A exposição «Arte e Arquitetura entre Lisboa e Bagdade. A Fundação Calouste Gulbenkian no Iraque, 1957-1973» foi inaugurada no dia 25 de outubro de 2018 na Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian – à data denominada Galeria do Piso Inferior do Museu Calouste Gulbenkian – Coleção do Fundador – e esteve patente ao público entre 26 de outubro de 2018 e 28 de janeiro de 2019. A inauguração incluiu um cocktail no Átrio da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), que decorreu conjuntamente com a da exposição «Pose e Variações. Escultura em Paris no Tempo de Rodin», um procedimento semelhante ao adotado pela direção do Museu Calouste Gulbenkian (MCG) para a visita guiada destinada à comunicação social, organizada na véspera, dia 25 de outubro, pelas 11 horas. O pintor iraquiano Hashir Samarchi (1939), um dos artistas iraquianos a quem a Fundação Calouste Gulbenkian atribuíra uma bolsa para estudar em Lisboa na década de 1960, deslocou-se a Lisboa, a convite da FCG, para a cerimónia de inauguração.

«Arte e Arquitetura entre Lisboa e Bagdade» integrou o ciclo «Conversas», um projeto do programa museológico desenvolvido por Penelope Curtis, diretora do Museu Calouste Gulbenkian de 2015 a 2020, que pretendia acolher na Galeria do Piso Inferior do Museu Calouste Gulbenkian – Coleção do Fundador exposições de diálogo «entre diferentes períodos históricos, geografias, temáticas […], [um] pretexto para repensar a apresentação do núcleo da Coleção do Fundador, estabelecendo pontes entre os espaços do Museu e a Galeria junto à Biblioteca de Arte» (Memória descritiva, 2017, Arquivos Gulbenkian [cota brevemente disponível]).

Com curadoria de Patrícia Rosas, curadora do Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna, e de Ricardo Agarez, arquiteto e, à data, professor na Universidade de Évora, esta exposição resultou da parceria entre o Museu Calouste Gulbenkian e a Biblioteca de Arte e Arquivos Gulbenkian, com o apoio do Serviço de Bolsas da FCG.

O projeto curatorial, que pretendia revelar a história quase desconhecida da intervenção da Fundação Calouste Gulbenkian no Iraque entre 1957 e 1973, foi construído em torno da denominada Semana Cultural Gulbenkian, iniciativa promovida pela FCG na cidade de Bagdade entre 6 e 13 de novembro de 1966. Um dos exemplos paradigmáticos do «período em que [a Fundação] participou ativamente no estabelecimento da infraestrutura cultural, educativa, científica e assistencial do Iraque contemporâneo», utilizando para a sua concretização efetiva uma percentagem das receitas da exploração petrolífera no país (Relatório e Contas, FCG. 2018, 2019, p. 79).

As balizas cronológicas definidas para a investigação desenvolvida pelos curadores, e para a pesquisa documental associada, foram o ano de 1957 – data do início do projeto do Modern Arts Centre, galeria de exposições integrada no edifício do Museu Nacional de Arte Moderna do Iraque, oferecida à cidade de Bagdade pela FCG e inaugurada em 1962 – e o de 1973, ano que marca o momento de viragem na política económica do Iraque, com a nacionalização da exploração de petróleo no país.

A exposição reuniu mais de 220 itens, compreendendo obras da Coleção Moderna da FCG, entre as quais o núcleo de arte iraquiana, apresentado no seu todo pela primeira vez em Portugal, e por um vasto conjunto de documentos, grande parte dos quais inéditos, provenientes da Biblioteca de Arte e Arquivos Gulbenkian –nomeadamente, relatórios de obra, documentação interna, correspondência oficial, fotografias e recortes de imprensa – e relacionados com os projetos arquitetónicos realizados no Iraque com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, da autoria de Francisco Keil do Amaral (1910-1975), Carlos Ventura Ramos (1922-2012) e João Hipólito Vaz Raposo (1925-1974): em 1962, o Modern Arts Centre, destinado a edifício-sede da recém-criada Iraqi Artists Society e inaugurado com a exposição, organizada pela FCG, «Exhibition of Works of Contemporary Art Belonging to the Calouste Gulbenkian Foundation», na qual foi apresentado um conjunto de obras de artistas portugueses e internacionais recém-incorporado no acervo da FCG, e que constituem a génese da Coleção Moderna, e o Estádio Al-Sha'ab («do Povo»), inaugurado em 1966, com um jogo de futebol entre o Sport Lisboa e Benfica e a equipa da seleção iraquiana, e integrado nas iniciativas da Semana Cultural Gulbenkian (também, Semana Cultural em Bagdade).

O referido núcleo de obras da Coleção Moderna reunia, por um lado, os artistas iraquianos Dia Al-Azzawi (1939), Faiq Hassan (1914-1992), Hafidh al-Droubi (1914-1991), Hashim Samarchi (1939), Ismail al-Shaikhly (1924-2002), Khalid al-Jadir (1924-1990), Nazar Selim (1925-1982), Rafa Nasiri (1940-2013), Roman Artymowski (1919-1993), Saadi al-Kaabi (1937) e Salim Dabbagh (1941), com obras de pintura, desenho e gravura produzidas, na sua maioria, durante a década de 1960 e adquiridas pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1962, 1966 e 1967-1968, em datas relacionadas com a concretização de programas culturais específicos promovidos pela FCG na cidade de Bagdade (projetos arquitetónicos, exposições ou o programa de bolsas de estudo em Portugal, dirigidas a artistas iraquianos); por outro, uma seleção de artistas portugueses e estrangeiros, Ângelo de Sousa (1938-2011), Jan Voss (1936), José Escada (1934-1980), José Rodrigues (1936-2016), Júlio Pomar (1926-2018), Marcelino Vespeira (1925-2002) – autor do cartaz da Semana Cultural Gulbenkian –, Mary Martin (1907-1969), Michaela Rotsch (?-?), René Bertholo (1935-2005), Sebastião Rodrigues (1929-1997) – autor do cartaz da exposição «Tesouros do Museu de Bagdade», organizada em Lisboa em 1965 – e Waldemar da Costa (1904-1983), autores com obras apresentadas em 1966 na exposição «Exhibition of Works of Contemporary Art Belonging to the Calouste Gulbenkian Foundation».

No âmbito da exposição de 2018, foi organizada a conferência internacional «An Alternative Future», que reuniu um conjunto de arquitetos especialistas em intervenções em zonas de conflito, com enfoque no Médio Oriente. Uma iniciativa resultante da parceria da FCG com a plataforma europeia de investigação em arquitetura Future Architecture Platform 2015-2021, cofinanciada pela União Europeia através do Programa Europa Criativa. A iniciativa decorreu em Lisboa, nos dias 25 e 26 de outubro de 2018, e a conferência inaugural foi da responsabilidade do arquiteto libanês Mohamad Hafeda, com atividade também como artista, designer e escritor. O painel de participantes incluía ainda um vasto grupo de outros artistas e arquitetos, convidados pela organização do evento a refletir sobre os temas da exposição patente na Fundação Calouste Gulbenkian e «partilhar as suas investigações e o seu trabalho à luz de um pensamento interdisciplinar que responda aos desafios emergentes dos diálogos entre o Oriente e o Ocidente, com enfoque específico no Médio Oriente e o conflito que aí se vive» (Museu Calouste Gulbenkian. An Alternative Future, 2018).

A programação paralela incluiu ainda a realização de um conjunto de visitas guiadas à exposição (orientadas, umas, pelos curadores da exposição, Patrícia Rosas e Ricardo Agarez; outras, pelo mediador Carlos Carrilho), a conferência internacional intitulada «Repensar o Passado. Memória / Arquivo / Documento – Artes e Arquitetura», organizada nos dias 8 e 9 de novembro de 2018 e resultante da parceria entre o Museu Calouste Gulbenkian, o Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (CFUL/PRAXIS), o Centro de Investigação em Comunicação, Informação e Cultura Digital (CIC.Digital – NOVA FCSH) e o Instituto de História da Arte (IHA – NOVA FCSH). De entre os diversos participantes no evento, destaca-se a presença dos keynote speakers Andreas Huysen, investigador da Universidade de Columbia, e Ernst van Alphen, professor na Universidade de Leiden, que asseguraram as conferências inaugurais, e, nos dias 9 e 16 de janeiro de 2019, duas conferências sobre arte e arquitetura iraquiana: a primeira, assegurada pela historiadora de arte Nada Shabout, intitulada «The 1960s in Iraq. Art and Culture», e a segunda, «Arquitetura Iraquiana», pelo arquiteto Ihsan Fethi, professor na Universidade de Amã, na Jordânia.

A exposição recebeu uma atenção moderada dos meios de comunicação social. Destaque para os artigos de Mariana Pereira, «Lisboa e Bagdade “não eram assim tão diferentes”», com uma entrevista a Hashir Samarchi (Diário de Notícias, 27 out. 2018), e de Davide Pinheiro, «Quando o Benfica foi a Bagdade inaugurar a maior obra da Gulbenkian no mundo», no Jornal i (5 nov. 2018). A exposição e os eventos associados foram divulgados em muitas outras publicações nacionais de referência, como o Observador (30 jul. 2018), o Jornal de Negócios (26 out. 2018), o Diário de Notícias (25 e 27 out. 2018), o Expresso (5 jan. 2019), o Público (26 e 27 out. 2018), o Jornal Económico (14 set. 2018), o Jornal i (26 out. 2018), o Destak (23 out. 2018), o Mundo Português, jornal dirigido maioritariamente à comunidade emigrante (18 nov. e 14 dez. 2018), a revista Sábado (17 out. 2018), a Essential Lisboa (1 out. 2018) e nos canais digitais Artecapital (23 out. 2018; 8 jan. 2019), a C&H – Canela e Hortelã (6 nov. 2018), a Agenda Cultural de Lisboa (2 jan. 2019), o Sapo 24 (17 out. 2018), a Descla (17 nov. 2018), o Gerador (24 out. 2018), a Up (8 jan. 2019) e a RTP Notícias (17 out. 2018).

A mostra teve cobertura televisiva e radiofónica, maioritariamente integrada nos programas de divulgação dos eventos do Museu Calouste Gulbenkian, com referências na RTP, SIC, TVI e Porto Canal, e em alguns programas temáticos, entre os quais se destaca o magazine cultural As Horas Extraordinárias, da RTP3 (15 nov. 2018).

Isabel Falcão, 2022