Exposição de pintura portuguesa contemporânea, organizada em Moscovo pelo Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), por ocasião da visita oficial do presidente da República Mário Soares à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em novembro de 1987.

No seguimento de visitas institucionais recíprocas, realizadas no ano anterior, seria assinado, a 23 de junho de 1987, um acordo entre o Ministério da Cultura da URSS e a FCG, destinado discutir a futura cooperação entre as duas instituições. Nesse contexto, traçaram-se as iniciativas de âmbito artístico a promover nos anos seguintes, ficando definido que este intercâmbio se concretizaria numa exposição de «Obras-Primas da Pintura Russa do Século XVIII ao Século XX», a realizar na Galeria de Exposições Temporárias (piso 0) do Edifício Sede da FCG, e, subsequentemente, numa mostra de arte portuguesa, a ocorrer num museu da URSS (Acordo entre o Ministério da Cultura da URSS e a FCG, 23 jun. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00364).

Inicialmente, o adido cultural da Embaixada de Moscovo em Portugal propôs à FCG que a exposição de arte portuguesa a apresentar na União Soviética correspondesse a um conjunto de 31 obras da Coleção do Fundador. Porém, o pedido seria indeferido após análise pelo Conselho de Administração da FCG, respeitando a política de circulação de obras de arte do acervo do Museu Calouste Gulbenkian e tendo em conta o elevado número de obras que estava em causa (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 18 set. 1987, Arquivos Gulbenkian, CAM 00149).

Em alternativa, a FCG sugeriu a apresentação de uma exposição de arte portuguesa contemporânea com base no acervo do CAM e comissariada pelo seu diretor, José Sommer Ribeiro, com a colaboração do artista Fernando Calhau, em representação da Secretaria de Estado da Cultura.

Uma vez que a programação desta iniciativa decorreu em simultâneo com a organização da visita oficial do presidente da República à União Soviética, também o presidente insistiu junto dos organizadores na oportunidade da apresentação de uma exposição de arte portuguesa contemporânea. Os parceiros internacionais acabaram por concordar com esta proposta, reservando para o efeito as galerias do Museu Pushkin (Ibid.).

A mostra, que contou com uma seleção de 31 obras de 31 artistas portugueses, representativas da produção artística portuguesa entre 1910 e 1987, não pretendia, segundo Sommer Ribeiro, «ser mais do que uma síntese do trajecto dos pintores portugueses ao longo destas décadas» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 18 nov. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00581). O projeto obedeceu «a uma cronologia, mas também a afinidades de movimentos artísticos» (Ofício enviado por José Sommer Ribeiro ao embaixador de Portugal na URSS, 18 nov. 1987, Arquivos Gulbenkian, CAM 00149), dos quais se destacavam trabalhos de «artistas da primeira geração modernista até aos nossos dias, passando pela paisagem, expressionismo, surrealismo, alguma pintura abstrata e nova figuração» (Ibid.).

Filipa Coimbra, 2017