Em Lisboa, foi mantido o catálogo publicado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia aquando da primeira apresentação da mostra, em 1986. A FCG imprimiria apenas uma sobrecapa com a data e o local atualizados e com uma apresentação de José Sommer Ribeiro na badana.

A escultura S/título em ferro policromado, com o número 70 na lista de obras, seria doada à FCG no seguimento da exposição, figurando atualmente na Coleção Moderna (Inv. 88E913).

A Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia cederia ainda 100 exemplares do livro Aureliano: A Arte do Silêncio, para venda durante a exposição na FCG. Da autoria de Serafim Ferreira, o volume, editado por essa biblioteca em 1985, incluiria resultados de investigação no Arquivo do Serviço de Belas-Artes da FCG, onde Serafim Ferreira se deslocou em 1981. Data desse ano uma carta do próprio Aureliano Lima solicitando o acesso de Serafim Ferreira à documentação referente à bolsa de estudo da FCG de que o escultor tinha beneficiado em Paris, entre 1964 e 1968. Remonta a esse período o vínculo entre o artista e a FCG, que seria pautado por episódios mais atribulados, concomitantes com o Maio de 1968 e a ocupação da Maison des Étudiants Portugais (Arquivos Gulbenkian, SBA 01215).

Uma nota manuscrita dos serviços técnicos da FCG indica que, dessa edição de Serafim Ferreira, foram vendidos 17 exemplares durante a exposição de Lisboa. Segundo o mesmo memorando, a mostra da Gulbenkian terá contado com um total de 3675 visitantes nos 16 dias em que esteve patente, apontando para uma afluência de público muito satisfatória à época (Memorando manuscrito, 1988, Arquivos Gulbenkian, SEM 00379).

Nos escassos ecos da imprensa a que a nossa investigação teve acesso destaca-se a breve resenha no Diário de Notícias de 28 de fevereiro de 1988. Mencionem-se também os anúncios feitos por esse periódico e pelo Correio da Manhã nas edições de 25 de fevereiro de 1988 (o mesmo dia em que a inauguração teve lugar), que assim se juntaram ao Expresso, que antecipara a mostra na edição de dia 20 desse mês. A exposição teve também uma insistente publicitação no Diário de Lisboa.

Daniel Peres, 2018