Exposição individual da artista moçambicana Camila de Sousa (1985), integrada no ciclo «Arte Pública» organizado no âmbito do Programa «Próximo Futuro». Foi inaugurada no dia 22 de junho de 2012, no Jardim Gulbenkian.

O projeto, intitulado «3 × 4», partilhou o espaço exterior da Fundação Calouste Gulbenkian com uma outra intervenção artística, «Ocupações», do moçambicano Filipe Branquinho (1977). Ambas as iniciativas integravam a programação do «Próximo Futuro» para o ano de 2012, centrada na divulgação da cultura e vivências de Moçambique.

Em Lisboa, Camila de Sousa apresentou um conjunto de seis fotografias de grande formato (2,70 × 1,70 m), impressas em tela, dedicadas à representação do corpo feminino, captado num contexto muito particular – todas as retratadas são reclusas, e a artista, para o desenvolvimento do seu trabalho, frequentou durante um ano o quotidiano de duas prisões femininas de Moçambique, a Cadeia Civil e o Centro de Reclusão Feminino de Ndlhavela.

Cada uma das imagens, pela sua postura e expressividade, remete para a temática do corpo encarcerado e da habitabilidade dos cárceres, trazendo para o espaço público a discussão sobre as condições de vida das mulheres moçambicanas que se encontram a cumprir penas de prisão e interpelando, simultaneamente, a consciência do observador para a violência física e psicológica a que estas mulheres estão sujeitas durante o período de encarceramento. Nas palavras da artista: «Em Moçambique, o exercício e respeito dos direitos das mulheres que se encontram em regime prisional constituem um grande desafio.» (Próximo Futuro, 2012)

O título da exposição, «3 × 4», procurava também denunciar as precárias condições de vida nessas prisões femininas, uma vez que estas são as medidas de cada cela, partilhada por duas mulheres, nos estabelecimentos prisionais de Maputo. Além disso, a fotografia que as reclusas são obrigadas a fazer à chegada à prisão, para a sua identificação no sistema prisional, é também de 3 × 4 centímetros (Olhar indiscreto. Camila de Sousa [entrevista], 2015).

Entre as diversas críticas sobre a programação do ciclo «Arte Pública» do «Próximo Futuro» de 2012, destaca-se a opinião de Celso Martins, que entende que, apesar do interesse e pertinência da exposição, «o programa de intervenções no jardim é bem mais modesto do que na edição anterior, deixando igualmente a arte contemporânea em clara desvantagem em relação à diversidade exibida pelas restantes áreas do programa do Próximo Futuro deste ano» (Martins, Expresso, 14 jul. 2012). 

Depois da apresentação em Lisboa, esta intervenção artística foi integrada numa exposição de maiores dimensões, que reuniu nas ruas do Mindelo (Rua 5 de Julho e Praça D. Luís) um conjunto de 12 fotografias de Camila de Sousa e de Filipe Branquinho. A nova mostra, patente entre 6 e 12 de novembro de 2012 na cidade do Mindelo (Cabo Verde), resultava de uma parceria entre o Programa Gulbenkian «Próximo Futuro» e o Pólo do Mindelo do Instituto Camões/Centro Cultural Português, com o apoio do Programa Gulbenkian «Ajuda ao Desenvolvimento». A inauguração coincidiu com a organização naquela cidade do 9.º Encontro de Fundações da CPLP (Próximo Futuro [blogue], 2012).

Ana Lúcia Luz, 2020